quinta-feira, 27 de abril de 2017

Histórias de Sucesso #1 — Izadora Mattiello


Por: Equipe de redação do Laboratório de Carreira
Publicação original em: Laboratório de Carreira



O Laboratório de Carreira é apaixonado por histórias de sucesso. A nossa equipe foi atrás de exemplos de carreiras de pós-graduandos que, mesmo sob muitas dúvidas, desafios e dificuldades, conseguiram encontrar o seu caminho e conquistar uma excelente vida profissional e financeira. Nosso estudo de caso de hoje é sobre uma bióloga do interior de São Paulo chamada Izadora Mattiello. Atualmente, Izadora é sócia-proprietária da Phomenta, uma empresa que está inovando e criando a nova geração da filantropia no Brasil.  

Izadora se formou em biologia pela Universidade de Campinas (Unicamp) e desde o início da sua graduação foi apaixonada por usar seu jaleco branco, trabalhar em laboratórios de pesquisa e fazer ciência. No segundo ano de faculdade, foi aluna de iniciação científica na área de biologia ambiental com projetos ligados à área de ecologia marinha de crustáceos. Perto da formatura, ela decidiu se aventurar em um intercâmbio no Chile, na Universidad Católica del Norte, para trabalhar em um laboratório de pesquisa com algas e animais marinhos da Patagônia. Quando voltou, encarou a seleção de mestrado e garantiu seu lugar na USP para fazer o mestrado em um projeto interdisciplinar da Petrobras, que propunha um método inovador para detectar algas marinhas vivas, muitas delas tóxicas, que vinham da água de lastro de navios de diversos portos que podiam prejudicar a fauna local e a saúde humana. Ela conta que foi muito desafiador, porque trabalhava com uma equipe de formações diversas como, por exemplo, engenheiros, oceanógrafos, matemáticos, estatísticos e etc. O interessante é que parte do mestrado da Izadora foi realizado dentro de uma incubadora de empresas tecnológicas da USP e assim ela teve a oportunidade de conhecer um pouco do mundo do empreendedorismo.

Izadora Mattielo e Lorhan Caproni, fundadores da Phomenta

Depois da caminhada acadêmica de sete anos, poderia-se pensar que tinha chegado o momento de Izadora seguir sua carreira acadêmica e fazer doutorado, mas a dúvida e a incerteza ocuparam sua mente. Ela esperava ver sua pesquisa sendo aplicada para o bem do meio ambiente e da sociedade de uma maneira rápida e eficiente, mas percebeu que no lugar onde estava trabalhando existia muita burocracia, falta de eficiência e que sua paciência não aguentaria isso por mais quatro anos. A angústia e a ansiedade tomaram o lugar do prazer de executar um projeto de pesquisa, a sensação de permanecer na zona de conforto incomodava muito e o brilho nos olhos da Izadora foi aos poucos dando lugar à uma visão obscura da sua carreira.

Ela decidiu tentar a vida de pesquisadora dentro de empresas na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), só que os problemas continuaram a aparecer. Izadora enviou dezenas de currículos para diversas empresas da área de sua especialidade, mas na maioria das vezes sequer foi chamada para ser entrevistada. O simples fato de ter optado por uma carreira acadêmica durante anos e não ter nenhuma experiência profissional a limitava de começar sua carreira profissional. Passaram-se dez meses de tentativas de seleção para vagas de empregos e nada de respostas positivas.

Devido a esse momento de angústia e frustração, Izadora foi atrás de autoconhecimento na tentativa de resgatar o prazer no trabalho e decidiu fazer um curso chamado Catálise na Fundação Estudar. Com isso, ela conectou-se com ela mesma e descobriu que ajudar pessoas era o que a deixava realizada, então começou a trabalhar em uma ONG para colocar isso em prática. Esta atividade a aproximou de planejamento estratégico, marketing, recursos humanos e essas áreas começaram a instigar novamente a vontade de aprender coisas novas. Izadora percebeu que o que ela tinha aprendido durante os sete anos na academia como, por exemplo, montar projetos, executar o planejamento, ter um objetivo, um cronograma e etc era algo fundamental que qualquer organização precisava ter.

Sobre o Laboratório de Carreria

Laboratório de Carreira é um projeto que está se tornando uma startup. Tem como objetivo conectar o pós-graduado ao mercado de trabalho, realizando o seu sonho de vida e carreira.


quinta-feira, 20 de abril de 2017

Minhocas peludas indicam a qualidade ambiental do fundo marinho no Banco dos Abrolhos

Por Michele Quesada-Silva

Todos aprendem na escola a importância da minhoca para os solos terrestres. Mas esqueceram de nos ensinar a importância dos seus parentes para os sedimentos do fundo do mar.


   As minhocas peludas na verdade chamam-se poliquetas e não têm pelos, mas sim cerdas (uma mais linda que a outra!). Os poliquetas pertencem ao mesmo grupo das minhocas (Filo Annelida) e, assim como elas, ventilam e irrigam o sedimento, estimulando o fluxo de nutrientes e a degradação da matéria orgânica. Existem no mundo mais de 11 mil espécies de poliquetas, sendo que eles podem ter diferentes tamanhos, hábitos de vida e hábitos alimentares (de herbívoros a omnívoros). Essa grande diversidade de espécies e hábitos faz com que a presença de determinadas espécies, assim como suas quantidades, indique as características do ambiente. Por isso, estes organismos são comumente utilizados por empresas de consultoria ambiental na caracterização e no monitoramento da qualidade do fundo marinho.

Diversidade de formas de poliquetas (Ilustração M. J. Schleiden).



Como estudar poliquetas
   Os poliquetas adultos são geralmente bentônicos, isto é, habitam os fundos marinhos tanto duros (como por exemplo recifes de corais) quanto os sedimentos. A figura abaixo representa a variedade de métodos para coletar os organismos bentônicos.

Métodos para coletar poliquetas (Fonte: KC Denmark A/S).

   Tradicionalmente, o bentos é dividido segundo uma classificação prática baseada no tamanho da malha das peneiras utilizadas para separar esses organismos do sedimento marinho. Animais retidos por uma peneira de 0,5 mm, por exemplo, compreendem a macrofauna bentônica, que é dominada por poliquetas. No entanto, na peneira não ficam só os organismos… então temos que separá-los em grandes grupos (poliquetas, crustáceos, moluscos, etc) através de um esteromicroscópio e, depois, com a ajuda de um microscópio com lentes de aumento mais potentes, podemos identificá-los em nível de espécie. No caso dos poliquetas, as cerdas que eu comentei anteriormente são muito importantes nessa classificação.


Microscópio utilizado para separar os organismos bentônicos do sedimento.


Impacto do sedimento terrígeno nos poliquetas ao redor dos recifes de corais do Banco dos Abrolhos
   A importância ecológica dos poliquetas fez com que eu tivesse vontade de estudá-los durante a minha graduação em Biologia e o meu mestrado em Oceanografia Biológica. Na ocasião, o Instituto Oceanográfico da USP estava desenvolvendo um projeto nos recifes do Banco dos Abrolhos (“Produtividade, Sustentabilidade e Utilização do Ecossistema do Banco dos Abrolhos – PROABROLHOS”). Os recifes de coral estão em constante modificação, sendo ora construídos pelos corais e algas calcárias, ora erodidos pelas ondas ou por algum organismo, como o peixe-papagaio. Os fragmentos resultantes destes processos de erosão espalham-se ao redor dos recifes de coral, ampliando os limites desse ecossistema. E quais são os organismos que dominam nestes fragmentos de recife? Sim, os meus queridos poliquetas!

   A área de estudo do meu mestrado foi o recife Sebastião Gomes, localizado a menos de 20 km da costa da Bahia. O objetivo do meu trabalho era caracterizar a comunidade de poliquetas que vive ao redor de um recife cujo sedimento é formado tanto por fragmentos recifais quanto por partículas finas que são transportadas principalmente do Rio Caravelas para o pé do recife com ajuda das correntes marítimas e dos ventos. Tipicamente, há maior diversidade e abundância de poliquetas em sedimentos mais grossos devido ao maior espaço entre os grãos. 


Localização do recife Sebastião Gomes no Banco dos Abrolhos.


Esquema demonstrando o aumento no espaço disponível para os poliquetas da macrofauna habitarem de acordo com o tamanho do grão do sedimento.

   Na época do meu mestrado, o que me preocupava era o aumento do aporte de sedimentos finos devido ao desmatamento das florestas tropicais costeiras para cultivo de eucalipto. Hoje, o que mais me preocupa é a lama contaminada da mineradora Samarco, que tem sido transportada ora para o sul e ora para o norte, até que atingiu o Banco dos Abrolhos em julho de 2016. Os sedimentos mais finos em regiões recifais não são prejudiciais apenas para os poliquetas, mas também para os corais que formam a estrutura do recife. Além de entupir os pólipos dos corais, a presença desse sedimento fino na coluna d’água também dificulta a penetração da luz, essencial para a fotossíntese das microalgas que vivem associadas aos corais.
   Os dados do meu mestrado foram coletados antes do desastre da Samarco e eu acredito que a utilização desses dados para o monitoramento dos recifes costeiros do Banco dos Abrolhos é um bom exemplo de como integrar a ciência básica com a ciência aplicada (Post: Ciência nada básica: http://batepapocomnetuno.blogspot.com.br/2016/06/ciencia-nada-basica.html), porque não é possível monitorar uma área sem saber como ela era antes do impacto ambiental. No momento, estes dados não são estão sendo utilizados, mas eu espero que a sua recém publicação (o artigo acabou de sair no Brazilian Journal of Oceanography) inspire esse monitoramento! 



Link para o artigo científico

Link para a dissertação de mestrado


Sobre Michele Quesada-Silva


Sou bióloga (com muito orgulho) e mestre em Oceanografia Biológica, além de ser muito metódica (as fotos das caixinhas com a coleção de poliquetas do meu mestrado exemplifica bem isso) e crítica (construtiva!). Nos últimos dois anos, abandonei os meus queridos poliquetas e participei da coordenação de uma equipe de biólogos e analistas de geoprocessamento responsáveis por avaliar o fundo marinho antes da instalação ou da desinstalação de estruturas submarinas da indústria de óleo e gás. Não me preocupo com os títulos e sim com o aprendizado. Por isso, decidi fazer mais um mestrado! Desta vez, na Europa (Espanha, Portugal e Itália) e focado em políticas públicas que visam um melhor planejamento das atividades que acontecem no ambiente marinho.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

X ENCOGERCO


Vem aí o X ENCOGERCO - O Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro, 
que acontecerá na FURG, (Rio Grande, RS) entre 21 e 23 de Junho de 2017!



Submissão de resumos até dia 15 de maio
Desconto na inscrição até dia 31 de maio!

Clique na imagem para mais informações!



quinta-feira, 13 de abril de 2017

Peixes Ósseos e Cartilaginosos

Por: Gabrielle Souza

Você já se perguntou qual é a diferença entre peixes e raias? Será que a raia também é peixe? E os tubarões? Essas dúvidas surgem por conta da suas particularidades na forma física, mas não pense que é só isso. Existem outras características que os diferem, porém há características que os aproximam,  e é sobre esse assunto que vamos falar hoje!
























Fonte Imagem Cardume                         Fonte Imagem Raia

Mas primeiramente precisamos saber o que é peixe. Todos os peixes têm um cérebro protegido por uma caixa craniana, e na região da cabeça possuem olhos, dentes e outros órgãos sensoriais. A maioria dos peixes vive na água, são vertebrados, respiram por brânquias, possuem o corpo coberto por escamas e não são capazes de regular a própria temperatura corporal. Porém, como em toda regra existem as exceções: o peixe-bruxa não é vertebrado e não possui escamas, os peixes pulmonados têm respiração pulmonar, e o atum controla, de certa maneira, a temperatura corporal. O termo peixe, além daqueles que estamos acostumados a ver no supermercado e aquários, é também utilizado para definir organismos aquáticos como raias, tubarões e lampreias. Por isso a denominação “peixe” não representa um grupo taxonômico monofilético, uma vez que um grupo taxonômico monofilético deve incluir todos os organismos que possuem ancestral comum. Para que peixes seja considerado um grupo monofilético seria necessário incluir, por exemplo, os tetrápodes, que são os animais que possuem quatro membros, incluindo você Homo sapiens! (veja a figura abaixo)

Filogenia dos principais grupos de Chordata. † O táxon está extinto; grifo em vermelho representa os grupos citados nesse post (Adaptado de  NELSON et al. (2016)).

Os peixes pertencem ao Filo Chordata, ou seja, são animais que apresentam notocorda, uma estrutura de aspecto cartilaginoso posicionada na região dorsal e dá origem ao eixo do embrião, sendo o futuro lugar onde as vértebras daquele organismo irão se posicionar. Pertencem ao Infrafilo dos vertebrados, que  abrange aproximadamente 60.000 espécies, e possui uma organização taxonômica separada em diversas Classes. Porém apenas duas dessas Classes nos interessam neste momento: Chondrichthyes e Osteichthyes.


Exemplos de peixes cartilaginosos: A - tubarão (Fonte); B - raia (Fonte); D - quimera (Fonte) e peixes ósseos: C - Atum (Fonte)



  
Agora vamos falar algumas das diferenças destas classes!

   A Classe Osteichthyes possui duas Subclasses, denominadas de Sarcopterygii, que inclui os peixes com nadadeiras carnosas e os tetrápodes, e Actinopterygii, cujos organismos apresentam nadadeiras com raios. Os Actinopterygii, possuem as seguintes características gerais: esqueleto ósseo, pele coberta por escamas ósseas, respiram por brânquias protegidas pelo opérculo (uma placa óssea que cobre as brânquias) e possuem vesícula gasosa (antigamente denominada de bexiga natatória), órgão que auxilia na flutuabilidade dos indivíduos.

Tipos de escamas: placóide  e óssea (Adaptado de Bemvenuti & Fischer (2010).



   A Classe Chondrichthyes possui duas Subclasses denominadas de Elasmobranchii (raias e tubarões) e Holocephali (quimeras). As características gerais dessa Classe são: esqueleto cartilaginoso, corpo coberto por escamas placóides, respiração também por brânquias, mas essas não possuem a proteção dos opérculos (exceção das quimeras), não possuem vesícula gasosa e, portanto, apresentam outros mecanismos para auxiliar na flutuabilidade (por exemplo as nadadeiras peitorais largas, semi-rígidas e horizontais nos tubarões que reduzem o afundamento e o fígado grande e rico em óleo, o que diminui a densidade corporal).


Quadro comparativo entre Peixes ósseos e Peixes Cartilaginosos



   Uma característica que peixes ósseos e cartilaginosos possuem em comum e que todos sabemos, é que ambos além de super nutritivos, são deliciosos! Mas é importante ter cautela ao consumi-los pois muitas espécies estão ameaçadas de extinção. Assim, finalizo esse post compartilhando com vocês uma cartilha de consumo sustentável de pescados, criado pelo pessoal da Unimonte: http://www.unimonte.br/img/upload/institucional_tipo/16_146.pdf. Bom apetite!






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Referências

HICKMAN C.P.; ROBERTS, L.S & LARSON, A. 2004. Princípios Integrados de Zoologia. Guanabara Koogan Editora. 846p.

What is a fish? Understanding Evolution. Disponível em: <http://evolution.berkeley.edu/evolibrary/article/fishtree_02>. Acesso em: 05 abr. 2017.

NELSON, Joseph S. et al. 2016. Fishes of the World. 5. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., Hoboken. 752 p.

BEMVENUT, M. A. & FISCHER, L. G. 2010. PEIXES: MORFOLOGIA E ADAPTAÇÕES. Caderno de Escologia Aquática, Rio Grande- Rs, v. 5, p.1-24.