quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Comemorando o novo emprego

Não foram poucos os desafios... muitas novidades, novas tecnologias, desafios diários na grande São Paulo e muitos quilômetros para estar em casa, mas ela  sempre enfrentou tudo com um sorriso no rosto, persistência e dedicação. E hoje a equipe editorial do Bate-Papo com Netuno comemora o novo emprego da nossa idealizadora, Catarina Marcolin, como professora na Universidade Federal do Sul da Bahia (http://www.ufsb.edu.br/).

Não temos dúvidas de que ela presenteará muitos alunos de Porto Seguro - BA com as experiências adquiridas em todas as águas por onde navegou, inclusive em outros países (lembra do post "Internacionalizar é preciso!"? Clique aqui para relembrar). 

Desejamos boa sorte nesta nova expedição e esperamos que muitos dos nossos queridos leitores que almejam a carreira acadêmica possam se inspirar em sua história de determinação! Parabéns Catarina!

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

10 habilidades profissionais que você desenvolve fazendo ciência


Por: Lilian Pavani

Quem faz (ou já fez) pesquisa científica sabe como é difícil explicar o que faz, uma vez que o seu trabalho não é um estágio ou emprego, você é bolsista de iniciação científica, mestrado ou doutorado, o que te coloca basicamente na posição de estudante. Quem nunca ouviu a frase “você trabalha ou só estuda?”. Ao contrário do senso comum, sim, você trabalha e muito!!
Engana-se quem pensa que trabalhar com pesquisa é moleza. Pesquisar vai muito além de ler artigos e livros, e envolve essencialmente a construção de conhecimento novo. Nesse ardoroso caminho, todo cientista é forçado a aprender muita coisa que é valorizada no “mundo real”.
Quando eu fazia pesquisa não tinha muita noção de todas as coisas que tinha aprendido, mas quando comecei a trabalhar no mundo empresarial percebi quantas habilidades eu possuía graças à minha iniciação científica e mestrado, ambos em ecologia marinha. Mas independentemente do assunto que você pesquisa, com certeza você concorda com o seguinte:

1. Você sabe usar Word e Excel
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Você pode precisar de uma série de softwares complicados para analisar algo específico do seu trabalho, mas jamais vai dispensar uma tabela de dados ou um gráfico feito no Excel, transformando de pizza para barras e trocando cores de séries de dados até achar o modelo que melhor representa seus resultados. E esteja você pleiteando uma bolsa, apresentando resultados ou formatando uma tese, com o perdão do trocadilho, você tira o Word de letra. Você insere tabelas, imagens e referências sem perder de vista a formatação de parágrafos, margens e rodapés.

2. Você sabe fazer belas apresentações em PowerPoint
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Quem nunca fez um pôster para apresentar em um congresso? E apresentações para uma disciplina da pós ou para sua banca examinadora? Com certeza você desenvolveu um bom senso estético e sabe como escolher a melhor cor de fundo, a melhor fonte, sabe distribuir os elementos do seu slide de forma simétrica e sabe que uma imagem vale mais que mil palavras, apresentando de forma maestral todas as informações importantes adequadas ao tempo disponível, seja 5, 20 ou 50 minutos.

3. Gerenciamento de projetos é algo natural
Provavelmente, tudo começou com uma pergunta que você gostaria de responder, uma necessidade que você identificou – etapa de Iniciação. Para responder a essa sua pergunta você precisou escrever um projeto de pesquisa, então teve que levantar informações, definir as atividades necessárias ao seu estudo, estimar os recursos necessários e prazos - etapa de Planejamento. 
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Com sua bolsa aprovada, você desenvolveu as atividades pré-definidas - etapa de Execução – e enquanto o seu projeto estava sendo desenvolvido, de tempos em tempos algumas atividades e processos foram revistos,  buscando um ajuste e melhorias - etapa de Monitoramento e Controle. Ao final das atividades você apresentou seus resultados em um relatório final e talvez até um artigo, que passou por rigorosa avaliação do seu orientador e outros pares (praticamente uma auditoria) - etapa de Finalização. Pronto, você pode nunca ter ouvido falar em PMBOK ou MS Project, mas sabe tudo de gerenciamento de projetos!

4. Qualidade é obrigação  
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Os níveis de exigência na área acadêmica chegam a ser estratosféricos. Já vi gente sendo desligada da pós graduação porque suas notas não atingiam o desejado pelo programa, o qual tem uma reputação a zelar junto à CAPES e agências financiadoras. Da mesma forma, se seu resumo não estiver satisfatório você não pode apresentar seu trabalho em um congresso e se seu artigo não estiver bem estruturado não será publicado em nenhum periódico. Os pares avaliam tudo e varrem o seu trabalho em busca de um deslize, portanto, fazer bem feito sempre é a ordem.

5. Você se transforma em uma pessoa criteriosa
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Em vista da obrigação da qualidade, quanto mais criterioso você for no desenvolvimento do seu trabalho, maior a chance de que ele seja bem feito. Sem perceber você acaba adquirindo esse hábito.

6. Argumentar é mais que necessário
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Tanto para discutir seus resultados quanto para solicitar financiamento ou convencer seu orientador, você precisa saber embasar, defender e provar seus pontos de vista.
  
7. Você aprende a lidar com pessoas
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Durante a sua pesquisa você precisa lidar com pessoas diferentes em diversos níveis hierárquicos o tempo todo. No mínimo você tem um orientador, quando não há também co-orientadores. Se você está no mestrado ou doutorado, você terá colaboradores, os alunos de iniciação científica. E sempre haverá a necessidade de se relacionar com outros membros do departamento onde você trabalha, principalmente outros professores. Quem conhece minimamente a área acadêmica sabe que costuma haver uma guerra de egos, e você estará sob o fogo cruzado, fazendo o possível para manter as coisas caminhando sem prejudicar o andamento da sua pesquisa.

8. Você entende que prazos são importantes e os cumpre
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Se você possui uma bolsa, você estará sempre atento aos prazos de relatórios de acompanhamento, aos prazos de prestação de contas e liberação de verbas. Se você ainda não tem, você está acompanhando os prazos do programa, bem como os editais para saber quando submeter uma proposta. E se você quer apresentar seu trabalho em um congresso, você tem prazo para envio de resumos (em alguns casos os organizadores podem estender o prazo, mas em geral as pessoas aproveitam a extensão de prazo para revisar).

9. Gerenciamento financeiro faz parte
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Em geral as bolsas de pós-graduação e algumas de iniciação científica possuem uma reserva técnica, uma verba extra que não remunera o pesquisador, mas serve para a aquisição de equipamentos, livros, realização de saídas de campo, enfim, atividades necessárias ao desenvolvimento da sua pesquisa. Essa verba não é   um valor alto e você aprende a gerenciar os recursos financeiros buscando o melhor custo-benefício. Em alguns casos, você aprende até a gerenciar verbas de projetos diferentes para a compra de materiais comuns a todos os envolvidos no laboratório.

10. Você sabe que o seu sucesso depende inteiramente de você

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O ambiente acadêmico acaba sendo muito hostil, exigindo muita dedicação. Por isso, em geral as pessoas buscam se qualificar o máximo possível e estão sempre em busca do aperfeiçoamento.


Portanto, se você tem a intenção de deixar a carreira acadêmica e seguir outra carreira, valorize-se! Você tem muito a oferecer! ;)

Sobre Lilian Pavani:

Bióloga, mestre em ecologia e especialista em engenharia ambiental pela Universidade Estadual de Campinas, amante de esponjas e outros invertebrados marinhos, principalmente os coloridos. Após navegar entre esponjas, algas, anfípodes e petróleo, as correntes e ventos a levaram literalmente a outras estradas, onde atuou no estudo de fauna atropelada, supervisão e gerenciamento ambiental de obras de rodovias. Nutre interesses muito diversos como educação, inovação e cozinha, toca flauta doce em um grupo amador de música antiga, escreve pensamentos e observa pássaros. Enfim, vive com os pés na areia e meio que assim, entre marés.

Lilian Pavani é também autora de outros posts em nosso blog. Clique aqui e leia mais. 


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

As dunas que “andam”


Por Nery Contti Neto


Originalmente publicado em:  https://tenhominhaloucura.wordpress.com

Sempre tive uma ligação muito forte com Itaúnas, ES. Minha bisavó nasceu em Itaúnas velha e teve que se mudar, pois sua casa foi lentamente soterrada pelas dunas. Minha primeira pesquisa na faculdade de Oceanografia foi lá, e quando estava no mestrado, fui chamado pelo pessoal do Parque Estadual de Itaúnas (PEI) para responder a seguinte pergunta: as dunas de Itaúnas, que já soterraram a vila antiga, podem ainda soterrar a vila nova?

Pois fui tentar responder de uma maneira simples e repasso aqui.

Primeiramente, explico o que são as dunas: um depósito arenoso formado pela ação dos ventos quando há areia em abundância – não acontece em um lugar que sofre erosão, por exemplo. Depósito é onde os processos naturais (vento, onda, os rios, etc.) depositam e ganham areia. Erosão é o processo onde um lugar perde material, no caso, areia.

As dunas começam a se formar quando o vento carrega grãos de areia, que perdem sua velocidade quando encontram alguma barreira (podendo até ser um objeto). Quando o vento é forte e constante, o que quer dizer mesma direção e sentido por um longo tempo, as dunas se estabilizam.

Quando as dunas se estabilizam os grãos de areia vão se empilhando sobre os demais, e assim a duna vai aumentando de tamanho e comprimento, que pode variar de menos de um metro (como a maior parte do litoral capixaba) a dezenas de metro e centenas de quilômetros de extensão, como nos Lençóis Maranhenses.

As dunas são importantes porque protegem a praia contra as subidas do mar, como quando entra uma ressaca. São também um hábitat único para diversas espécies de aves, plantas, tartarugas e outros. Servem também como filtros naturais para a água da chuva e subterrânea, podendo até mesmo formar regiões úmidas, o que de fato acontece em Itaúnas, na região dos alagados. Por conta disso tudo as dunas são Áreas de Preservação Permanente, como os manguezais, encostas e topos de morro, nascentes de rio etc.

As dunas de Itaúnas.

As dunas de Itaúnas.

Mas as dunas podem também ser motivo de dor de cabeça para os gestores públicos e ambientalistas. Em períodos de vento mais fraco (ou não tão forte), se não houver muita vegetação, os grãos começam a subir a duna ao invés de serem depositados ao pé dela. E foi o que aconteceu em Itaúnas na vila antiga (e também nas Rendeiras, em Florianópolis). As árvores foram retiradas da restinga na frente da praia no começo da década de 1950, mas principalmente na década de 1970. Com um vento Nordeste constante no verão e muita areia disponível, foi um prato cheio para a formação daquelas dunas, cobrindo a vila que existia.

Agora voltando à pergunta: e quanto a vila atual, ela vai também ser engolida?

Para responder a essa pergunta, comparei fotografias aéreas da década de 70, feitas pelo Projeto RadamBrasil, o primeiro esforço em escala nacional de fotografar todo o país em um avião, com fotografias recentes, utilizando de um software que permitiu a análise desse tipo de imagens. O uso das fotografias aéreas é uma ferramenta muito importante para quem quer entender processos naturais, e muitas dessas fotografias aéreas estão disponíveis gratuitamente.

Na década de 70 a vila antiga (hoje soterrada pelas dunas como falei aqui) já mostrava um processo de soterramento, restando só 30 casas não soterradas. A igreja de São Sebastião, a mais antiga, já estava soterrada e a igreja nova já em construção. A vila atual, que se mudou para atrás do rio, começava a ser ocupada, contando com menos de 10 casas. Em 2012, conversei com moradores da Vila que me disseram que muitos que moravam na vila antiga não passaram para a atual, preferindo ir para Vitória ou Conceição da Barra.

O que pude perceber analisando as fotos é que durante os anos de 1971 a 2008, a área das dunas aumentou 96 mil m2 (ou 9,62 hectares). Uma parte considerável da vegetação das dunas foi perdida nas proximidades da antiga vila e, segundo alguns moradores, não houve desmatamento da vegetação que cobria as dunas, portanto isso seria resultante de um processo natural, não provocado por interferência humana. Isso deixo para os historiadores.

DSCF0435

E aqui jaz a vila antiga

De qualquer forma, um lugar interessante para ver como a retirada da vegetação influencia na formação das dunas é no Buraco do Bicho (que falei no outro post sobre Itaúnas, que fica a menos de 1 km de distância da praia principal). Essa feição - conhecida como blowout - é uma feição erosiva/deposicional (os dois processos acontecem juntos) com um formato semicircular ou alongado no meio de um campo de dunas. São muito comuns nos locais onde há ventos de alta energia.

Eles começam a se formar quando há uma redução da vegetação e vento soprando forte. Os ventos vão então ficando mais fortes por afunilamento e vão retirando a areia desse local e depositando ao seu lado, daí o formato semicircular. Esse efeito continua acontecendo até que o vento remova tanta areia que atinge o lençol freático, deixando o formato assim ó:

O Buraco do Bicho - zona de Blowout

O Buraco do Bicho - zona de Blowout

É possível inferir que as dunas de Itaúnas (as mais famosas) provavelmente começaram com um blowout, logo, o Buraco do Bicho pode também formar novas dunas tão grandes quanto as dunas mais famosas de Itaúnas.

Clique para aumentar

Nesse mapinha aí de cima dá para ver que marquei 3 caminhos. O Caminho 1 representa a maior distância percorrida pelas dunas em 37 anos em direção a Noroeste, o Caminho 2 foi o maior caminho que as dunas percorreram no mesmo período em direção a sudoeste e o Caminho 3 foi um caminho que tracei de menor distância entre as dunas e a vila recente. 

Agora pense comigo: para a duna andar para norte, o vento tem que soprar empurrando a duna para o norte, certo? Mas na oceanografia a convenção é de chamar o vento pela direção que ele vem, e as correntes pela direção que ela vai. Ou seja, o vento vem de sul e vai para norte - empurrando a duna para norte – e tem o mesmo sentido de uma corrente norte, que vem de sul e vai para norte.

Dessa maneira, o Caminho 1 é maior distância percorrida pelas dunas em resposta ao vento Sudeste (andando para Noroeste) e o Caminho 2 é a maior distância percorrida pelas dunas em resposta ao vento Nordeste (andando para Sudoeste). Na região o vento de Nordeste sopra a maior parte do tempo, mas é mais fraco do que o vento de Sudeste, que só aparece quando há frentes frias, mas entra com toda a força.  Para ajudar, vai uma colinha aí:



Para comparar, em Cabo Frio as dunas respondem mais ao vento de Nordeste, enquanto as dunas de Florianópolis respondem mais ao vento sul, que é bem mais forte nesta região. No Rio Grande do Norte o que domina são os ventos alísios de sudeste (um tipo especial, já conhecido pelos navegadores portugueses). E olha a direção que as dunas tomam:
  

Voltando pra Itaúnas, sabendo que com ambos os ventos (NE e SE) as dunas “andaram” 180 m em cada direção entre 1971 e 2008, isso dá uma média de quase 5 metros por ano, e assim dá para calcular quando e se elas um dia vão atingir a vila nova. Além da cidade nova, as dunas estão avançando também para dentro da área de alagado, uma área extremamente sensível e rica em biodiversidade. E isso já está acontecendo, infelizmente.

Pois bem, se os ventos continuarem soprando com a mesma força e direção, se as dunas andarem na mesma direção e ainda se houver bastante areia sobrando, as dunas demorariam 147 anos para avançar sobre a cidade nova!

E o que pode ser feito? 

Bom, quando fui lá em 2012, os funcionários do parque já estavam tomando algumas iniciativas, como jogar palha de coco moída para fornecer matéria orgânica para o solo. Isso faz com que a vegetação cresça, ajudando a barrar o transporte de areia e, desta forma, diminui a mobilidade das dunas.

Quando voltei, depois de um ano, havia acúmulo de areia nas cercas. Isso é um bom sinal de que a vegetação consegue conter bem o avanço de dunas. Agora é monitorar e ver o que vai acontecer!

Cercas e palha de coco para conter o avanço das dunas 
Cercas e palha de coco para conter o avanço das dunas

Uma outra medida muito importante que já foi tomada foi a de proibir a caminhada em qualquer lugar do campo de dunas. É claro que é muito legal fazer sandboard nas dunas, andar por qualquer lugar à vontade e ficar pulando nas dunas, mas em uma cidade em que o turismo é principalmente ecológico, devemos seguir algumas regras básicas. 

Quando uma pessoa anda sobre as dunas ela está ajudando na sua mobilidade e acelerando esse processo de movimento das dunas. Mas isto não é causado por uma pessoa só, estamos falando de muitas pessoas já que Itaúnas é um dos pontos principais de turismo no Estado. Então respeite essa regra e ande apenas onde já há trilhas demarcadas! A zona de alagado, com toda sua biodiversidade e a cultura da vila nova de Itaúnas, já está sofrendo com essa mobilidade das dunas.

E quando for a Itaúnas se informe sobre a história do local, converse com os moradores para perguntar as histórias antigas (eles são super receptivos e adoram conversar) e aumente sua consciência ambiental. Conhecer o passado é muito importante para preservar o futuro!

E boa viagem!

Quem quiser ler mais sobre esse trabalho envie um e-mail para nerycn@gmail.com.

Sobre Nery Contti Neto
Oceanógrafo, músico e apaixonado por viagens. Nasci rodeado pelo mar, morei em mais 4 lugares fora de Vitória e os 3 eram ilhas. Fiz mestrado em Oceanografia Geológica pela USP e atualmente trabalho com instrumentação Oceanográfica, com medição de ondas, correntes e marés.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

As aventuras de trabalhar no mar


Quando decidimos ser biólogos ou oceanógrafos e escolhemos trabalhar com os organismos marinhos não vemos a hora de fazer o trabalho de campo. Praias, regiões costeiras e até mesmo mar aberto!!! Mas não contamos com os imprevistos, ou podemos chamar aqui de aventuras.... Como tempestades, falta de água doce na embarcação, âncoras enroscadas, variações das marés, entre outras.
Já passei por muitas situações de pura adrenalina. Me lembro uma vez, quando estava embarcada no navio oceanográfico Prof. W. Bernard, que ocorreu uma forte tempestade com ondas gigantescas que sacudiam o navio de um jeito que, para nossa segurança, não podíamos sair do interior do navio... esse mal tempo durou cerca de 3 dias!! Durante um embarque passamos por uma situação de confinamento, imaginem só sem poder sair para o convés.... Tivemos que ter muito autocontrole e tomar remédios para enjoos!!!
Nesta mesma expedição, devido ao mal tempo, houve um atraso no cronograma para cumprir a jornada planejada e ocorreu um problema técnico, consequentemente ficamos sem água doce... mas pensem, tomar banho de água salgada tudo bem!!! Mas... escovar os dentes blahhhh!!! Horrível!!
Outra aventura que passei no mar foi em uma coleta no Porto de Santos. O ponto de coleta era exatamente no canal, onde transitam as embarcações, e ficávamos com o barco ancorado. Era no início da noite quando um navio cargueiro começou a sinalizar sua passagem... daí então seria apenas levantar âncora e sair da frente. Uhum!!! Mas a âncora ficou enroscada nos cabos que ficam no fundo e pensem... o navio buzinando e a gente preso!!! Socccoooorrooooo era o que eu queria gritar na hora... mas a equipe conseguiu cortar o cabo da âncora e saímos a tempo da embarcação passar.. Ufa!! Essa foi por pouco...
Em outro momento também estávamos no meio da tempestade com ondas fortes e raios caindo no mar e o piloto do barco falava: - Alguém olha pra mim aí na frente, pois não estou enxergando nada!! Oi? Como assim? Pensei: Cadê o colete salva-vidas vou pular!! Tchau!!! Mas a equipe foi orientando o piloto e chegamos na marina sãos e salvos!!!
Além de ficarmos molhados praticamente o dia todo, trabalhar com capacetes e coletes (suuuper confortáveis!! -#distractinglysexy), passar frio, calor, trabalhar embaixo de chuva, pegar peixes na mão, coletar algas, puxar redes de coleta e até mesmo carregar equipamentos pesados,  amamos nossa profissão!!

Há uma hashtag no Twitter e Instagram divertíssima, onde pesquisadores contam aventuras em trabalhos de campo, nem todos em mar, mas recomendo a busca #fieldworkfail. Imagine por exemplo, você colocar um chip de mais de 1000 dólares em uma raia e depois ver que se trata do mesmo indivíduo que você “chipou” no dia anterior, entre outras…

Mas temos muitas aventuras boas e fascinantes como avistar um grupo de baleias e golfinhos, ver passar um cardume de peixes voador, observar um albatroz acompanhando o barco, nasceres e pores do sol fantásticos, céus magnificamente estrelados e nos deslumbrar da variação de cores do mar a cada dia!!!

Golfinhos observados durante as expedições por Cássia (Projeto Marflat) e Catarina (Projeto Antares) na região de Ubatuba. Fotos: Cássia Goçalo e Catarina Marcolin.
Abaixo segue alguns depoimentos das biólogas do blog e suas aventuras durante os trabalhos de campo:

Catarina - Eu já participei de alguns embarques, em todos eles o trabalho era sempre muito duro, mas o clima sempre foi de muita diversão. Os maiores perrengues aconteceram em duas ocasiões, a primeira foi num embarque na costa do Rio de Janeiro, quando o tempo "virou" e voltamos "correndo" para a costa, com altas ondas pelo caminho. A segunda aconteceu quando embarquei no veleiro da expedição Tara Oceans também tivemos três dias inteirinhos de tempo muito ruim… ninguém sentia apetite para comer - por conta de enjoos - e durante a noite mal dava para dormir porque o barco se eleva com a ondas e batia com toda a força na água sacudindo tudo, parecia que eu ia cair da cama a cada cinco minutos. Mas os 12 dias restantes dessa expedição foram de tempo muito bom e navegação tranquila, apreciando a comidinha maravilhosa da nossa cozinheira francesa que até me passou uma receita de brioche (nhammm). Mesmo passando por ocasionais dificuldades minhas lembranças são principalmente dos momentos bons e divertidos quando fiz amigos, avistei paisagens maravilhosas e apreciei muita fauna carismática, apesar do enorme cansaço com todo o trabalho que é super intenso. 

Por do sol em alto mar Projeto Ecosar. Foto Jana del Favero

Jana – Minhas melhores aventuras não aconteceram em alto mar como as já citadas aqui, e sim bem perto da costa, durante o meu mestrado. Eu tinha que coletar peixes da zona de surfe durante a maré alta e baixa (lembra do meu post sobre isso?! Clique aqui). Saíamos de chatinha ou voadeira, ou seja, um pequeno barco com motor de popa, da base de Cananéia do IOUSP e íamos até a Ilha Comprida, próximo da barra. Durante a maré baixa era sempre tranquilo parar a chatinha na praia, pois quase não havia ondas na parte mais interna do estuário… Porém, durante a maré alta era sempre uma aventura, pois tinha muita correnteza, e ás vezes ondas quebrando, o que dificultava o desembarque das pessoas e dos equipamentos… Tombos eram comuns… Parávamos sempre no ponto mais abrigado e andávamos para os outros, entretanto, uma vez a maré subiu muito rápido e tivemos que voltar com água no joelho, carregando rede, equipamentos e amostras… Outra vez, voltando já pra base, o motor enroscou em um cabo que prendia um cerco (uma arte de pesca bem comum no litoral sul de SP) e a chatinha virou… Fomos todos pra água e por sorte ninguém se machucou! Alguns equipamentos quebraram, mas as amostras foram salvas! Diria que foi um belo susto!
Outra grande experiência que tive foi no período que fiquei no exterior (http://batepapocomnetuno.blogspot.com.br/2015/04/uma-brasileira-fazendo-pesquisa-na.html), durante o inverno coletávamos a -30° C e como o chão da embarcação molhava com a retirada das redes, a água logo congelava, então tínhamos que nos equilibrar em um barco balançando em um chão com uma camada de gelo, um super rinque de patinação no gelo!

Atobás acompanhando o navio de Pesquisa (Projeto Ecosar). Foto: Jana del Favero

É verdade... trabalhar no mar é uma aventura!! Eu recomendo!!!

Cássia embarcada no barco de pesquisa da USP durante um projeto em Ubatuba - SP.
E você, já passou por alguma enrascada, cilada ou diversão no mar trabalhando? Deixe um comentário contando como foi!