sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Furacão, tornado, tufão e ciclones

Por Gabrielle Souza


  Hoje no descomplicando netuno falaremos sobre fenômenos assustadores, que tem recentemente causado sérios danos nos Estados Unidos. Falaremos de furacões, tornados, ciclones e tufões. Esses fenômenos climáticos naturais são todos originários dos deslocamento de massas de ar, o que chamamos popularmente de vento, e são ocasionados por mudanças fortes na pressão atmosférica. A única coisa que diferencia um furacão de um tufão e de um ciclone é o local onde ocorrem (veja a imagem abaixo).



    Antes de começarmos a diferenciar estes fenômenos, é importante saber que ciclone tropical é um termo genérico usado pelos meteorologistas para descrever um sistema organizado de rotação das nuvens e trovoadas originado sobre águas tropicais e subtropicais. Quando o ciclone tropical atinge mais de aproximadamente 119 km/h, ele é então classificado em furacão, tufão ou ciclone, dependendo da localização, conforme já mostrado acima.

     Existem fatores que podem influenciar e contribuir para a ocorrência destes fenômenos, como: a presença de massas de água quentes nos oceanos, o rápido resfriamento da atmosfera e uma camada próxima a troposfera (camada atmosférica mais próxima da superfície terrestre) relativamente úmida, por exemplo.

    O furacão, mais popular nas mídias recentemente, é caracterizado por fortes ventos com velocidades que podem atingir até 300 km/h, girando em sentido horário (hemisfério sul) e anti-horário (hemisfério norte). Possuem entre 400 a 650 km de diâmetro e ocorrem geralmente no Oceano Atlântico. Os furacões são formados, quando o ar quente e úmido (seta vermelha da figura abaixo) sobe e se condensa formando chuvas fortes, criando uma zona de baixa pressão próximo a superfície da água. O ar quente estando sob uma pressão relativamente maior que o ar frio (seta azul), movimenta-se em direção ao "espaço" ocupado pelo ar mais frio, de menor pressão, que suga o ar do ambiente quente, e também sobe. Esse fluxo promove a criação de nuvens e chuva (veja a imagem abaixo). O ar que contorna a zona de baixa pressão cria uma espiral de velocidades muito altas que podem acabar atingindo a superfície terrestre e oceânica. 




        No centro do furacão está a parte denominada de “olho da tempestade” ou “olho do furacão”, onde o céu é praticamente limpo, os ventos são baixos e não existe precipitação.

    O tornado, outro termo que comumente escutamos, é caracterizado pelos meteorologistas como o fenômeno de menor duração. Ocorre geralmente nas zonas temperadas do Hemisfério norte, sendo os mais intensos observados no centro-oeste dos Estados Unidos e Austrália. Quando tocam o solo produzem grandes redemoinhos de poeira que possuem até 10 km de diâmetro, atingindo cerca de 500 km/h, durando entre 10 e 30 minutos. Quando acontecem no mar, o interior da coluna “vazia” é preenchida com a água sugada, formando-se a tromba d’água.

     De acordo com alguns cientistas o aumento recente da ocorrência e intensidade dos furacões está relacionado com o aquecimento dos oceanos. Isso ocorre porque, segundo o professor Gabriel Vecchi de geociências da Universidade de Princeton, “Um oceano mais quente faz uma atmosfera mais quente, uma atmosfera mais quente pode conter mais umidade”, ou seja, os furacões irão armazenar mais água. Por conta dessa elevação na temperatura, para cada aumento de 1 grau Celsius, aumenta também 7% de água no ar, justificando o aumento da quantidade de água quando essas tempestades atingem o solo.

Para você fixar o assunto desse post nós elaboramos um Quiz.  Só clicar no link abaixo! Esperamos que goste ;) 



Referências

NOAA. What is the difference between a hurricane, a cyclone, and a typhoon?: The only difference between a hurricane, a cyclone, and a typhoon is the location where the storm occurs.. 2017. National Oceanic and atmospheric administration U.S department of commerce- NOAA. Disponível em: <https://oceanservice.noaa.gov/facts/cyclone.html>. Acesso em: 20 set. 2017.

INPE. Qual a diferença entre tornado, tufão e furacão? 2013. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- INPE. Disponível em: <http://www.inpe.br/noticias/namidia/img/clip26092013_11.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

FIOCRUZ. Os ventos. Fundação Oswaldo Cruz- Fiocruz. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/ventos.htm>. Acesso em: 20 set. 2017.

PAULO, Prefeitura de Santo André- São. Tornados, Furacões e Tufões. 2008. Disponível em: <http://www.santoandre.sp.gov.br/biblioteca/bv/hemdig_txt/080507001.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

THAN, Ker. Typhoon, Hurricane, Cyclone: What's the Difference?: Hurricanes, cyclones, and typhoons are all the same weather phenomenon.. 2013. National Geographic. Disponível em: <http://news.nationalgeographic.com/news/2013/09/130923-typhoon-hurricane-cyclone-primer-natural-disaster/>. Acesso em: 20 set. 2017.

BBC, British Broadcasting Corporation-. How hurricanes form. 2014. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/schools/gcsebitesize/geography/weather_climate/weather_human_activity_rev2.shtml>. Acesso em: 20 set. 2017.

WORLAND, Justin. The One Number That Shows Why Climate Change Is Making Hurricane Season Worse. 2017. Disponível em: <http://time.com/4931586/irma-hurricane-season-climate-change/>. Acesso em: 27 set. 2017.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O ar que você respira

Por Cláudia Namiki

No dia 03 de setembro, recebi uma linda mensagem me parabenizando pelo Dia do Biólogo, que dizia assim: “Biologia: muito obrigado por você NÃO fazer parte da minha vida”. Depois de perceber o NÃO, achei essa frase um verdadeiro paradoxo, já que bio significa vida, e o ser humano que escreveu essa mensagem devia estar “vivinho da silva”, utilizando o oxigênio produzido por outros seres vivos através da fotossíntese, para a manutenção de suas células enquanto pensava que não tinha nada de biologia em sua vida...



Ilustração: Joana Ho.

E se eu contasse que boa parte do oxigênio consumido por esse indivíduo foi produzido por microalgas e cianobactérias, organismos tão pequenos que a gente não consegue ver? Esses microrganismos formam o grupo que chamamos de fitoplâncton, que além de sustentar toda a teia trófica marinha, são responsáveis pela produção de aproximadamente 40% do oxigênio produzido anualmente no planeta (Falkowski, 1994). Assim, embora você não veja as microalgas e cianobactérias quando está em frente ao mar, saiba que elas podem afetar profundamente os ciclos de oxigênio e carbono na Terra tanto quanto as vistosas plantas terrestres.(veja aqui Por que alga não é planta, por que planta não é alga


Mas a importância dessas pequenas criaturas não para por aí:  a vida no planeta como ela é hoje não existiria sem as cianobactérias. Os geólogos descobriram que durante a primeira metade dos 4,6 bilhões de anos de existência da Terra quase não existia oxigênio livre em sua atmosfera. O oxigênio começou a se acumular na atmosfera terrestre a apenas 2,4 bilhões de anos, graças à fotossíntese realizada pelas antepassadas das cianobactérias atuais. As plantas terrestres só apareceram 2 bilhões de anos após os níveis de oxigênio na atmosfera começarem a subir (Falkowski, 2012).


Ou seja, todos os Homo sapiens sapiens, incluindo você, é claro, e todas as outras formas de vida dependentes de oxigênio devem, em grande parte, sua existência ao surgimento de uma única célula capaz de obter a energia do Sol para transformar a matéria inorgânica (carbono, água e outros nutrientes) em alimento.


Deste modo, não pense que Biologia não faz parte da tua vida só porque não foi o curso que você resolveu estudar! Ela está em tudo, inclusive no ar que você respira!


Para saber muito mais, assista ao vídeo na página

http://www.sciencemag.org/news/2017/03/meet-obscure-microbe-influences-climate-ocean-ecosystems-and-perhaps-even-evolution

Sugiro também que ouça a música do Spyro Gyro de Jorge Ben, para saber como as microalgas podem influenciar até a música popular brasileira. ;)





Post relacionado:


A fertilização dos oceanos e as mudanças climáticas 



Referências:


Paul G. Falkowski. The role of phytoplankton photosynthesis in global biogeochemical 
Cycles. Photosynthesis Research 39: 235-258. 1994.


Paul G. Falkowski. The power of plankton. Nature, 483: 17:20. 2012.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O que eu aprendi sobre saúde mental na pós-graduação

Por Carolina Maciel
Não é novidade existirem alunos reclamando sobre a pós-graduação. Os comentários são sempre os mesmos: “isso me deixa nervoso”, “não estou conseguindo fazer isso”, “não vou conseguir entregar a dissertação/tese no prazo”, além do clássico: “estou cansado(a)!”.
Depois de 4 anos exaustivos e uma média de 140 provas sobre diversos assuntos , como num passe de mágica eu finalmente repousaria no “paraíso da pós-graduação”, mesmo sem a advertência sobre as seis horas diárias de dedicação aos estudos para conseguir o tão sonhado lugar na universidade pública.
Os motivos para que alunos recém-formados procurem a pós-graduação são muitos: realização profissional, pessoal, pressão de terceiros, indecisão na carreira, oportunidade de renda, etc., e independente de qual seja o motivo, a maioria das pessoas procura fazer o seu melhor trabalho.
 Apresentando meu trabalho de mestrado na
conferência Latino-Americano SETAC.

A
ssim como eu, muitos sonham em se especializar na área que mais teve afinidade na graduação, vendo o mestrado (ou doutorado) como uma opção de aprofundar seu conhecimento. Até aí, nenhum problema em vista.

O problema começa na forma em que a pós-graduação é encarada pelos alunos, pesquisadores e universidades. A regra da pós-graduação é levar os alunos até o seu limite: sono atrasado para cumprir prazos apertados, relatórios, matérias de especialização, progresso na pesquisa, cobranças do orientador...
Cobranças, sono atrasado, estresse e vida social restrita: bons ingredientes, que misturados, dão uma boa porção de distúrbios psicológicos. Não foi diferente comigo. Eu sempre achava: “tenho que tomar cuidado, mas é LÓGICO que isso não vai acontecer porque estou no controle”.
Ilustração: Caia Colla
Num dia ensolarado, trocava a praia pelo computador para começar a analisar meus resultados, quando, de repente, um clarão invadiu meus olhos, esqueci completamente meu nome, os comandos do programa que utilizava de olho fechado, o que eu estava fazendo de frente para o computador... E então eu senti um vazio extremo, como se todo o esforço e conhecimento tivessem desaparecido. Me vi no fundo do poço.
Hoje sei que o que tive foi apenas uma das muitas crises de ansiedade causadas pela pós-graduação, o que me levaram a procurar ajuda psicológica externa. A pós-graduação tinha se tornado um peso para mim e que se eu continuasse a carregá-lo, iria entrar em depressão. Com essas palavras, eu resolvi parar.
A pós-graduação nunca me ensinou a parar, e sim a continuar exaustivamente até conseguir minha melhor performance na pesquisa. Mas o que não te ensinam é que o cansaço estraga tudo e pausas (como férias) são extremamente importantes para a produtividade e manutenção da saúde mental.
As pausas dentro da pós-graduação não são bem vistas. Já que a gente “só estuda”, por que tirar férias? Pois é, se consultar o site do CNPq (principal órgão brasileiro financiador de pesquisas), não existe férias para alunos de pós-graduação. A dedicação deve ser exclusiva.
Nesse processo de adoecimento pela pesquisa, passei por crises de choro, inseguranças sobre o que estava fazendo no laboratório, ilusão de perseguição pelos meus amigos de trabalho, sentimento de que não era boa o bastante e o mais extremo de todos: o sentimento de que se eu tirasse a própria vida, o sofrimento de me sentir inferior na pesquisa, pararia.
E essa não é uma realidade distante. Há alguns dias infelizmente perdemos um aluno de pós-graduação do Instituto Biociências da Universidade de São Paulo, vítima de distúrbios psicológicos relacionados à pós-graduação.
A universidade e a ciência no país são completamente ingratas. E desde o dia em que eu não via mais sentido em viver, ressignifiquei tudo na minha vida. O que incluiu a minha relação com a pós-graduação.
Reclamamos dos nossos orientadores, mas eles também são cobrados tanto quanto nós, criados nesse sistema onde o seu sobrenome e ano de publicação valem mais e são treinados dentro das universidades para explorar o potencial de cada aluno.
A universidade não está pronta para considerar a questão mental nos programas de pós-graduação. Não nos sentimos acolhidos, e sim num campo de batalha: “aos vencedores, os artigos científicos!”. Sustentar a própria pesquisa no ambiente hostil das universidades torna os alunos e pesquisadores exaustos, aumentando as chances de desenvolver distúrbios psicológicos sérios como a depressão.
A insegurança sobre o financiamento de nossas pesquisas no país é um fantasma que nos assombra e contribui para que nossa saúde mental seja afetada; afinal, hoje fazemos pesquisa, mas amanhã, não sabemos como nos manter financeiramente fazendo o que amamos no laboratório.
Então qual seria a solução? Garanto que pausas resolvem parte do problema. Se dedicar ao que gosta (por mais clichê que seja) também é importante. Eu por exemplo, comecei a meditar, virei vegetariana e estou começando a empreender em algo que gosto. Fazendo isso, treinei a minha mente para não sentir culpa de viver além da pós-graduação e passei a me ver também como “pessoa”, além de “pesquisadora”.
Fazer ciência é uma viagem prazerosa, mesmo que às vezes existam pontos de stress (stress saudável existe, sabia?). Se procurarmos no dicionário, “ciência” não é sinônimo de “sofrimento”. Desde que entendi isso, passei a relaxar, curtir a viagem sem pensar tanto no destino.

As férias da pós-graduação
(sim, elas existem!)
Dedicação exclusiva sem férias é a regra da pós-graduação no país, mas pela minha saúde mental, eu resolvi ser exceção. Os resultados só foram positivos: a minha produtividade aumentou, as minhas relações interpessoais melhoraram, me apaixonei novamente pela pesquisa e consegui reencontrar o motivo pelo qual comecei a pós-graduação.
Não é normal nenhum tipo de sofrimento causado pela pesquisa na pós-graduação. Nem pequeno, nem grande. Por isso, se já está na pós-graduação ou ainda pretende ingressar, vai meu conselho: cuide muito bem da sua saúde mental.

Sabemos o quão difícil foi o caminho até aqui e desistir do que se ama não deve ser uma opção. Sempre existe um jeito mais leve de se encarar a pesquisa. Que tal começar a experimentar?

Sobre Carolina Maciel:
Bióloga marinha pela Universidade Santa Cecília, atual aluna de mestrado do programa de pós-graduação em Oceanografia da USP. Ama o mar e seus mistérios. Educação é sua paixão e autoconhecimento é sua palavra.