Por Daniela Coelho
Boa parte das pessoas com quem eu já conversei sobre pós-graduação tem referências ruins sobre o ambiente acadêmico. Essas referências vão desde as más orientações que recebem dos seus orientadores (usarei o termo orientadores para me referir tanto a homens quanto a mulheres), até um ambiente pesado, de intensa cobrança e competição, que o próprio programa de pós graduação pode cultivar. Isso sempre me chamou atenção, pois desde o meu terceiro semestre do curso de Biologia eu já tinha interesse na vida acadêmica.
Quando fui prestar a seleção, tive outra grata surpresa: meu orientador se propôs a discutir comigo cada um dos artigos que cairiam na prova, justamente para garantir que eu me sentisse mais segura para o processo seletivo. Embora essa atitude dele seja um ponto fora da curva, ele provavelmente também estava garantindo que o seu investimento de tempo em mim seria garantido se eu fosse aprovada na seleção! Após ingressar no programa e discutirmos nosso projeto, ele fez uma sugestão que achei brilhante! Eu seria preparada a ponto de, no último capítulo da minha tese, ser a única autora, pois ao final do meu doutorado eu deveria “ser capaz de pensar sozinha numa pergunta, delinear e executar uma pesquisa”, e a participação dele seria apenas para aparar as arestas.
Nesse momento eu realmente entendi que sua preocupação não era apenas com o número de artigos que eu iria produzir ao final do meu doutorado, e sim com a qualidade da minha formação. Ele também incentiva os alunos que integram o laboratório a trabalharem conjuntamente na elaboração de uma pesquisa, sem a participação dele e isso tem sido muito produtivo para o crescimento, união e amadurecimento do grupo. Estamos aprendendo a nos ajudar mais. Além disso, nosso orientador disponibiliza uma hora de reunião semanal para cada aluno discutir com ele o projeto ou qualquer outro assunto que quiser. Ele estuda junto com a gente!
A maioria das pessoas diz que eu vivo num laboratório de conto de fadas, e que orientadores como o meu são raríssimos! Pode até ser, quando pensarmos no grande universo das pós graduações. Porém, assim como o meu, eu tenho convivido com diversos outros orientadores que também se preocupam, e muito, com a sua “prole”. Eu faço parte de uma espécie de laboratório integrado, onde, além do meu orientador, existem três outros professores que agem praticamente da mesma forma. Eles não se importam exclusivamente com a nossa produtividade acadêmica, mas também com a qualidade do profissional que eles estão formando para o mercado.
Será que tudo que estou vivendo é um mar de rosas e eu estou iludida com a realidade do ambiente da pós graduação? Claro que não, não me considero uma pessoa tão ingênua assim! O grande xis da questão é saber previamente para onde você quer ir. Como disse o gato do filme Alice no País das Maravilhas, “se você não sabe pra onde ir, qualquer caminho serve”. E quais conselhos eu gostaria de deixar aqui? O primeiro é: busque se informar fortemente sobre o suporte dado por sua pós graduação de interesse à saúde mental dos alunos. Da mesma forma, busque saber quem é o seu orientador de interesse e o que os alunos antigos e atuais pensam sobre ele, tanto como pessoa quanto como profissional. Não esqueça: quem vê lattes não vê coração! A segunda é: não escolha o orientador “apenas” pelo quão produtivo ou expert ele é na sua área de interesse. Escolha também pelo quanto ele vai te respeitar como pessoa e respeitar seus interesses profissionais. Não escolha ”o melhor”, escolha aquele que é capaz de extrair o que há de melhor em você.
Eu sei que não há espaço para todos nesses ambientes ideais, mas quando estamos falando da nossa saúde mental, talvez seja mais prudente refletir se vale a pena estar em lugares que degradem a sua paz de espírito na construção do seu caminho acadêmico ao invés de buscar outras alternativas.
Sobre a autora:
Oi Dani, que lindo ler seu post. Muito inspirador! Surgiu uma dúvida, como você se manteve num laboratório em outra cidade, antes de entrar no doutorado? Havia algum recurso para que você pudesse se manter durante este tempo?
ResponderExcluirOi Cate! Que bom que gostou, fico feliz! Então, eu e meu orientador conversamos previamente e ele me perguntou sobre a possibilidade de frequentar o laboratório antes de fazer a seleção. Porém, ele deixou claro que não teria financiamento para mim e que se eu não pudesse arcar com as despesas da estadia, que a gente poderia ter reuniões mensais por Skype. Como na época eu tinha recursos financeiros próprios, eu consegui frequentar o lab por 2 anos (passava cerca de 20 dias a cada semestre) antes de fazer a seleção. Sei que isso seria muito difícil para a maioria das pessoas, mas eu consegui me organizar previamente para tal, pois eu havia feito contato com meu orientador com antecedência suficiente para juntar a grana necessária para fazer essas viagens.
ResponderExcluirExtraí do seu texto Dani sobretudo princípios que são vitais para tentarmos produzir bem em qualquer área desse mercado de trabalho louco em que estamos inseridos. O nosso desenvolvimento e evolução profissional necessita ter um forte lastro em relações humanas, e em conceitos como empatia, de forma a ser sustentável, saudável, sem provocar as inúmeras doenças físicas e emocionais que assolam a nossa sociedade. Parabéns!
ResponderExcluirCom certeza, João! Obrigada!
ExcluirTexto muito bom com ótimas orientações pra quem quer trilhar este caminho maravilhoso do conhecimento. O orientador pode facilmente se tornar um desorientador.
ResponderExcluirParabéns Dani.
Obrigada!!!
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