Por Mônica Lopes-Ferreira*
Desde pequena sempre gostei do mar. Nos finais de semana, nas férias, nos feriados, lá estava eu curtindo uma praia. Tudo no litoral me encantava: a natureza, as paisagens, os animais. Enquanto eu desfrutava das verdes águas mornas da cidade de Maceió, minha terra natal, simultaneamente prestava atenção em todo o ecossistema ao meu redor.
No início da juventude chegou o momento de escolher qual carreira seguir. Não tive dificuldade em entender que o estudo dos seres vivos fazia com que a minha mente e meu coração vibrassem. Decidi fazer Biologia, estudei bastante e ingressei na Universidade Federal de Alagoas.
Sou muito curiosa e sempre gostei de aprender. Além da rotina das aulas na Universidade, eu participei de muitos cursos, seminários e palestras na área. Até que no ano de 1989, um encontro especial mudou o rumo da minha história. Ivan Mota - pesquisador do Instituto Butantan – ministraria em Alagoas um curso sobre Imunologia. Como estudante, me senti estimulada a saber mais sobre aquele centro de pesquisa que eu conhecia somente pelos livros de Ciências. Eu já sabia que os cientistas de lá estudavam animais peçonhentos e produziam soros para tratar os acidentes que os venenos provocavam. E a Imunologia? Ela eu ainda não conhecia.

Tive total apoio dos meus pais para realizar o estágio. Sentamos, conversamos e decidimos que eu iria para São Paulo. Eles tinham consciência de que seria uma grande oportunidade e que eu viveria momentos únicos. Quando cheguei na capital paulista, me surpreendi com o tamanho da cidade. Como ela era diferente de Maceió! Nunca vou esquecer do primeiro dia, do primeiro olhar, das fortes batidas no coração, ou seja, minha descoberta da cidade. Em contrapartida, o Butantan era um refúgio no meio de São Paulo. Muitas árvores, prédios antigos, museus, laboratórios, cobras, aranhas, escorpiões, entre outras espécies de animais peçonhentos.
Os pesquisadores me ensinaram muito.

O animal escolhido para a minha pesquisa foi o Niquim, de nome científico Thalassophryne nattereri; peixe da região Nordeste que despertou a minha atenção durante um período de férias em Maceió. Um médico dermatologista me contou na ocasião relatos sobre os acidentes que o bicho causava em pescadores e banhistas. Não havia tratamento e existiam poucos estudos sobre o veneno. Fiquei convencida da importância de estudar a espécie em questão, quando comecei a conversar com os pescadores locais. Eles me disseram: “Ele é um peixe pequeno, de movimentos discretos, não ataca ninguém, mas quando tem seu espaço invadido, solta um veneno capaz de aleijar ".
O aquário no laboratório cresceu e outros peixes peçonhentos chegaram: bagres, arraias, peixe-escorpião e espécies que habitam as nossas águas e causam acidentes. Até que um peixe mais dócil apareceu no meio do caminho e os estudos foram ampliados.
Zebrafish


Mulher e cientista
Durante uma palestra que ministrei em um Colégio Estadual de Osasco, sobre o Zebrafish, os alunos não sabiam qual era o gênero do pesquisador que falaria para eles naquele dia. A maior parte dos estudantes esperava um homem velho, de jaleco e com cabelos brancos. Fiz questão de levar comigo somente pesquisadoras mulheres; elas são maioria em nosso laboratório e devem servir de exemplo para as crianças. É preciso romper paradigmas para que as coisas mudem. Me sinto realizada pela oportunidade de trabalhar em prol do avanço da ciência.

E por tudo isso posso dizer, Sou Feliz, Sou Cientista.
*Mônica é pesquisadora do Instituto Butantan e coordenadora da Plataforma Zebrafish.
As ilustrações deste post são de Veridiana Scarpelli.
As ilustrações deste post são de Veridiana Scarpelli.
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