quarta-feira, 29 de abril de 2015

Uma brasileira fazendo pesquisa na “gringa”

É cada vez mais comum a saída de brasileiros para estudar e/ou pesquisar no exterior, quer  seja durante a graduação ou durante a pós-graduação. Todo mundo já ouviu falar de pessoas que tiveram experiências maravilhosas no exterior, outras que tiveram algumas frustações e desapontamentos. A decisão de sair do conforto de casa, ficar longe da família, dos amigos, nunca é fácil. Para nós mulheres, muitas vezes o intercâmbio deixa de acontecer porque o marido não pode acompanhar, ou porque tem a escola do filho. Eu tive a sorte do meu marido ter aceitado embarcar nessa aventura comigo, e como no momento estou morando nos Estados Unidos, resolvi compartilhar com vocês minha experiência e dar algumas dicas, para tentar ajudar aqueles que pretendem estudar e/ou pesquisar no exterior.

A idéia de fazer a dupla titulação surgiu no final do meu mestrado, quando o convênio entre o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) e a Universidade de Massachusetts (UMASS) estava ainda sendo assinado. Alguns professores da UMASS foram para o Brasil divulgar a faculdade, o programa, e desde o principio já quis participar, pois muito me interessou a história de fazer um único doutorado e sair com os dois diplomas... 

Cheguei em New Bedford - Massachusetts (EUA) em agosto de 2014 e confesso que o povo americano foi algo que de cara me surpreendeu. Apesar daquele aspecto mais frio típico de qualquer estrangeiro, foram bastante solícitos e prestativos. Não esperem abraços, beijos e a recepção brasileira, mas com o tempo você vai se sentido acolhida. Me ajudaram a arrumar um apartamento e praticamente o mobiliei de graça, cada dia era alguém me oferecendo alguma coisa... Além do mais, os alunos do instituto onde estou marcam happy hour praticamente a cada 15 dias, me acolheram no Thanksgiving, Natal, festa de Halloween etc. 

School for Marine Science and Technology (SMAST), localizada em New Bedford, MA, EUA. 

Bem, mas vamos ao que interessa, a faculdade. É fácil perceber que sim, eles tem dinheiro, sim eles tem equipamentos e sim, eles tem bons professores e pesquisadores. Mas sinceramente, nada que não seja encontrado pelo Brasil em diversos institutos também. Mas a idéia desse post não é comparar instituições do exterior versus brasileiras, isso daria um outro post e uma outra discussão. O que pretendo com esse post é fazer comparações mais culturais e do nosso dia a dia.  

Uma das coisas que estranhei é o fato de não ter propriamente uma hora de almoço, sair um grupo para almoçar é bem raro e, quando acontece, é marcado com bastante antecedência. A grande maioria leva marmita e, ou come rapidinho na copa, ou come na frente do computador mesmo. Eu particularmente sempre vou pra copa na esperança de ter alguém disposto para um papinho. Outra diferença é não ter hora do café, aquele outro momento que você sabe que vai encontrar amigos para um outro bate papo. Em compensação, às 17 horas todo mundo já foi embora, então você tem o resto do dia pra ir pra academia, happy hour, compras etc... e nesse momento sim vão socializar com você. Senti isso nítido, local de trabalho é trabalho, lazer é lazer. 

Essa distinção entre trabalho e social ficou bem nítida no dia em que fui ao NOOA (National Oceanic and Atmospheric Administration) me encontrar com um pesquisador que conheci em um congresso em Miami em 2013 e encontrei novamente com ele em Quebec em 2014. Nossas conversas no congresso sempre foram como amigos e ele se mostrou bastante interessado no meu trabalho e disposto a ajudar. Cheguei no NOOA esperando que fôssemos tomar um café, prosear, e depois discutir o trabalho. Mas não, chegando já fui direto para a sala de reuniões, meu “amigo” chegou com mais dois pesquisadores que brevemente se apresentaram e já pediram para eu apresentar meu projeto, o que eu estava pesquisando. Foram três horas de discussão do meu trabalho, bastante produtivas, que culminaram numa parceria que mantenho até hoje. Porém, o bate papo que eu estava esperando que fosse acontecer, como sempre acontecia quando encontrava esse pesquisador nos congressos, não aconteceu. 

Coletando à -10°C. 
Outra coisa que acho que quem vem para o exterior fazendo dupla titulação deve aproveitar é a oportunidade de cursar disciplinas, coisa que somente um “sanduíche” não te oferece. É interessante ver como é tratada uma disciplina no exterior. Por exemplo, todo dia antes da aula você já tem que ter lido o capítulo correspondendo ao tema, ter assistido as aulas online (sim os professores gravam vídeos e colocam online) e na aula mesmo é só uma revisão rápida e discussão.

Por aqui também se tem seminário toda semana, um ótimo momento para ver pessoas e não tomar café sozinho, além dos seminários serem sempre interessantes... Fico feliz de um dia ter seminário de alguém do Woods Hole, outro de alguém do MIT, Harvard, NOOA (se você nunca ouviu falar nessas instituições vale a pena um google, todas são instituições de peso na área da oceanografia). Acho importante aproveitar o momento no exterior para fazer contato com outros pesquisadores e ampliar o network. 

Outra dica que dou para qualquer pessoa indo para um país que tenha um inverno mais rígido é se programar para chegar no verão. Dessa maneira você chega ainda quentinho, sol brilhando, e se estiver no hemisfério norte pegará todo o outono. Não tem como não se apaixonar pelo outono, ver todas as árvores mudando de cor e as folhas caindo, até o cheiro fica diferente. Quando o inverno chega você tem que mudar totalmente tua rotina, não dá mais para andar tranquilamente, tudo fica branco e cinza, e o pessoal não para de reclamar que todo dia tem que limpar o carro pra sair, do frio etc... Mais uma boa razão para fazer tua chegada no verão, você já terá feito amizades e durante o inverno será convidada para jantares e cervejinhas na casa de amigos, que passa a ser a programação principal em dias de frio e nevasca. Mas para nós, “gringos”, é uma experiência única e linda. Até ficar duas horas tirando neve do carro ou andar pela rua como se fosse um rink de patinação no gelo passa a ser divertido. E por fim chega a primavera, e a cada grau que a temperatura aumenta você percebe a mudança no rosto das pessoas, todos voltam a sorrir. 

Ritual de limpeza do carro. 

O mais importante de lembrar é que você que é o peixinho fora d’água, então não espere que eles se acostumem com você, mas sim você que deve se acostumar com eles, com seus modos e culturas. Tente sempre ver o lado positivo das coisas e das pessoas, tentando não reclamar de tudo que aparecer... Aproveite o momento para abraçar todas as oportunidades, todos os eventos, seminários e trabalhos que aparecerem. O interessante é voltar para o Brasil com a bagagem cheia de novos aprendizados e histórias.

Gostou desse post? Continue lendo sobre o assunto aqui.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A feliz alteração na minha carreira proporcionada pela minha filha

Para continuar com a discussão sobre quando colocar filhos no cronograma (acesse aqui), convidamos a bióloga Lilian P. de Oliveira para compartilhar conosco seu depoimento.


Ilustração: Silvia Gonsales.

Todos nós temos sonhos e objetivos na vida. Eu, como não sou diferente, sempre sonhei em casar e constituir uma família, assim como ter uma vida profissional estável. Durante minha vida escolar me fascinavam as aulas de biologia, assim como as de artes plásticas... nada a ver, eu sei! Mas a biologia falou mais alto e iniciei o curso de graduação em Ciências Biológicas e da Saúde. Foram quatro anos de muita dúvida, não sabia se conseguiria estágio, emprego, o que faria do meu futuro profissional. No final da graduação, um amigo me indicou um estágio no laboratório de Zooplâncton do Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP). Quase nem acreditei! Marquei para conversar com o professor que coordenava o laboratório e ele me aceitou como estagiária. Em uma semana lá estava eu aprendendo a identificar copépodos e outros organismos marinhos microscópicos (Leia mais em “Para o plâncton, tamanho é documento...”). Fiquei no laboratório participando dos projetos de pesquisa, conheci diversas pessoas e fiz amigos especiais que fazem parte da minha vida até hoje! Após dois anos ingressei na pós-graduação no curso de Oceanografia Biológica do Instituto, os meses que seguiam seriam de muito estudo e dedicação ao meu projeto. 



Em paralelo, a vida pessoal seguia também! Montei minha casa, me casei e uma nova fase se iniciou. Parte do meu objetivo foi alcançado, mas a maternidade estava presente em meus planos, seria para o ano seguinte ao término do mestrado. Como não podemos controlar tudo na vida, o inesperado aconteceu, engravidei um ano após o início do curso... tensão total! Não sabia se meu desespero era por ser muito imatura emocionalmente, por não ter uma vida profissional estável, por estar no meio do mestrado... na verdade acho que foi tudo isso e mais um pouco!


A cada semana gestacional sentia a transformação no meu corpo, nos hormônios e a “ficha caiu”, um bebê logo estaria em meus braços dependente de mim 100%. Meu Deus, o que eu faço? Era o pensamento diário que martelava em minha mente.

Se não bastasse essa dúvida de como ser mãe, como cuidar de um ser tão frágil, ainda tinha meu trabalho. Faltava muito ainda para finalizar, então segui com a evolução dos meus dois bebês, a Letícia e a dissertação! Adiantei tudo o que pude do trabalho em laboratório para que quando ela chegasse eu pudesse ficar em casa apenas redigindo. E tudo deu certo, contei com a ajuda e compreensão de todos os envolvidos.

Chegou o dia, a Letícia nasceu em 17 de dezembro de 2008, branquinha, olhos azuis, uma princesa rsrsrs!! Os três dias que permanecemos na maternidade foram perfeitos, podia dormir, me alimentar bem para ter energia e amamentá-la, mas o sonho acabou quando voltei para casa. Sabia que no início seria muito difícil, um bebê não vem com manual de instruções, fui me adaptando a cada dia com essa nova relação, tudo era novidade para nós duas. Além de cuidar dela tinha que analisar alguns resultados e redigir o texto da dissertação. Meu prazo estava próximo, teria que entregar em seis meses.

Alguns dias não sentia nem vontade de ligar o computador para trabalhar, passava o dia “babando” a filhota! A cada dia uma mudança, era nítida a evolução, o aprendizado. Somos muito perfeitos, nosso organismo trabalha sincronizado e o desenvolvimento acontece muito naturalmente. Fui abençoada em poder acompanhar essa fase da vida dela.

Os dias passaram e meu prazo estava chegando ao fim, o que fortalecia era saber que ao terminar teria mais tempo para me dedicar a minha filha, isso ajudou muito, era meu combustível. Consegui finalizar as correções do professor, imprimir o trabalho e apresentá-lo à banca de julgamento da pós-graduação... Pronto, mais um parto bem sucedido rsrsrsrsrs!

Afastei-me de tudo e desempenhei apenas o papel de mãe durante os meses seguintes. Cheguei a pensar que estava livre, que tudo seria mais fácil a partir daquele momento, mas o questionamento em relação ao meu futuro continuava... deparei-me com duas opções: a primeira seria voltar para a pesquisa, continuar meu trabalho e posteriormente encarar um doutorado... seria perfeito!! Na área profissional estaria realizada, mas existiam pontos negativos nessa escolha, teria que me deslocar de um lado ao outro da cidade, gastar 4 horas por dia no transito “louco” de São Paulo, viajar para as coletas e ficar dias longe de casa. A segunda opção era trabalhar com meu marido em uma empresa de importação e vendas na área administrativa, como já tinha experiência recebi essa proposta... acho que atraio esse tipo de função devido à minha organização exagerada! Teria vantagens, pois o escritório ficava no mesmo bairro onde morávamos na época e a cinco minutos da escola onde a Letícia ficaria, estaria próxima da minha família e sem desgaste emocional. Foi um momento complicado, teria que escolher entre minha carreira e minha família... minha vontade era sumir, desaparecer e não ter que fazer escolha nenhuma, não tinha ideia do que eu queria.

A princípio optei pelo emprego administrativo, mas tinha sempre em mente que voltaria para a pesquisa em breve, mas o tempo foi passando, me adaptei as funções exercidas na empresa e a comodidade de estar com minha família fez toda a diferença. Já não pensava mais em voltar para a área, estava desatualizada. Passei um período muito triste, pois sentia que abandonei um sonho, que joguei fora os anos de estudo e de trabalho, sempre me questionava se havia escolhido o melhor caminho.

Passaram-se seis anos e hoje vejo que minha escolha foi correta, estou realizada profissionalmente, pois tenho um bom trabalho, desempenho uma função de confiança na empresa e sou agradecida pela minha linda família. A Letícia participa diretamente da minha vida, é minha amiga e companheira, fazemos muitas coisas juntas e isso é maravilhoso! Sou muito feliz com a vida que escolhi. 

Sobre a autora:

Lilian P. de Oliveira é bióloga, mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo e super mãezona. Participou de vários projetos de pesquisa junto ao Laboratório de Sistemas Planctônicos, no qual desenvolveu seu projeto de Mestrado “Análise comparativa da distribuição das famílias Salpidae e Doliolidae em relação ao zooplâncton total na plataforma continental sudeste do Brasil por meio de técnicas semi-automáticas de identificação e contagem” que descreve a distribuição de salpas e dolíolos (“primos” das águas-vivas), que são ecologicamente importantes no ambiente marinho e se alimentam de organismos planctônicos, inclusive de larvas de peixes. Lilian analisou material biológico coletado na costa do Brasil durante cruzeiros oceanográficos realizados pelo Instituto Oceanográfico, utilizando um scanner a prova de água, chamado ZooScan, que gera imagens dos organismos para facilitar a contagem e mensuração do seu tamanho.




quarta-feira, 22 de abril de 2015

Algas flutuantes: o meio de transporte dos invertebrados marinhos

Por Izadora Mattielo

Um caso na Patagônia Chilena...

Durante a faculdade, fui fazer um estágio de férias no Chile com um professor da Ecologia Marinha. Lembram do post de sexta-feira (acesse aqui)? Pois é, internacionalizar é preciso!!!

A minha sorte é que um mês antes da viagem eu encontrei este professor em um congresso aqui no Brasil, onde pudemos planejar o meu projeto que seria com as “algas flutuantes”. Oi? Ele queria que eu entrasse em um barco e caçasse as algas que estavam flutuando no meio do mar para analisar a fauna acompanhante. - Hummm, OK. E?

Aí o professor me explicou que essas algas se desprendiam por causa das fortes correntes marinhas, tempestades ou ventos, e iam flutuando à deriva, termo em inglês chamado de rafting. E junto a elas acompanhava uma fauna que se abrigava entre suas folhas, principalmente de invertebrados marinhos que não tinham fase larval e, sim, desenvolvimento direto. Ou seja, as algas seriam um mecanismo de dispersão e conectividade das espécies marinhas!


Foto: Macrocystis pyrifera flutuante. Por Ivan Hinojosa.










Foto: Esquema das algas bentônicas, flutuantes e os animais
mais comuns encontrados em ambas as algas. Por Ivan Hinojosa.















Este professor e sua equipe já haviam reportado o aparecimento de espécies nativas em diferentes regiões do país, principalmente de animais que não tinham fase larval. Portanto, não tinha como esses animais se dispersarem livremente. Isso só seria explicado através de um “carregamento” dessas espécies para novas regiões...ou seja, pelas algas: o novo meio de transporte da comunidade marinha! Interessante, não?

E foi! Como eu só fiquei três meses lá, não pude participar das coletas das minhas amostras (da parte mais legal), porque quando eu chegasse já teria que começar a identificação da fauna. Mas meu chefe foi muito legal e me levou em uma expedição de outro projeto! Pensem em um lugar paradisíaco, ondas gigantes, barco pequeno, muito frio e sol ao mesmo tempo, GPS na mão, binóculos na outra, papel e lápis para anotações e somente três pessoas a bordo para fazer tudo. Não podíamos tirar a atenção do mar à busca das frondes de algas. Ah, se eu passei mal de tanto olhar pra baixo para a água? Imagina! Nestas horas, é só contrair o abdome e lembrar do amor à ciência que dá tudo certo!

Fotos: À esquerda eu no barco em Punta Choros antes da coleta; e à direita, o pessoal coletando a fronde de macroalga flutuante com peneira para não escapar nenhum animal. Por: Ivan Hinojosa.


O meu projeto tinha como um dos objetivos comparar a fauna acompanhante de algas flutuantes com a de algas que ainda não se desprenderam, que chamamos de bentônicas, ou seja, que estão fixas ao fundo ou a algum substrato, pedra, por exemplo. E neste caso, elas foram coletadas através de mergulho autônomo. As algas que trabalhei eram da espécie Macrocystis pyrifera, que formam grandes kelps (florestas) no Oceano Pacífico.




Foto: Fronde de algas bentônicas à esquerda, os famosos kelps marinhos; e à direita detalhe da Macrocystis pyrifera, com suas folhas e aerocistos. Segunda foto por: Ivan Hinojosa.


No laboratório, estas algas foram lavadas sobre peneiras para reter os animais que queríamos identificar. Depois disso, pesamos as algas, medimos o tamanho das folhas e outras estruturas importantes. Na lupa, fizemos a identificação dos animais.

Então vamos ao que interessa: os resultados! As algas bentônicas, que estavam fixas, tinham uma abundante fauna acompanhante, diferentemente das flutuantes. Além disso, certos grupos nunca apareciam nas algas flutuantes, como os ouriços-do-mar e alguns tipos de crustáceos (que na biologia são chamados de decápodas), provavelmente pelo fato de não conseguirem se agarrar às algas e não ficarem fixos durante a “viagem” à deriva.

Gráfico de porcentagem de ocorrência dos táxons em cada tipo de alga,
flutuante e bentônica. Por Izadora Mattiello e Ivan Hinojosa.
Outro fato interessante é que apesar da menor abundância de espécies, as algas flutuantes apresentaram, em sua maioria, espécies com desenvolvimento direto, sem fase larval, o que reforça ainda mais a nossa hipótese inicial de que as algas flutuantes contribuem na dispersão das espécies. Um caso bem conhecido na costa chilena é do molusco bivalve Gaimardia trapesina.

Infelizmente, quase tudo tem seu lado negativo. Neste caso é o carregamento do lixo! Com tanto lixo marinho, que nós humanos porcamente poluímos, as algas acabam por fazer esse tipo de transporte também. Durante minhas análises, cansei de jogar fora plásticos, tampinhas de garrafas, pedacinhos de corda, que acabaram grudando nas algas. Nestas horas fica bem nítido o quanto a gente já abusou desse ecossistema.

Você gosta de lixo no seu carro, no metrô, no avião? Quando estiver na praia lembre-se do meio de transporte dos animais marinhos, pelo menos...

Foto: Ivan Hinojosa.
Saiba mais em: Lab BEDIM

Até a próxima!


sexta-feira, 17 de abril de 2015

Internacionalizar é preciso!

Por Catarina R. Marcolin

Olá a todos, a postagem de hoje é sobre uma das grandes vantagens em se tornar cientista: conhecer o mundo! Desde quando era apenas uma adolescente eu já sonhava em viajar para outros lugares, conhecer novas culturas, ver lindas paisagens, enfim, conhecer nossos vizinhos nesse planeta que é tão grandioso e ao mesmo tão pequeno. Eu nasci no interior da Bahia e sempre senti falta de ter acesso maior à cultura, de poder visitar museus, de poder viajar para outros lugares além de Subaúma nas férias de janeiro.

Uma das motivações para me tornar cientista dos mares foi a oportunidade que nós temos de trabalhar diretamente com a natureza. Então, por mais que eu não achasse que iria viajar para muito longe de casa, pelo menos meu trabalho me permitiria viajar para alguma praia paradisíaca de um modo diferente do turista comum (mesmo que fosse na Bahia, minha terrinha). Quando viajamos para coletar nossos dados temos uma oportunidade única de conhecer um lugar do jeitinho que ele é. Uma experiência bem diferente do modo engessado, tão comumente propagado pelas agências de turismo.


Pôr do sol visto do barquinho de pescador
alugado para as coletas durante o mestrado.
Quando viajamos para coletar, podemos conhecer não somente as paisagens turísticas, mas vamos a recantos muitas vezes inexplorados, conhecemos as pessoas que ali vivem, descobrimos um pouco da sua cultura e podemos nos conectar com essas pessoas de forma mais verdadeira e não apenas através de relações de compra e venda de produtos e serviços. É possível descobrir um pouco da história de vida dessas pessoas e de como elas se relacionam com seu vilarejo, com a natureza, com a vida. 

Além disso, fui descobrindo que é extremamente importante para um cientista ter oportunidades de interagir com pesquisadores de outros países, de vivenciar o dia a dia em laboratórios com rotinas completamente diferentes da sua instituição de origem. Portanto a ciência me ajudou a preencher esse “vazio“, essa necessidade que eu tinha de consumir cultura e de conhecer o mundo.

Durante o doutorado, foi quando tive as melhores oportunidade em termos de internacionalização. Durante minha entrevista de seleção, a comissão de seleção da pós-graduação do IO-USP me informou que era muito importante que eu me esforçasse ao máximo para fazer um doutorado-sanduíche, ou seja, passar alguns meses trabalhando em um laboratório fora do Brasil. Ainda fiquei sabendo nesta ocasião que havia bolsas suficientes para isso e que internacionalização é um item muito importante para a avaliação de qualidade dos cursos de pós-graduação feita pela CAPES.

Nos últimos anos, o Brasil vivenciou um período muito bom para os estudantes de graduação e pós-graduação em termos de internacionalização. Muitas bolsas foram concedidas para estudos temporários no exterior e eu fui contemplada com uma delas durante para fazer doutorado-sanduíche, bem no começo do programa Ciência sem Fronteiras. 

Apesar deste programa ser importantíssimo, é relevante destacar que estar na USP, associada a um pesquisador produtivo e reconhecido internacionalmente (conheça mais sobre nosso laboratório aqui  http://laps.io.usp.br/index.php), fez toda a diferença na minha formação acadêmica. Então, além de trabalhar com um tema que me fascina, tive acesso à tecnologias inovadoras e pude viajar bastante. 


Nunca achei que pudesse ver com meus
próprios olhos um gêiser em plena
 atividade na Islândia.
Passei não apenas quatro meses fazendo doutorado-sanduíche nos EUA em College Station (Texas) como também fiz um curso na Noruega e outro na Islândia sobre temas correlacionados à minha tese e participei de dois congressos internacionais, fazendo apresentações orais do meu trabalho, em Pucón, Chile, e em New Orleans, EUA. Tem mais informações sobre essas experiências (só as divertidas) no blog catviajandoporai







You can do it!
Além de viajar pelo mundo eu também participei de embarques em navios oceanográficos para coletar os dados do meu projeto de doutorado. Passei muitos dias ao mar, navegando com outros pesquisadores e com a tripulação desses navios. Um dos embarques mais marcantes aconteceu a bordo de um veleiro como parte do projeto Tara Oceans (http://oceans.taraexpeditions.org/en/m/about-tara/10-expeditions/tara-oceans/), com uma equipe internacional, num projeto liderado por franceses. 

Foi através destas experiências, entre outras, que fui aprendendo ao longo do caminho sobre como trabalhar de forma mais eficiente, sobre como me comunicar de forma adequada com outros pesquisadores, usando linguagem correta, e de aprimorar técnicas para escrever artigos científicos em inglês. Além disso, pude conhecer vários cientistas apaixonados pelo que fazem, pessoas inspiradoras, que se divertem enquanto fazem seu trabalho e nos ajudam a superar os desafios que surgem ao longo desse processo. 

Mas todo bônus tem um ônus. Houve uma ocasião em que não pude embarcar em um dos projetos associados ao meu doutorado simplesmente por ser mulher, pois o navio da marinha destacado para o embarque não aceitava mulheres. A justificativa era que o navio não tinha “instalações adequadas” para mulheres. Não é incomum ouvirmos na nossa área que mulheres não são bem-vindas num embarque oceanográfico porque não carregam peso como deveriam e que, portanto, isso acabaria sobrecarregando algum homem. Mas isso definitivamente não condiz com a realidade. Conheço diversos homens que enrolam no trabalham e mulheres que trabalham muito, e vice-versa. E tenho certeza que você também conhece, dentro da sua realidade.
https://minezfo.files.wordpress.com/2011/05/0001.jpg

Além de ter de lidar com esse tipo de pré-conceito, diversas vezes ouvi pessoas questionando meu estilo de vida, pois desse jeito eu não conseguiria “segurar um homem”. Foi interessante enquanto eu estava fazendo sanduíche nos EUA como conheci vários casais onde os homens estava passando uma temporada no exterior, acompanhados de suas mulheres, enquanto o contrário não era visto. Não conheci uma única mulher que tinha levado seu acompanhante nesse período.  

Infelizmente ainda é comum essa visão de que a mulher que prioriza seu trabalho está destinada a ficar "encalhada", "pra titia".
Muitos dos amigos e familiares já não acreditavam que meu relacionamento a distância durante o doutorado (eu morava em São Paulo e ele em Salvador) pudesse dar certo, ainda mais sabendo que eu passava até 15 dias embarcada num navio acompanhada por uma maioria de homens. Além disso, eu já estava fazendo 30 anos e ainda não havia casado, muito menos tido filhos. O quesito filhos é o único que me causa ainda um pouco de aflição, pois quanto mais adiamos, menores nossas chances de engravidar. E se engravidamos no meio do caminho, nos tornamos menos competitivas para o mercado de trabalho como cientista, arriscando o tão almejado emprego na universidade. (leia mais sobre isso no post da Jana Quando colocar filhos no cronograma?)

Mas apesar das dificuldades em ficar longe da família, amigos, namorado/marido, sempre tive apoio dessas mesmas pessoas para perseguir meus sonhos e me tornar uma profissional melhor. E só tenho a dizer que valeu a muito pena e que continua valendo! Hoje tenho 33 anos, estou casada, sem filhos no cronograma, buscando o tão almejado emprego e ainda com muito desejo de continuar viajando (literal e filosoficamente), aprendendo cada vez mais sobre esse mundão que me fascina.

Até o próximo bate-papo com Netuno.

terça-feira, 14 de abril de 2015

A vida “dura” de um peixe marinho bebê

Por Cássia G. Goçalo


Muitos não sabem, mas a maioria dos peixes que habitam os oceanos liberam suas células reprodutoras (óvulos e espermatozoides) no ambiente marinho, onde ocorre a fertilização formando os ovos. Peixes como sardinhas, garoupas, bijupirás e atuns apresentam essa estratégia e são capazes de produzir milhões de ovos. Ao fim do desenvolvimento do embrião, após 24 horas (mais ou menos, dependendo da espécie), sucede o nascimento (eclosão) de uma pequena larva. 



Para que essa pequena larva sobreviva no ambiente, é necessário que o alimento (organismos do zooplâncton, leia mais em Para o plâncton, tamanho é documento...) seja ideal, em sua qualidade e quantidade. Afinal, “bebês precisam ser bem alimentados”, para garantir uma boa saúde e continuar crescendo até atingirem a fase adulta. No mar há muitas formas de vida que se alimentam de pequenos organismos, além do mais, ovos e filhotes na natureza são alimentos nutritivos. Os milhões de ovos e larvas são ingeridos por outros peixes e demais animais marinhos, como por exemplo águas-vivas, compondo a cadeia trófica marinha.


Uma água-viva Liriope tetraphylla capturando uma larva de 
bijupirá Rachycentron canadum de 5 mm de tamanho.

Acreditava-se que essa pequena larva ficava flutuando na água do mar durante dias enquanto ocorria o desenvolvimento completo dos olhos, da boca e das nadadeiras. Em meu projeto de doutorado estudei o comportamento dessas pequenas larvas nos primeiros dias de vida e observei que além de flutuarem, elas possuem uma capacidade natatória incrível e são capazes de atingir uma velocidade extremamente alta, até 40 vezes o tamanho do corpo, enquanto nadam e capturam o alimento. E pensar que os homens mais rápidos do mundo nadam a uma velocidade de 1,5 vezes o tamanho do corpo por segundo!

A natação dos organismos marinhos, de modo geral, está relacionada com a alimentação, reprodução e fuga de predadores. Para nadar até o alimento as larvas de peixes precisam movimentar as nadadeiras, dar impulsos, abrir a boca e capturar a presa. Já para fugir de predadores flexionam o corpo e mudam de direção para escapar. Esses padrões comportamentais foram registrados em meus estudos com larvas de garoupas (Epinephelus marginatus) e bijupirás (Rachycentron canadum). Para realizar essa pesquisa nós (eu e a equipe do Laboratório de Sistemas Planctônicos da USP, http://laps.io.usp.br/index.php/en/) montamos um sistema óptico, com uma configuração semelhante a de um microscópio, porém no sentido horizontal, possibilitando o estudo com os organismos de tamanhos de 2 a 5 milímetros dentro de um pequeno aquário, sendo observados por uma câmera de vídeo que captura uma alta taxa de quadros por segundos (também conhecida como "supercâmera lenta"). Veja mais em https://www.facebook.com/lapsiousp.

Mesmo com toda essa habilidade, ainda assim, cerca de apenas 1% das larvas sobrevive nos mares. Esta elevada taxa de mortalidade acontece devido à predação e/ou inanição, ou seja, morrem de fome. Uma pequena larva ao passar por todos os desafios, se tornará um peixe adulto atingindo a maturidade, e produzirá uma nova geração de ovos e larvas mantendo um equilíbrio natural entre as espécies e o ecossistema marinho.

O comportamento das larvas de peixes marinhos ainda precisa ser investigado mais a fundo, uma vez que há no ambiente marinho cerca de 16 mil espécies de peixes. Outros estudos abordaram o comportamento de peixes adultos através das filmagens apresentadas pelo National Geographic Channel (http://natgeotv.com/uk/hunters-of-the-deep/galleries/super-fast-fish). Os pesquisadores oferecem diferentes presas e filmam o comportamento natatório e alimentar de diferentes espécies de peixes marinhos. Para os curiosos: acessem a página e assistam o vídeo “Blink of an eye”. 

Dúvidas e comentários entrem em contato e mandem mensagens. 

Até o próximo post!!! 


Referências

FUIMAN, L. A. Special considerations of fish eggs and larvae. In: Fuiman, L. A.; Werner, R. G. (eds). Fishery Science: The unique contributions of early life stages. Blackwell Science. p. 1- 32, 2002.

GOÇALO, C.G.; AQUINO, N. A. de; KERBER, C. E.; NAGATA, R. M.; LOPES, R. M. Swimming behavior of cobia larvae (Rachycentron canadum) facing prey and predator. 38th Annual Larval Fish Conference, Quebéc, Canadá. 2014

HOUDE, E. D. Emerging from Hjort’s shadow. J. Northwest Atl. Fish. Sci., v. 41, p. 53-70, 2008.



segunda-feira, 13 de abril de 2015

Oportunidade de realizar ICC, TCC e mestrado na UESC, em biologia marinha

Seleção de candidatos para atuarem em uma das sub-áreas do projeto Bioecologia e interações tróficas de recursos marinhos em ambientes recifais no litoral sul da Bahia, Brasil.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Quando colocar filhos no cronograma?

Por Jana M. del Favero

Ao escrever um projeto de pesquisa é necessário elaborar um cronograma, detalhando as atividades que serão executadas a cada período do tempo total do projeto. A minha pergunta, e sei que de muitas outras mulheres, consiste em saber em qual momento devemos encaixar uma gravidez e como conciliá-la com a vida acadêmica. 

Durante a graduação somos jovens demais, temos um mundo pela frente; o mestrado é curto, são aproximadamente dois anos em que é impossível pensar em qualquer outra coisa além das disciplinas e da dissertação. Então vem o doutorado, já somos maduras, muitas já estão casadas, mas mesmo assim só pensamos em pesquisar e publicar pois sabemos que ao final dos quatro anos de doutoramento vamos nos deparar com a concorrência do mercado de trabalho ou precisamos estar aptas para fazer um pós-doutorado de impacto. Portanto, o melhor seria aguardar tudo isso acabar e só engravidar quando já estiver contratada, com alguma estabilidade profissional, financeira e pessoal garantida. Porém, tal estabilidade geralmente ocorre quando a mulher tem em torno de 37 anos, bem depois do seu pico de fertilidade (figura 1).

Figura 1. A idade em que uma cientista estabelece sua carreira são os mesmos em que sua fertilidade (representada pelo número de folículos ovarianos - linha verde) começa a decrescer. Fonte: Willians & Ceci (2012).

Apesar de não ser difícil citar pesquisadoras/professoras de sucesso com filhos, o cenário de pós-graduandas que desistiram da carreira acadêmica após engravidar é bem mais comum. Conforme ilustrado na figura 2, a porcentagem de desistência da carreira acadêmica entre homens e mulheres sem filhos e sem planos de engravidar é praticamente a mesma entre os pós-doutorandos. Porém, ter um filho depois do começo do pós-doutorado duplica a porcentagem de desistência entre as mulheres, e permanece inalterado entre os homens. 



Figura 2. Influência (representada pela porcentagem de desistência) dos filhos e até mesmo do plano de ter filhos na carreira de homens e mulheres. Fonte: Willians & Ceci (2012).

É claro que um filho pode alterar o rumo da vida das mulheres, alterando também sua produtividade. Um estudo realizado por Leslie (2007) mostra que quanto mais filhos a mulher tem, menos tempo ela gasta em atividades profissionais (figura 3). Agora pasmem, apesar de não discutir as razões, o mesmo estudo mostrou que o contrário ocorre com os homens: mais filhos = mais horas trabalhadas! Não me atrevo a aprofundar a discussão do porquê dessa diferença, mas vejo duas possibilidades: ou o homem encara como um aumento de responsabilidade e, como se enxerga como o provedor financeiro da família, passa a trabalhar mais (o que não é necessariamente culpa dele, afinal de contas assim como mulheres são tradicionalmente ensinadas a cuidar do seu lar, homens são tradicionalmente ensinados a prover financeiramente esse mesmo lar); ou fogem das responsabilidades domésticas por motivos diversos. Tenho um amigo que me disse que quando seu filho era bebê e requeria toda a atenção e cuidados da mãe, ele preferia trabalhar até mais tarde e só ir pra casa quando já se aproximava a hora do filho dormir, alegando que tinha ciúmes de todo o carinho que a mulher prestava ao bebê e que não estava se encaixando em sua própria casa.


Figura 3. Horas trabalhadas semanalmente por homens e mulheres comparadas com o número de filhos dependentes. Fonte: Leslie (2007).

Uma das maneiras de aumentar a representatividade feminina nas universidades e diminuir a desistência de seguir uma carreira acadêmica, consiste em focar nos problemas enfrentados pelas mães que lutam para cuidar da família enquanto realizam estudos e pesquisas. Uma lista de estratégias que poderiam ser adotadas para amenizar problemas e ajudar as famílias é citada por Willians e Ceci (2012). Como exemplo: as universidades poderiam oferecer berçários e creches de qualidade, ter licença maternidade para o cuidador primário, independente do sexo, poderiam instruir comitês de seleção para ignorar lacunas no currículo devido à vazios relacionados ao tempo desprendido para cuidar da família (por exemplo entender porque a candidata ficou um prazo sem publicar caso tenha sido para cuidar do filho recém- nascido), entre outros. Um fato que não consta na lista do estudo apresentado e que considero de fundamental importância é uma mudança na mentalidade das pessoas. Já ouvi que para ser aceita em um laboratório numa faculdade espanhola, o professor responsável solicita que as mulheres assinem um termo se comprometendo a não engravidar durante o doutorado? Difícil de acreditar que algumas mentes ainda funcionem assim!

E no Brasil, como estamos? A USP, umas das maiores universidades brasileiras, possui uma creche muito elogiada pelos pais usuários, porém suspendeu ao menos 117 vagas no começo de 2015 por falta de verba (Acesse a matéria aqui)Nem todas as agências de fomento concedem licença maternidade remunerada aos seus bolsistas. Ou seja, por mais que às vezes aconteça um progresso, muitos retrocessos ainda são notados... Por mais que diversas universidades tenham adotado medidas que auxiliem a vida das famílias, muito ainda precisa ser feito e melhorado.

Não conseguirei trazer uma resposta à pergunta realizado no título do texto com esse post, até porque acredito que seja uma decisão pessoal e não uma receita de bolo. Eu mesma, casada há 3 anos, vou terminar meu doutorado no começo de 2016, sem pretensões de aumentar a família até lá.

Entretanto, não finalizarei esse assunto com essa publicação. Traremos no blog depoimentos de “mulheres guerreiras”, que conciliaram estudos e filhos; “mulheres altruístas”, que desistiram da carreira acadêmica para se dedicar à família e se sentem realizadas com a decisão tomada; “mulheres batalhadoras”, que se afastaram da universidade um período para cuidar dos filhos, e sofrem diversos entraves ao tentar retornar. O meu depoimento, de uma “mulher indecisa”, vocês já têm. 

E você, tem um depoimento que queira compartilhar? Sinta-se bem-vinda para comentar abaixo ou nos enviar mensagens. 


Referências

Goulden, M.; Frasch, K.; Mason, M. 2009. Staying competitive: Patching America's leaky pipeline in the sciences. Center for American Progress, https://www.americanprogress.org/issues/technology/report/2009/11/10/6979/staying-competitive/

Leslie, D.W. 2007. The reshaping of America's academic workforce. Research Dialogue 87. https://www.tiaa-crefinstitute.org/public/pdf/institute/research/dialogue/87.pdf

Willians, W.M.; Ceci, S.J. 2012. When Scientists Choose Motherhood. American Scientist, Volume 100. http://www.americanscientist.org/issues/pub/when-scientists-choose-motherhood/1