sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

História de Pescador

Por Ana Helena Bevilacqua

Tudo começou em 2007, quando a paulistana deixou o berço da cidade natal e decidiu viver na Amazônia. Os objetivos da mudança eram fazer o mestrado, estudar fisiologia de peixes de água doce, conhecer a floresta, aprender a pescar e ganhar asas. Destes todos, a pesca deixou a desejar...


O projeto de mestrado contava com muitas atividades e coletas em campo durante longos períodos pelo interior do Amazonas. Coletava peixes, fazia experimentos, conhecia gente, aprendia os costumes da mata e vivia intensamente a floresta e suas tradições. E nesse mar de novas experiências, nasceu a paixão pela conversa de pescador!


Naquela época, a conversa não era o objetivo do estudo, mas rapidamente passou a ser o objetivo pessoal. E assim, os longos e mornos finais de tarde foram preenchidos pela companhia de pescadores e suas famílias, sempre cheios de crianças, cachorros e, claro, um bom cafezinho, bem doce e fresco, como a tradição local não deixa faltar.


A partir desse papo, informal e descompromissado, foram nascendo as ideias para o futuro doutorado, até então apenas em planos porque o mestrado devia ser finalizado. E o tempo foi passando, as coletas acabando, o mestrado defendido, e a vontade de continuar as conversas só crescia. Mas e agora?


E aí que já estava traçado o tema do doutorado: ecologia humana de pescadores de pequena escala.


Foto: Laura Honda
E foi assim que a migração para a ciência marinha aconteceu tão naturalmente quanto aquelas longas conversar na beira do rio, dando lugar a conversas mais direcionadas, na companhia de prancheta, lápis e com um oceano de água salgada à nossa frente.

Que delícia, ir para a praia para passar o dia conversando com pescadores! Era tudo o que eu queria! Mas como nesse momento o objetivo já era outro, as conversas já não eram mais descompromissadas e leves. Neste momento haviam perguntas a serem respondidas, uma metodologia a ser seguida, resultados a serem buscados e algo a ser concluído! Afinal, eu já estava fazendo as coletas do doutorado!


Foto: Laura Honda
O objetivo do doutorado era entender um pouco mais a pesca de pequena escala no litoral do nordeste brasileiro e trazer para perto da ciência acadêmica o conhecimento tradicional do pescador. Basicamente o que eu queria fazer era aliar o conhecimento tradicional às ciências marinhas e provar que este pode ajudar, e muito, a preencher as lacunas que existem na ciência e, assim, melhor embasar os planos de manejo e as políticas públicas. Mas para isso precisava provar que por trás da “conversa de pescador” havia conhecimento.



Foto: Laura Honda
Então, o que eu queria era comparar se as informações que conseguia com os pescadores estavam de acordo com o conhecimento científico, usando um modelo virtual de um ecossistema marinho. Esse modelo virtual tenta representar todas as relações ecológicas que existem no ecossistema real, como crescimento, reprodução, predação, entre outros. Para isso, criei dois modelos: um apenas baseado nas informações que obtive durante as “conversas” com os pescadores artesanais e outro criado com informações da literatura científica. E depois seria só comparar os dois!


Para a criação desse modelo de ecossistema marinho usei um software livre chamado Ecopath with Ecosim, que nada mais é do que um programa de computador onde inserimos todas as informações de um ecossistema real e conseguimos um ecossistema virtual. Este programa foi criado por Villy Christensen e Daniel Pauly em 1992, no Centro de Pesca da Universidade da British Columbia em Vancouver, Canadá, e que continua a ser aprimorado até hoje. Está baseado em equações de balanço de energia que definem a dinâmica natural presente no ambiente marinho e as relações ecológicas que ocorrem ali, ou seja, toda a energia disponível é ciclada entre as espécies presentes e é responsável pelo crescimento e reprodução dos organismos. Para isso é comparada as informações da quantidade de alimento necessária por dia para os predadores com as informações sobre o crescimento e reprodução das presas. O programa é capaz de criar uma “fotografia ecológica” do que está acontecendo no ecossistema naquele momento (Se quiser saber mais sobre o software acesse www.ecopath.org ou de uma olhada nas referências abaixo).


Para a criação do ambiente virtual marinho (ou de água doce, se preferir) precisamos definir o tamanho da área, colocar todas as espécies ou grupos presentes, inserir informações sobre a dieta dos organismos, definir quem são os predadores, o quanto cada um come por dia e a taxa de crescimento de cada espécie, sem esquecer de inserir a pesca por tipo de embarcação e apetrecho.


Definido tudo isso, o programa cria todas as interações biológicas e monta uma teia trófica de quem come quem, igualzinho ao esquema abaixo. A vantagem desse modelo é que além de criar um ecossistema de fácil visualização, ainda podemos inserir a pressão de pesca sobre determinada espécie alvo, como também o chamado by-catch (expressão usada pela ciência pesqueira para definir a pesca de espécies acessórias que são capturadas acidentalmente junto com a espécie alvo).


Essa foi a cadeia trófica criada pelo software Ecopath with Ecosim usando apenas as informações dos pescadores. A cor indica o nível trófico, sendo vermelho os organismos produtores da base do ecossistema (como as algas, o fitoplâncton e os detritos), e quanto mais azul, mais alto na cadeia trófica, representado pelos organismos no topo, ou seja, os predadores (tubarão, golfinho e grandes pelágicos). O tamanho do círculo representa a biomassa (quantidade de indivíduos e peso de cada grupo de organismos) e as linhas representam as interações tróficas dos grupos inseridos no ecossistema.

E o mais legal é que com esse modelo conseguimos “prever” como o ecossistema inteiro reagiria a um aumento (ou diminuição) da pressão de pesca, restrição de determinado apetrecho, fechamento de áreas ou mesmo a proibição total da pesca ou de determinada espécie alvo. Com isso, conseguimos um melhor entendimento sobre o futuro, caso algumas ações de manejo e conservação sejam (ou não) tomadas.


Mas e os pescadores? Ah sim! O resultado foi incrível: o modelo dos pescadores e o modelo científico são praticamente iguais! Ou seja, os pescadores possuem conhecimento que pode ser equiparado ao conhecimento científico em algumas questões, e este pode ser usado para preencher as lacunas de informações científicas sobre determinada área e/ou espécie. Além de ser de baixo custo, este tipo de informação pode ser acessada em um tempo bem menor em comparação à certas pesquisas científicas.


Mas claro que os pescadores não tem todas as respostas. Assim como na ciência, algumas questões continuam a ser uma grande incógnita para todos os seres humanos. Portanto, aliar a ciência ao conhecimento tradicional dos usuários dos recursos pode trazer um melhor entendimento sobre as relações ecológicas e facilitar a implantação de planos de manejo para a utilização destes mesmos recursos.


Para saber mais:


Christensen V (2013) Ecological networks in fisheries: predicting the future? Fisheries 38(2):76–81


Christensen V, Pauly D (1992) ECOPATH II—a software for balancing steady-state ecosystem models and calculating network characteristics. Ecol Model 61:169–185


Coll, M., et al. (2015) "Modelling dynamic ecosystems: venturing beyond boundaries with the Ecopath approach." Reviews in Fish Biology and Fisheries 25.2: 413-424.


Apaixonada pelos animais desde sempre, mas foram os peixes que mais lhe chamou a atenção. Por não gostar de ver os bichos doentes decidiu virar bióloga (Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo), foi fazer mestrado na floresta (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA, Manaus) e acabou indo parar na praia para o fazer o doutorado. Hoje a Ana está passando frio no estágio sanduíche no Institute for the Oceans and Fisheries da Universidade da British Columbia em Vancouver (Canadá) como parte dos requisitos do doutorado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN, Natal). Além dos bichos, ela se interessa por alimentação saudável, psicologia canina, trilhas, stand-up padle e maracatu.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O mergulho como ferramenta de pesquisa

Por Aline Alves

Nos últimos anos o mergulho tem deixado de ser uma atividade pra poucos. Muitas pessoas buscam o mergulho como lazer, hobby e até mesmo atividade física. Eu, apesar de ter passado a vida longe do mar, sempre fui muito conectada a tudo que era relacionado a ele. Quando fiz o meu primeiro mergulho autônomo, um simples batismo, foi amor à primeira vista. Depois disso, foi só questão de tempo pra que eu entrasse de vez nesse mundo. Passei a fazer cursos de mergulho recreativo, com o simples objetivo de mergulhar bem. No entanto, já cursava biologia e o fato de aprender a mergulhar poderia ser o primeiro passo para trabalhar com biologia marinha. 

Censo visual. Foto: Dilson (Zá).
Com o uso do mergulho como um meio para fazer pesquisa, de uma ramificação do mergulho autônomo surgiu o mergulho científico. Esta classificação de mergulho nada mais é do que adaptação/criação de metodologias científicas para o ambiente aquático. Em outras palavras, pesquisadores passaram a utilizar do mergulho para entender melhor o ecossistema aquático, e com isso técnicas foram desenvolvidas para que fosse possível coletar dados e amostras de maneira viável e segura. 


Monitoramento Donzelinha. Foto: Aline Alves.
Após adquirir um pouco de experiência embaixo d’água com o mergulho recreativo, eu comecei a utilizar o mergulho como ferramenta de trabalho no mestrado. Nesse período, trabalhei com comportamento reprodutivo de uma espécie de donzelinha (peixes recifais de uma família bastante comum na costa brasileira), e consegui conciliar uma das coisas que eu mais amava fazer à metodologia do meu projeto. Foi nesse momento que comecei a aprender os diferentes métodos de coleta de dados, vendo os pesquisadores mais experientes trabalharem. 

Dependendo do objetivo da coleta, o mergulho científico pode ser realizado para diferentes tipos de amostragens. Existem os métodos ditos como não destrutivos, como por exemplo, os censos visuais, observações e monitoramentos com uso de filmagens e fotografias. Os censos visuais são realizados dentro de uma área delimitada, onde o pesquisador conta o número de indivíduos alvo do estudo e registra também outros dados relacionados ao local da coleta. Particularmente, poderia descrever aqui diversas vantagens na utilização desses métodos. Já utilizei muito deles, e sei que pode-se obter resultados incríveis causando o mínimo de impacto. Alguns outros estudos envolvem coletas de material biológico de fato. E nesse caso, é necessário o conhecimento de outras técnicas que podem exigir o uso de equipamentos de elevação, e movimentação controlada de amostras. Essas técnicas exigem do mergulhador um bom controle de flutuabilidade e organização, pois qualquer descuido pode prejudicar toda a amostragem.
Coleta - monitoramento banco dos Abrolhos. Foto: Dilson (Zá).

Coleta com puçá - ASPSP. Foto: Aline Alves.
Além de apresentar técnicas que permitem executar o mergulho com mais segurança, a importância de usar o mergulho científico como ferramenta de trabalho vem da possibilidade de explorar locais e profundidades nunca antes estudadas e ter a chance de inúmeras observações novas, tais como espécies e comportamentos diferentes daqueles já registrados. Dessa forma, é possível ter mais abrangência e precisão na hora de monitorar ambientes aquáticos. 

Mas de todas as vantagens, a que mais chama atenção das pessoas  é a oportunidade que o mergulho científico te dá de trabalhar nos lugares mais incríveis que você já imaginou. Estar em ambientes prístinos, remotos e em águas cristalinas, com certeza fazem valer a pena qualquer esforço. Sem contar quão próximo você fica de um ecossistema tão único e de todos os seres que dele fazem parte. Aprendi muito em todas as expedições que participei. Nelas você fica muito tempo, seja embarcado ou em algum arquipélago, com pessoas que às vezes você mal conhece. Conviver com pesquisadores renomados e mergulhadores experientes, só contribuiu para o meu aprendizado. Além disso, te possibilita fazer grandes parceiros de trabalhos e amigos. 


Abrolhos II. Foto: Aline Alves.

Abrolhos III. Foto: Aline Alves.

Abrolhos. Foto: Aline Alves.
Eu tive o privilégio de ter como área de estudo durante o mestrado uma das ilhas oceânicas brasileiras, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, e foi uma experiência singular, que só acrescentou a tudo que sei hoje. Como trabalhava em um lugar inóspito e de difícil acesso, toda atenção era necessária e com isso passei a cuidar mais de mim e das pessoas que mergulhavam comigo. Foi essencial para que eu conseguisse evoluir como mergulhadora e pesquisadora. Sem dúvidas, a melhor memória que tenho até hoje desse arquipélago foi poder ver de perto um tubarão baleia, a apenas dez metros de profundidade, quando voltava de um mergulho de coleta. Sensação indescritível, que rendeu lágrimas e muita satisfação por poder trabalhar mergulhando!

Por outro lado, existem sim algumas dificuldades em utilizar o mergulho como ferramenta de pesquisa. A primeira delas está relacionada aos custos. Para realizar a coleta você precisa de equipamentos de custo geralmente alto. Junto a isso, na maioria das vezes é necessária uma embarcação, o que encarece mais o estudo. Muitas metodologias envolvem ainda o uso de câmeras fotográficas e milhares de outros equipamentos específicos e caros. Logo, trabalhar com mergulho científico requer uma logística cheia de detalhes, onde todo equipamento é fundamental para o bom andamento da coleta e também para a segurança dos pesquisadores. 



Arquipélago de são pedro e são paulo (ASPSP) com o mar agitado.
Outra dificuldade encontrada é que nem sempre o local do trabalho vai ter as melhores condições. Ninguém mergulha em condições extremas, mas dentro daquilo que é seguro e aceitável, tem que estar preparado para mergulhar em locais com baixa visibilidade, correnteza, e até mesmo enfrentar dificuldades relacionadas à embarcação. Quando tinha que ir para o arquipélago de São Pedro e São Paulo enfrentava cerca de três dias de barco para chegar e nem sempre a viagem era tranquila.  Mas eu sabia que quando você se submete a estar em mar aberto, tem que saber que o mar é quem manda, é o mar quem vai dizer quando você vai chegar, e principalmente, quando vai mergulhar. Se as condições do mar não estiverem adequadas, a única coisa que resta fazer é respeitar e esperar até que tudo se acalme.

Enfim, apesar de nem tudo ser tão simples e fácil como aparece em filmes e documentários, eu acredito que todo esforço pra se trabalhar com mergulho científico é mais do que válido. Procuro mostrar sempre o lado bom, que a meu ver sobrepõe qualquer dificuldade. Com uma costa extensa como a nossa, deveria haver mais investimentos para isso aqui no Brasil. Podemos ter inúmeros avanços monitorando de forma efetiva os ambientes aquáticos, descobrindo novos e importantes fatos a todo o momento. O mundo subaquático é um mundo completamente diferente, cheio de coisas incríveis e lindas para serem desvendadas. O que o mergulho científico faz é facilitar essas descobertas. Com apenas cinco anos trabalhando nisso, já tive as melhores experiências da minha vida, e nunca vi alguém experimentar e não se encantar.

Interessados em ler um trabalho que foi feito utilizando o mergulho como ferramenta podem acessá-lo aqui: http://www.ingentaconnect.com/content/umrsmas/bullmar/2012/00000088/00000002/art00001?crawler=true





Aline é bióloga pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, divemaster e apaixonada pelo mar. Mestre em Ciências Biológicas com ênfase em Zoologia pela Universidade Federal da Paraíba. Atua em projetos voltados à ecologia e conservação de peixes recifais desde 2010.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Orcas: de monstro marinho ao Efeito Blackfish

Por Daniela Abras


Até a década de 50, a orca (Orcinus orca) era uma espécie pouco conhecida no mundo. Era vista apenas nos locais onde aparece com frequência, principalmente as regiões costeiras do Canadá e Nova Zelândia. Em meados da década de 60, um “brilhante” cineasta fez um filme chamado “ORCA, a baleia assassina”, convertendo-a em uma das espécies mais temidas pelo ser humano, principalmente pelo pouco que se conhecia sobre ela, e ainda mais sob este título.
Pôster do filme Orca: A baleia assassina
(Fonte: https://www.pinterest.com/pin/414964553137293912/)
O nome “baleia assassina” é uma designação muito equivocada para um nome popular e a pior propaganda de marketing de espécie por três motivos:
  • Primeiro: orcas não são baleias, e sim golfinhos! As baleias pertencem à sub-ordem Mysticeti, que são cetáceos que não possuem dentes e sim barbatanas ou cerdas na boca, que usam para filtrar o alimento. As orcas, são da sub-ordem Odontoceti, que possuem dentes, sendo classificadas dentro da família Delphinidae, mesma do golfinho-flíper, por exemplo;
  • Segundo: o nome mais coerente, que se aproxima do atual, seria “assassina de baleias”, como era conhecida na Espanha mediterrânica da década de 20 ou 30 (“asesina de ballenas”, em espanhol). Alguém traduziu erroneamente este nome para o famoso nome em inglês “killer whale” (quando o correto seria “whale killer”), dando a falsa impressão de que as orcas são “baleias assassinas”. Na verdade, elas predam algumas espécies de baleias (cinzenta, minke e jubarte, por exemplo), e por isso eram chamadas “assassinas” de baleias.  
  • Terceiro: as orcas não são tão lindas e carismáticas? Por que não adotar o nome de Panda do Mar (“Sea Panda”, em inglês)? Faço votos!!

Fonte: http://lizclimo.tumblr.com/ Traduzido por Dani Abras
Foi então que Shamu entrou no jogo, mudando totalmente a imagem ruim das orcas para o público em geral. A primeira orca que foi para o cativeiro chamava-se Moby Doll. O Aquário de Vancouver queria estudar seu cérebro e fazer uma réplica em tamanho real de uma orca, e encomendou um espécime a caçadores da região, para servir como modelo. Esse animal, que pensavam ser uma fêmea (e que não deveria ter sobrevivido à caçada), foi então levado a um tanque, onde viveu por 87 dias. Isso ocorreu em 1964, por coincidência, mesmo ano de abertura do SeaWorld, nos EUA. Os parques marinhos já possuíam golfinhos em exibição, mas nunca uma orca, e Moby Doll despertou este interesse e chamou a atenção dos donos do parque. A “Shamu” original foi a terceira orca que viveu em cativeiro, mas a primeira capturada exclusivamente para este fim. Em 1965, o SeaWorld encomendou sua compra, e desde então mantém orcas em seus tanques. A primeira Shamu morreu em 1971, mas até hoje ela “vive” como a principal atração e o ícone do SeaWorld. Foi a partir deste momento que as orcas deixaram de ser animais temidos e se tornaram carismáticos seres, cobiçados mundialmente pelos espectadores. Os parques aquáticos lotaram com a presença das orcas, que se tornaram o carro-chefe das suas atrações.
Moby Doll (Fonte: orcapod.wikia.com)
Foi então que, em 2010, o cenário de amor pelas orcas em cativeiro começou a se desmanchar. Dawn Brancheau, uma experiente treinadora de orcas, foi brutalmente assassinada na frente de centenas de espectadores, pela maior orca que já viveu no cativeiro, o macho Tilikum. A partir de então, de forma crescente como uma onda, uma série de mentiras que o SeaWorld conta aos seus milhares de pagantes anualmente começou a ser desmascarada. Um coro de pessoas leigas se uniu aos poucos cientistas que já se opunham ao entretenimento, iniciando a “Onda Blackfish” ou “Efeito Blackfish”. Esta onda foi engatilhada pelo documentário homônimo (ou Blackfish - Fúria Animal, em português – nome de muito mal gosto, na minha opinião) lançado em 2013, que tem como objetivo mostrar um pouco da  problemática do cativeiro, com foco em Tilikum, e as três mortes que ele causou ao longo de seus 27 anos de clausura. O documentário explica bem didaticamente a problemática de se manter orcas em cativeiro, desde sua brutal captura, à falta de qualidade de vida que os indivíduos sofrem sua permanência em pequenas piscinas, à questão do intercruzamento entre as orcas, principalmente com o gene do problemático Tilikum.
Blackfish é um documentário perturbador. Não por conter imagens fortes - já que a própria diretora do documentário, Gabriela Cowperthwaite, declarou seu desejo de que “crianças pudessem assistir ao filme, sem traumatizar o público” - mas por desvendar fatos constrangedores para qualquer amante dos animais. Algumas imagens do cotidiano das orcas e os procedimentos à que são submetidas nos parques aquáticos são abordados, explicando como os animais sofrem com o confinamento e métodos nada naturais. O filme traz relatos de ex-treinadores sobre as relações que formam com os animais que cuidam, extensos treinos diários, e situações de agressões e violências por parte das orcas que nunca chegaram a ser noticiados.
Pôster do filme Blackfish (www.blackfishmovie.com)
O filme traz esclarecimentos sobre algumas das mentiras mais absurdas que o SeaWorld prega a seus frequentadores. A maior delas é que as orcas vivem em torno dos 30 anos, quando sabemos que na natureza, uma orca pode viver cerca de 80 anos, e chegam até 104 anos (orca “Granny”, na costa oeste do Canadá). Nos shows, os treinadores dizem que seus animais exibem comportamentos semelhantes aos naturais, mas quando pensamos que uma orca nada em torno de 80 km por dia, e que ela precisa girar 1.500 vezes na piscina para atingir esta distância, vemos o quanto o cativeiro foge da realidade de uma orca selvagem.
O termo “Blackfish”, ou “Peixe-negro” é um nome popular dado às orcas pelos “Primeiros Nativos”, uma tribo indígena da região oeste do Canadá que, acima de tudo, respeita as orcas: “É um animal que possui grande poder espiritual”.  Por coincidência, a população de orcas que vive neste local está classificada como ameaçada, não por conta dos nativos, mas por conta da indústria das orcas em cativeiro.
Orcas em números:
  • 15 aquários e parques marinhos detém orcas em suas instalações, hoje no mundo.
  • Corky 2, a orca mais antiga em cativeiro já possui 46 anos de confinamento.
  • 57 orcas vivem em cativeiro, atualmente.
  • 162 orcas morreram no cativeiro.
  • 151 acidentes de treinadores com orcas
  • 4 pessoas morreram por ataque das orcas cativas.
  • Nenhuma pessoa morreu por ataque de orcas selvagens.
  • 162.855.000,00 reais que brasileiros gastam no SeaWorld Orlando,  por ano.
  • 770.000 brasileiros visitam o parque em Orlando, anualmente.

Foto: Tatiana Ivkovich (Far East Russia Orca Project/ Whale and Dolphin Conservation)
Após o lançamento do filme Blackfish, em 2013, as ações do SeaWorld caíram em mais de 30%, e o número de espectadores diminui a cada ano. Em novembro de 2015, o SeaWord anunciou uma alteração dos moldes teatrais das apresentações das orcas, em uma tentativa de se adequar às críticas que vem recebendo, e para apelar para o retorno de seus espectadores. Essa alteração propõe um cunho mais orgânico nas apresentações. O fim dos shows acrobáticos, não significa libertar as orcas ou acabar com os shows em definitivo. Será apenas uma reestruturação do show, pra parecer mais "natural" ao espectador.
Eu acredito que existam duas armas efetivas na luta conta o cativeiro: a informação e a decisão. A informação está disponível em diversos sites na internet, além de alguns documentários, além do próprio “Blackfish”, “A fall from freedom”, “Lolita: slave to entertain”, “The Cove”...  Já a decisão de não ir a parques aquáticos e aquários que possuam cetáceos (orcas, golfinhos e belugas) em cativeiro fica com você, caro leitor. Quando não houver mais demanda, não haverá mais espaço para este tipo de entretenimento, mas enquanto existam pessoas frequentando estes lugares, ainda existirão orcas em sofrimento. Por isso, junte-se à campanha “Não ao cativeiro”, compartilhe essa ideia com seus parentes e amigos.
Blackfish pode ser visto no Netflix ou no Now da Net, além do YouTube.


Daniela Abras é mineira de Belo Horizonte, formada em bióloga marinha pela UFRJ, e mestre em Oceanografia pela USP. É aficionada pelo cetáceos desde seus 8 anos, quando fez um trabalho na escola sobre o tema. Durante a adolescência, já dizia que queria trabalhar com baleias, e muita gente não a levou a sério. No início dos anos 90, escutou o famoso vinil com a gravação das baleias cantando da revista da National Geographic e conheceu o movimento “Save the whales” e disso partiu sua maior obstinação: estudar e proteger as baleias e golfinhos. Fundadora da página do facebook VIVA Baleias, Golfinhos e Cia www.facebook.com/VIVABaleiasegolfinhos, hoje é pesquisadora do Instituto Baleia Jubarte, e se dedica diariamente ao seu estudo destes magníficos animais.
A Daniela já publicou com a gente o seguinte post sobre o seu mestrado: http://batepapocomnetuno.blogspot.com.br/2015/06/um-giro-pelo-oceano-entendendo-o-vai-e.html

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Comemoração do dia Mundial da Pesca em São Paulo, SP

O Dia Mundial da Pesca (World Fisheries Day) é celebrado, ao redor do mundo, no dia 21 de novembro. Este ano, essa data será comemorada no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo na próxima segunda-feira, 23/11/2015, a partir das 13 horas, com o evento: “Revelando a pesca de pequena escala – tarde de arte e cultura no IOUSP”.


Foto: Roberto Linsker


Programação:

13h00 - Filmes:

13h01 - Mar de Homens, curta-metragem de Roberto Linsker

13h16 - A Tainha e a Onda, documentário de Carlos Nunes

14h20 - Vento Forte, documentário de Patricia Antunes

15h30 - Os Saberes do Fazer – Cultura Caiçara Viva (entrevistas), de Ricardo Imakawa, Emiliano Bernardo e Ruben Bianchi

15h45 - Mar de Homens, introdução ao relato do artista

16h00 - Relatos:

- “O olhar do artista”

- “Uma ação global e local para a pesca de pequena escala”

16h30 – Abertura da exposição fotográfica “Mar de homens, um recorte”, do premiado fotógrafo e geólogo Roberto Linsker, que estará presente 

16h30 - Lançamento do livreto: “Revelando a Pesca de Pequena Escala” (http://www.io.usp.br/index.php/noticias/47-editoria-io/974-livro-revelando-a-pesca-de-pequena-escala(Saguão de entrada principal do IOUSP)

Organização: Laboratório de Ecossistemas Pesqueiros (LabPesq), Instituto Oceanográfico; Comissão de Cultura e Extensão do IOUSP. Apoio: Centro Acadêmico Panthalassa, PRCEU-USP, IOUSP.

Endereço: Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Praça do Oceanográfico, 191. Cidade Universitária, Butantã, São Paulo, SP. Informações: 11-3091 6549.

Entrada franca (mediante apresentação de documento).

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Prazer, meu nome é Estromatólito!

Por Alana Cristina e Alina Pellegrinelli

O termo estromatólito provém do grego strôma, que significa "o que cobre" ou "tapete", e de líthos, que significa pedra. Segundo o glossário terminológico da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos, estromatólitos são estruturas de crescimento recifal em forma de lentes, montículos ou domos, e que foram desenvolvidas  por associações de bactérias fotossintetizantes (em sua maioria cianobactérias) em ambientes marinhos de águas rasas e quentes (Figura 1).


Figura 1: Estromatólito – Shark bay, Australia
(Fonte: Strolatolites Blogspot. http://stromatolites.blogspot.com.br/

Como sou formado?

A estrutura organo-sedimentar (que significa dizer que é formada por matéria orgânica e sedimento) dos estromatólitos é produzida durante a variação da maré.[1]  Durante a maré alta ocorre o aprisionamento dos sedimentos finos,  e durante a maré baixa as cianobactérias, que são as principais responsáveis pela construção dos estromatólitos, formam uma rede filamentosa, recoberta por uma mucilagem orgânica, que fixa o carbonato de cálcio do meio circundante. Assim, pouco a pouco, vão construindo uma estrutura em camadas que é criada pela agregação de grãos formados a partir de detritos, cimentados pelo carbonato de cálcio (Figura 2). Atualmente sabe-se que existem diferentes tipos de organismos como as bactérias clorofiladas, as rodofíceas e até fungos que também podem contribuir para a construção dos estromatólitos (Krumbein, 1983), assim como as diatomáceas que são de grande contribuição para os estromatólitos mais recentes.


Figura 2: Imagem de lâmina petrográfica de um estromatólito domal (tem forma de domo) da Lagoa Salgada -  Rio de Janeiro. (Fonte: SILVA E SILVA, Loreine Hermida; IESPA, Anderson Andrade Cavalcanti; DAMAZIO-IESPA, Cynthia Moreira. Considerações sobre estromatólito do tipo domal da Lagoa Salgada, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Anu. Inst. Geocienc.,  Rio de Janeiro,  v. 30,  n. 1,   2007 .   Disponível em <http://ppegeo.igc.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-97592007000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 25 set.  2015.)

A Figura 3 abaixo identifica uma amostra de estromatólito em corte transversal, mostrando grãos de areia brancos grudados a polímeros viscosos produzidos por cianobactérias. As cianobactérias podem ser vistas como uma camada verde azul claro logo abaixo da superfície. A imagem é de uma amostra de cerca de 2 cm de largura.


Figura 3 : Cianobactérias sobre polímeros e grãos de areia. (Fonte: Abaco Scientist Blog. Link: http://appliedecology.cals.ncsu.edu/absci/2013/01/feature-paper-bahamas-stromatolites/ )

As camadas dos estromatólitos apresentam diferentes morfologias que representam não só a variação na altura do nível dos oceanos em instantes anteriores no tempo, mas também o registro de uma sucessão das superfícies marinhas em termos de interação com fatores físicos, químicos e biológicos (Holfmann, 1973).  Responsáveis pela injeção de grande parte de oxigênio no meio, as cianobactérias podem ter sido um marco no caminho da evolução dos seres vivos e do clima do planeta, sendo fonte primordial de energia nas teias tróficas e impulsionando a formação da camada de ozônio (que é responsável pela retenção de raios ultravioleta).

Durante a fotossíntese, a captação de carbono inorgânico por essas cianobactérias pode elevar o pH adjacente às células, promovendo a precipitação de carbonato de cálcio (CaCO3). Muito provavelmente essa atividade se perpetuou em resposta à diminuição das emissões de gás carbônico na atmosfera, junto com o aumento na concentração de oxigênio, dentro da escala de tempo geológica. E foi justamente essa situação particular que levou ao desenvolvimento dos estromatólitos.

Os fósseis mais antigos foram encontrados em rochas sedimentares na Austrália (Morrison, 2002) e na África do Sul (Byerly et al., 1986), datando 3,5 bilhões de anos, periodo chamado de Arqueano Recente.  Os estromatólitos tiveram um desenvolvimento rápido  durante o Proterozóico (de 1000 a 900 milhões de anos atrás) chegando ao máximo no final desse mesmo éon (período), como pode ser observado melhor na Figura 4.

A redução de gás carbônico durante o éon Proterozóico pode ter surtido dois efeitos sucessivos sobre a calcificação de cianobactérias. Em primeiro lugar, resultou em uma menor concentração de carbono inorgânico dissolvido, elevando o  pH da água o suficiente para que cristais isolados de carbonato de cálcio circundassem as células bacterianas. Como resultado, florações de cianobactérias planctônicas começaram a precipitar carbonato na coluna de água, cuja acumulação sedimentar começou a dominar as plataformas oceânicas. Em segundo lugar induziu a ativação de mecanismos que aumentaram novamente o pH adjacente às células, promovendo a calcificação de lâminas, bainhas in vivo entre os filamentos de cianobactérias.

Ao final deste período houve um declínio generalizado de abundância e diversidade de estromatólitos (Figura 4) possivelmente causado pelo aumento do pastejo realizado pelos organismos herbívoros e da bioturbação do sedimento (Awramik, 1971).  Esse fato possibilitou maior espaço de colonização do meio por organismos metazoários, que são os animais multicelulares. Evidências para isso foram observadas através de registros encontrados referentes à fauna local de Ediacara, uma região da Austrália onde ocorrem os mais antigos fósseis de metazoários (aqueles com células organizadas em tecidos e órgãos) tornando esta ocorrência de tais fósseis uma das mais importantes do mundo (Cataldo, 2011).



Figura 4: Abundância relativa de estromatólitos durante o tempo geológico.(Fonte: Riding, R, 1991.)

Por que hoje em dia não existem tantos estromatólitos vivos e como eles registram o passado do nosso planeta?

As esteiras microbiais (conjunto de microrganismos colonizando uma superfície criando uma espécie de tapete) são metabolicamente ativas em ecossistemas que conseguem fazer reciclagem de nutrientes, causando uma intensa decomposição aeróbica da matéria orgânica, o que dificulta ainda mais a preservação do fóssil. Os componentes da esteira não são totalmente consolidados, tornando os estromatólitos vítimas de erosão. Por isso hoje não vemos mais tantos estromatólitos como antes. A melhor forma para preservar os fósseis  seria através da litificação precoce, envolvendo a cimentação do carbonato de cálcio, além dos processos de aprisionamento e aglutinação dos sedimentos e/ou precipitação mineral que ocorrem nessas bioconstruções (Awramick & Margulis, 1974). Assim, estes sedimentos podem fornecer dados referentes ao desenvolvimento de cada camada laminada e nos informar sobre o passado.

Além disso, a ativação de mecanismos que aumentam o pH adjacente às cianobactérias e promovem a calcificação das lâminas dos estromatólitos só ocorre quando a pressão parcial de gás carbônico atmosférico cai abaixo de ~0.4%. (Rinding, 2006[6] ).

Onde posso ver estromatólitos atualmente?

Estromatólitos modernos são encontrados principalmente em lagos e lagoas hipersalinas marinhas, onde as condições são extremas devido à alta salinidade, que excluem o pastejo animal. Um destes locais é o Reserve Hamelin Pool Marine Nature Reserve, em Shark Bay na Austrália Ocidental (Figura 5), o qual possui excelentes exemplares que podem ser observados até hoje.


Figura 5: Estromatólitos em Shark Bay na Austrália. (Fonte: Shark Bay Guide AU Government.  Link: http://www.sharkbay.org.au/nature-of-shark-bay-stromatolites.aspx)

Outro local é Lagoa Salgada, no norte do Estado do Rio de Janeiro onde os estromatólitos modernos possuem morfologia do tipo domal e em camas (Figura 6).



Figura 6: Estromatólitos da Lagoa Salgada no Rio de Janeiro, Brasil. (Fonte: Scrivastava, N.K. 1999. Lago Salgada (Rio de Janeiro) Estromatolitos recentes. In: Schobbenhaus, C.; Campos, D. A.; Queiroz, E.T.; Winge, M.;Berbert-Born, M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 28/09/1999 no endereço: http://www.unb.br/ig/sigep/sitio041.htm . Atualmente em: http://sigep.cprm.gov.br/sitio041/sitio041.htm )

Os estromatólitos também podem ser encontrados em ambientes de água doce como no Lago Salda, localizado na Turquia, e nos lagos Pavilion (Figura 7) e Kelly em British Columbia, Canada. Isso ocorre pois possuem águas ricas em magnésio, devido a presença de estruturas formadas de hidromagnesita.


Figura 7: Estromatólitos em Pavillon no Canadá. (Fonte: Wikipedia. Link: https://en.wikipedia.org/wiki/Stromatolite)

 Outro local onde é possível encontrar estromatólitos é em Exuma Bays, nas Bahamas (Figura 8), tornando-se peculiar devido a um ambiente de formação que é aberto.


Figura 8: Estromatólitos de ambiente aberto nas Bahamas. (Fonte:
Agora sabemos que os estromatólitos não são apenas pedras com um nome esquisito,são registros de suma importância para a ciência, pois a sobreposição de suas camadas proporciona aos estudos de micropaleontologia e de biogeoquímica, dados que podem servir para entendermos o ambiente da Terra primitiva, ou seja, nosso planeta bem antes do surgimento de nós humanos.


Texto escrito e adaptado pelas alunas do 4º ano em Bacharelado em Oceanografia do IO-USP, Alana Cristina e Alina Pellegrinelli, durante a realização da disciplina Geoquímica Marinha, sob orientação do Prof. Dr. Christian Millo.



REFERÊNCIAS

- Awramik, SM. 1971. Precambriam columnar stromatolite diversity: reflection of metazoan appearance. Science 174:825-827.
- Awramick, S. M.; Margulis, L. (1974) Definition of stromatolites. Stromatolite Newsletter, n.2, p.5.
- Byerly, GR; Lower, DR; Wals MM. 1986. Stromatolite from the 3.300-3.500 Myrs Swaziland Supergroup, Barbeton Mountain Land, South Africa (London) 319:489-491.
- Bosak, T; Newman, DK. 2003. Microbial nucleation of calcium carbonate in the Precambrian. Geology 31: 577-580.
- Cataldo, A.R. (2011) Análise dos estromatólitos e sedimentos associados – Lagoa Salgada/RJ. Trabalho de conclusão de curso, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas.
- Hofmann, H.J. (1973) Stromatolites: Characteristics and utility, Earth-Science Reviews, v. 9, Issue 4, Pages 339–373.
- Krumbein, WE, 1983. Stromatolites – the callenge of a term in space and time. Precambriam Res 20:493-531.
- Morrison, R. (2002) Australia - Land beyond time: The 4th billion-year journey of a continent, New Holland Publishers (Australia).
- Riding, R. (2006) Cyanobacterial calcification, carbon dioxide concentrating mechanisms, and Proterozoic–Cambrian changes in atmospheric composition. Geobiology, v.4 , 299–316