quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Festa das bruxas no oceano

Por Yonara Garcia


E para entrar neste clima de Halloween, que tal falarmos de alguns monstrinhos do mundo submarino?!



O mundo submarino é composto por uma imensa diversidade de organismos, desde os mais minúsculos organismos do plâncton às enormes baleias azuis, dos mais fofos, como o polvo Dumbo, aos mais feios, como o blobfish (lembre dele em nosso post Quem estuda o feio, bonito lhe parece). E no mês de outubro, quando comemoramos o Halloween, no Brasil conhecido como o Dia das Bruxas, resolvemos fazer uma pequena lista dos bichos mais assustadores do fundo do mar. Aproveitem a leitura e se inspirem para, quem sabe no futuro, usar fantasias bem originais!

Fonte: Polvo Dumbo (esquerda) e Blobfish (direita).

Peixe Diabo Negro do Mar

Fonte: Time
Em 1995, saía na capa da revista Time o Peixe Diabo Negro do Mar, o espécime que se tornaria o símbolo do mar profundo. Este peixe é uma espécie abissal, conhecida pelo nome científico Melanocetus johnsonii pertencente a ordem dos Lophiiformes. Ocorrem em profundidades mesopelágicas em águas tropicais e temperadas em todo o mundo. Possuem uma espécie de “vara de pesca” que termina em uma bolha que emite uma luz como uma isca, atraindo as presas em direção aos seus temidos dentes afiados. Esta luminosidade é possível graças à simbiose com bactérias bioluminescentes. Machos e fêmeas são muito diferentes. As fêmeas podem medir até 20 cm de comprimento, com cabeça e boca bem grandes. Já os machos tem o corpo mais simples, são bem menores que as fêmeas (chegando a medir apenas 2,9 cm, pouco maior que uma moeda de 1 real) e são incapazes de sobreviver sozinhos, vivendo como parasitas nas fêmeas. Ao encontrar uma fêmea, o macho morde sua barriga e se funde ao seu corpo, recebendo dela nutrientes e suprimento de sangue e fornecendo uma fonte permanente de espermatozóides. Recentemente, pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterrey, na Califórnia, conseguiram filmar uma fêmea de 9 cm. As filmagens foram realizadas a 600 metros de profundidade no cânion submarino de Monterrey, na costa da Califórnia, sendo a primeira vez registrado em seu habitat natural.


Esse misterioso predador também já foi vilão no cinema. Se você já assistiu ao filme Procurando Nemo, vai se lembrar desse monstruoso peixe que Dory e Marlin encontram no fundo do mar. No filme, em meio a escuridão, eles são atraídos pela isca de luz do Diabo Negro do Mar, mas ao perceberem o monstro que estava por trás, nadam rapidamente para não serem capturados por esse feroz predador e, assim, continuarem as buscas por Nemo.

Fonte: Link

Lula vampira do inferno

Fonte: Link
A lula vampira do inferno (Vampyroteuthis infernalis), é o único representante vivo da Ordem Vampyromorphida, pertencentes ao grupo dos cefalópodes. São organismos pequenos, atingindo tamanho máximo de 28 cm. Ocorrem em grandes profundidades (normalmente entre 600 e 1200 m) em águas temperadas e tropicais dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Nestas profundidades, a luz solar é fraca ou ausente, a quantidade de oxigênio é baixa e a temperatura varia entre 2° a 6°C. Apesar de possuírem uma taxa metabólica muito baixa e viverem sob concentrações de oxigênio também extremamente baixas, estes animais são capazes de se deslocarem com velocidades relativamente altas, utilizando principalmente suas aletas para se deslocarem, ao invés do jato propulsão, como outras lulas. Embora escassos, alguns estudos verificaram que estes animais se alimentam de copépodes, camarões e cnidários, mas a maior parte de sua energia é obtida por meio de detritos (partículas não-vivas que se originam nas camadas superiores do oceano e que precipitam em direção às camadas mais profundas). De acordo com a presença dos bicos da lula vampiro no estômago de alguns animais, foi observado que estes organismos são predados principalmente por pinípedes (focas, leões-marinhos, lobos-marinhos e morsas), baleias e peixes bentopelágicos. O nome lula vampiro do inferno foi dado devido a algumas características morfológicas como sua pele escura, a presença de uma membrana entre os tentáculos que dão a impressão de uma capa e os olhos vermelhos (dependendo da iluminação). Para o naturalista e explorador William Beebe (1926), a lula vampira do inferno é como “um polvo muito pequeno, mas terrível, preto como a noite, com mandíbulas brancas marfim e olhos vermelho sangue” ("a very small but terrible octopus, black as night, with ivory white jaws and blood red eyes"). Que medo! Mas de acordo com alguns estudos do comportamento, elas não passam de um animal dócil. Uma dica de leitura muito interessante, de autoria do filósofo Vilém Flusser e do biólogo/artista Louis Bec, é o livro chamado Vampyrotheuthis infernalis, uma mistura de filosofia/ciência/fábula que discute o quão distante estamos nós humanos dos animais.


Peixe-bruxa

Fonte: Link

O peixe-bruxa faz parte da Classe Myxini e, apesar de ser classificado por alguns pesquisadores como vertebrado, não possui nem vértebras nem ossos (Heimberg et al., 2010; Nelson et al., 2016). De acordo com Theodore Uyeno, da Universidade Estadual de Valdosta (Geórgia, EUA), a partir de um estudo que analisou o DNA desses organismos, o peixe-bruxa é considerado um vertebrado que perdeu as características do uso da coluna. No lugar da coluna ele possui uma corda de cartilagem (notocorda), que em nós, humanos, aparece apenas na fase embrionária. Pertencem a classe Myxini e são encontrados em águas frias em ambos os hemisférios.São criaturas primitivas, semelhantes às enguias, sem escamas, com corpo cilíndrico e alongado possuindo movimento parecido ao de uma cobra. Não possui mandíbula nem estômago. Possui vários corações e pelo menos duas vezes mais sangue em seus corpos do que outros peixes. Contam com quatro pares de tentáculos de detecção dispostos em torno de sua boca. A boca contém duas fileiras paralelas de dentes fortes e pontiagudos, que são presos a placas dentais ásperas. Apesar de possuírem apenas a arcada dentária superior, esses animais possuem uma mordida poderosa! Por meio de alguns estudos, pesquisadores sugeriram que esse peixe é capaz de morder, pois se enrola para formar nós, principalmente próximo da cabeça, que junto com a arcada superior prende e espreme o alimento. São quase cegos, com olhos rudimentares que são capazes de detectar a luz, mas têm sentidos bem desenvolvidos de toque e cheiro. Apelidados de “urubus marinhos”, passam a maior parte de suas vidas no fundo dos oceanos se alimentando de peixes mortos e moribundos, mas também atacam pequenos invertebrados, tendo como seu prato favorito carcaças de baleias. Além disso, foi observado que estes peixes ainda são capazes de absorver nutrientes pela pele. Uma característica notável desses animais é a capacidade de secretar uma espessa camada de muco sobre a pele que serve tanto como uma mecanismo de defesa como uma arma de caça. O vídeo abaixo mostra o momento que esses peixes encontram uma carcaça no fundo do mar. É quase que um ataque zumbi de tão voraz e por isso eles merecem estar em nossa lista.



Tubarão-duende

Se você já assistiu MIB: Homens de Preto, vai notar a grande semelhança desse animal aos alienígenas do filme. Esse é o Mitsukurina owstoni, também conhecido como tubarão-duende. Este peixe de águas profundas possui uma ampla distribuição, com registros no Oceano Pacífico, Atlântico e Índico. Sua aparência incomum tem como destaques seu focinho alongado e achatado, que se projeta no topo de sua cabeça, parecido com uma pá, e uma boca protuberante, com dentes longos e finos, capaz de se estender para frente sob o focinho ou se retrair para uma posição sob o olho. Acredita-se que o focinho plano tenha a função de detectar os sinais elétricos fracos emitidos pelas presas. Pode chegar até 3,9 m de comprimento. De acordo com análises de conteúdo estomacal, pesquisadores descobriram que eles se alimentam principalmente de peixes, lulas e crustáceos.



Fonte: https://giphy.com/gifs/shark-goblin-5PfnL0B6XxcQg
















Este tubarão não é um hábil nadador, então, ao detectar uma presa, ele se move lentamente em direção a sua comida e, no momento do ataque, ele projeta sua mandíbula para frente, de forma abrupta e bem rápida, puxando a presa para dentro de sua boca. Apesar de raramente capturado, esta espécie não é considerada ameaçada (no status na Lista Vermelha do UICN ele é considerado como “Preocupação Menor”), visto que na maioria das vezes em que é pescado é apenas como uma captura acessória (não intencional) de redes de arrasto em águas profundas, principalmente na costa do Japão. Em 2011, o tubarão-duende foi capturado acidentalmente por um barco de pesca na costa do Rio Grande do Sul. Este exemplar foi doado ao Museu Oceanográfico da FURG (Universidade Federal do Rio Grande), sendo o segundo exemplar a integrar a coleção científica do país.
Fonte: Link
Apesar de alguns organismos das profundezas serem bem “horripilantes”, todos são importantes para o ecossistema marinho. Já imaginou se eles se organizassem para fazer uma festa de Halloween no fundo dos oceanos? Acho que as fantasias mais tenebrosas que apareceriam seriam de homens e plásticos, que são as maiores ameaças para a existência deles. Então, aproveite sua festa, mas faça sempre a sua parte, para que deixemos de ser os verdadeiros monstros da vida marinha. Feliz Dia das Bruxas!


Referências:
HEIMBERG, Alysha M. et al. microRNAs reveal the interrelationships of hagfish, lampreys, and gnathostomes and the nature of the ancestral vertebrate. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 107, n. 45, p. 19379-19383, 2010.
NELSON, Joseph S.; GRANDE, Terry C.; WILSON, Mark VH. Fishes of the World. John Wiley & Sons, 2016.
Robison, B. H., Reisenbichler, K. R., Hunt, J. C., & Haddock, S. H. D. (2003). Light Production by the Arm Tips of the Deep-Sea Cephalopod Vampyroteuthis infernalis. The Biological Bulletin, 205(2), 102–109. doi:10.2307/1543231
ZINTZEN, Vincent et al. Hagfish feeding habits along a depth gradient inferred from stable isotopes. Marine Ecology Progress Series, v. 485, p. 223-234, 2013.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE GOVERNO DOS PRESIDENCIÁVEIS BOLSONARO E HADDAD: CIÊNCIA E TECNOLOGIA





   A dois dias da eleição, o Bate-papo com Netuno publica uma nova comparação entre os planos de governo de Haddad e Bolsonaro, candidatos à presidência da república. Dessa vez, avaliamos as propostas dos candidatos em relação à ciência, tecnologia e inovação (CT&I). 

 Segundo o IBGE, CT&I compreende a pesquisa e o desenvolvimento, a produção do conhecimento, assim como as tecnologias, os recursos humanos e os financiamentos na área, além de outros serviços baseados no conhecimento. Esse post pode te ajudar a decidir seu voto ou, se você já está decidido, saber o que esperar do próximo presidenciável nesse campo. 

Ministério
Em 2016, o presidente Michel Temer fundiu o Ministério que era dedicado a CT&I ao Ministério das Comunicações. A ação foi duramente criticada pela comunidade científica na época (relembre lendo nosso post “Ciência Nada Básica”). 

Sobre a reconstrução do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o candidato Haddad expressa uma proposta que visa“garantir a prioridade estratégica da área no novo projeto nacional de desenvolvimento”. Além disso, Haddad promete atender a um pedido da comunidade científica que é a revogação da Emenda Constitucional 95, que estabelece um teto para os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos, o que diminui investimentos em CT&I. 


O candidato Bolsonaro não cita o Ministério em questão, afirmando apenas que vai reduzir o número de ministérios, sem especificar quais. Em entrevista dada à SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o candidato do PSL afirma que o provável ministro da pasta de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações será o engenheiro Marcos Pontes, “que também é astronauta, escolhido por meritocracia”, afirma o candidato. 

Investimento
O candidato do PT trata de CT&I especificamente na seção “Promover uma estratégia nacional de desenvolvimento”, no capítulo sobre “Estratégia de expansão produtiva” (página 45). A CT&I também permeia os capítulos que tratam de educação, meio ambiente e agricultura. O candidato do PSL aborda o assunto nas seções intituladas Saúde e Educação (slide 41) e Inovação, Ciência e Tecnologia (slides 48 e 49).

O candidato Haddad propõe fortalecer as instituições de pesquisa e ampliar os investimentos em CT&I através da liberação de recursos e parcerias entre as instituições de pesquisa públicas e privadas em biotecnologia, nanotecnologia, fármacos, energia e defesa nacional, áreas consideradas estratégicas pela equipe do candidato. No plano é destacado que investimentos na área promovem o desenvolvimento econômico através da geração de conhecimento que diminui as desigualdades no padrão tecnológico, Segundo o plano, a falta de investimento na área faz o país perder competitividade internacional (veja mais nas páginas 43 e 44).

O candidato do PSL tem a intenção de tornar o país um centro mundial de pesquisa e desenvolvimento em grafeno e nióbio, para gerar novas aplicações e produtos. O modelo atual de pesquisa e desenvolvimento no Brasil é criticado pelo candidato do PSL, que o classifica como esgotado. O candidato propõe criar hubs tecnológicos, para jovens pesquisadores e cientistas serem estimulados a buscar parcerias com empresas privadas para transformar ideias em produtos. O candidato refere-se ao destaque dado a cursos técnicos e à área de exatas em países asiáticos como exemplo. Ele destaca ainda que essa área não pode ser exclusivamente dependente de recursos públicos. 


O candidato Haddad indica associação entre universidades e centros de excelência em pesquisas públicas e privadas, “capazes de operar em redes colaborativas e em coordenação com a estruturação de ecossistemas de inovação”. Ele propõe implementar um plano (Plano Decenal de Ampliação dos Investimentos em CT&I) para o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento pelo governo e pela indústria chegar ao patamar de 2% do PIB até 2030. 

O plano do candidato do PT afirma que a estratégia nacional de expansão produtiva será orientada pelos critérios de “integração regional como base para inserção soberana do Brasil no mundo; redução da restrição externa; maior potencial de desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias; elevação do padrão de vida do conjunto da população; sustentabilidade ambiental e desconcentração regional e espacial; e integração social e geração de empregos de qualidade”. O plano afirma que quanto maior a quantidade de critérios preenchidos pelo setor, mais alta será a hierarquia dele. 


Cada região do Brasil deve buscar suas vantagens comparativas, segundo o candidato do PSL. Como exemplo, é citado o potencial da região Nordeste de desenvolver fontes de energia renováveis. Em seguida, é mencionado que “há espaço para trazer o conhecimento de Israel” para a agricultura. 


Universidades
Todos os cursos universitários devem “estimular e ensinar o empreendedorismo”, afirma o plano do candidato do PSL. De acordo com o candidato, o jovem tem que “deixar de ter uma visão passiva” sobre o futuro e sair da faculdade pensando em como transformar “o conhecimento obtido” em produtos, negócios riqueza e oportunidade. 

O candidato Haddad afirma que vai ampliar o empreendedorismo e o crédito cooperado para ampliar as oportunidades de “trabalho decente”, em especial para mulheres, trabalhadores de meia-idade e jovens, segmentos que são classificados como “as grandes vítimas do atual ciclo de desemprego” (mais explicações sobre o tema podem ser lidas nas páginas 44 e 45 do plano). O plano do candidato defende que a cultura empreendedora deve ser trabalhada desde o ensino fundamental, passando pelos cursos profissionalizantes e universidades para que “o ambiente das startups“ cresça no Brasil.


Na educação, o plano do candidato Bolsonaro cita que se deve ter “mais ciência”, sem maiores esclarecimentos, e que as universidades precisam gerar avanços técnicos para o Brasil, “através do desenvolvimento de novos produtos e pesquisa em parceria com a iniciativa privada”.

O candidato do PSL afirma que “a pesquisa mais aprofundada segue um caminho natural. Os melhores pesquisadores seguem suas pesquisas em mestrados e doutorados, sempre próximos das empresas”. O Bate-papo com Netuno pondera essa afirmativa no plano do candidato, já que temos em todo o mundo pesquisadores qualificados e premiados distante das empresas, próximos de grandes centros de pesquisa ligados às universidades, fazendo pesquisa básica, por exemplo. 


O candidato do PT promete remontar o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, classificado como “alavanca fundamental para o desenvolvimento do país”, De acordo com o plano, esse sistema está “na maior crise da sua história”. A crise, promete o candidato, será revertida através da conexão entre as políticas públicas e “o curso da expansão da fronteira de conhecimento aplicada em todas as áreas do sistema produtivo”. 


Sugestões de leitura:

A verdade sobre o nióbio (Revista Superinteressante) 

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE GOVERNO DOS PRESIDENCIÁVEIS BOLSONARO E HADDAD: MEIO AMBIENTE





Análise do programa de governo do candidato Jair Bolsonaro:

1) Não consta as palavras-chaves: ecologia, ecológico, sustentabilidade, conservação, preservação, sustentabilidade ambiental, desenvolvimento sustentável, direito dos animais, animais. Consta a palavra-chave: sustentável, uma única vez, na página 68;

2) Nada consta sobre o maior desafio do planeta: o desenvolvimento sustentável;

3) Nada consta sobre sustentabilidade ambiental, proteção e preservação da flora, fauna, água, ar, terra;

4) Nada consta sobre direitos dos animais;

5) Consta proposta de enfraquecer o licenciamento ambiental para que as hidrelétricas sejam instaladas, na página 71;




6) Consta proposta sobre uma "Nova Estrutura Federal Agropecuária" e é citado o termo Desenvolvimento Rural Sustentável, mas sem contextualizar ou detalhar.



7) Consta superficialmente sobre a segurança no campo e a reforma agrária (que são as questões mais emergentes na Amazônia em relação ao desmatamento e conflitos no campo). Aponta estas questões como “grandes demandas” mas não discute potenciais soluções (página 69);

8 ) Consta superficialmente sobre a geração de energias limpas (eólica e solar), na página 49;


9) Nada consta sobre as mudanças climáticas, emissão de gases de efeito estufa, intensificação da produção agropecuária, resgate de carbono, incentivo a agricultura familiar;

10) Nada consta sobre a regularização fundiária. E, visto que a expansão do arco do desmatamento se dá, majoritariamente, pela posse de terras ilegais, e ainda, que vale 200 vezes mais derrubar a floresta em uma área ilegal do que mantê-la em pé para incentivo à atividades extrativistas, esta é também uma questão de significativa importância para o desenvolvimento sustentável.

Conclusões:

- A proposta do candidato Bolsonaro vai na contramão do desenvolvimento sustentável e da conservação do meio ambiente, representando um retrocesso às conquistas ambientais;

- A proposta do candidato Bolsonaro enfatiza o desenvolvimento econômico sem harmonização com o ambiental, não podendo garantir a preservação do meio ambiente para a geração presente e futura;

- A proposta do candidato Bolsonaro ignora emergentes questões ambientais, apesar de tocar superficialmente em algumas delas - conflito no campo, reforma agrária e produção de energia limpa;

- Apesar de ausente no plano de governo, o discurso do candidato Bolsonaro corrobora com tais conclusões, pois defende a redução de terras indígenas, que são áreas protegidas por lei e contêm os maiores e mais preservados remanescentes florestais, abrindo espaço para a grilagem (posse de terras ilegalmente) e mais desmatamento.


Análise do programa de governo do candidato Fernando Haddad:

1) Consta as palavras-chaves: agroecologia, ecológica, sustentabilidade, preservação, desenvolvimento sustentável, direitos dos animais, proteção e defesa dos animais;

2) Apesar de tratar a questão ecológica como uma questão transversal (página 47), esta precisa ser discutida em suas particularidades. Voltado à valorização do capital natural como bandeira socioeconômica e ambiental do Brasil, no entanto, sem o caráter exploratório e degradante visto até hoje. A proposta é garantir o desenvolvimento econômico sustentável, valorizando nossas potencialidades (recursos naturais) de forma economicamente justa e ambientalmente responsável;

3) Consta uma mudança de estrutura produtiva (sustentabilidade) com uma economia de baixo impacto e alto valor agregado (página 48) - conforme discutido pela pesquisadora Bertha Becker desde a década de 70;



4) Consta produção de energias limpas como uma potencialidade econômica e propõe o incentivo à produção de novas capacidades produtivas para que a energia limpa seja economicamente competitiva (página 49);



5) Consta mobilização de recursos para políticas de financiamento a projetos ambientais de empresas em parceria com universidades e institutos de pesquisa (fomento à conservação ambiental e pesquisa) (página 48);




6) Consta projetos de transporte limpo - diversificação de modais de transporte de cargas e passageiros (construção de ferrovias e hidrovias) (página 49);




7) Consta sobre a água - revitalização de bacias, despoluição de rios retomada à Política de Saneamento Ambiental Integrado (página 50);



8 ) Quando trata de política ecológica no campo realça a diluição da dicotomia campo-cidade e a importância de estender ao campo as políticas de saneamento, saúde, educação, cultura (página 55);



9) Consta política de segurança alimentar - propõe a instituição de programa de redução de agrotóxicos redigido de acordo com as recomendações da FAO. Incentivo de produção integrada e minimização do uso de agrotóxicos e pesticidas (página 55);



10) Consta atualização e ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) com o objetivo de de fortalecer a agricultura familiar pela compra de alimentos de pequenos produtores para abastecimento de hospitais e escolas (página 56);



11) Consta sobre o agronegócio - reconhece sua importante participação na economia nacional e propõe a regulação da atividade para mitigar danos socioambientais e impedir o avanço do desmatamento a partir de correções de permissividades legais (página 56);



12) Consta sobre reforma agrária - propõe o fortalecimento da agricultura familiar visando estimular a ruralização voluntária, em contraposição à urbanização forçada que, por consequência, gera o aumento da violência nos centros urbanos. E ainda, a criação de novo imposto territorial rural com o objetivo de desestimular a acumulação de terras improdutivas para a especulação imobiliária (principal causa de desmatamento na Amazônia). Além disso, propõe a regularização fundiária dos territórios tradicionais e o reconhecimento e demarcação das terras indígenas como meio de preservação da biodiversidade cultural e ecológica (página 56);

13) Consta a proteção dos animais - discute que os aparatos legais não têm sido suficientes para garantir a proteção dos animais, com isso, propõe a construção de políticas públicas nacionais de proteção e defesa dos animais voltada principalmente a área da educação (página 58);

14) Consta a retomada da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, incorporando princípios da economia circular, para promover o manejo adequado e a redução de resíduos.



Conclusões:

- A proposta do candidato Haddad discute importantes pontos de debates ambientais, apesar de não se aprofundar muito em vários destes pontos. Admite a educação ambiental como uma temática transversal (página 59) e, de modo geral, defende o fortalecimento dos órgãos de fiscalização e gestão de recursos, parcerias internacionais para redução de emissões, alianças para apoio em desastres naturais e aplicação mais rígida das legislações ambientais e políticas de comando e controle do desmatamento (página 58 e 59).

- Ciente da emergência das questões agrárias no Brasil, propõe o fortalecimento da agricultura familiar, regularização fundiária (página 56) e fortalecimento dos dispositivos legais e órgãos de fiscalização (página 58) para o combate do desmatamento na região do arco de desmatamento.

Fontes:

Plano de Governo do candidato Jair Bolsonaro: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/…/proposta_153428463223…

Plano de Governo do candidato Fernando Haddad:
http://www.pt.org.br/…/plano-de-governo_haddad-13_capas-1.p…

Sobre os autores:

Rafael Van Erven Ludolf é advogado, pós-graduado em direito do consumidor e responsabilidade civil e mestrando em sistemas de gestão com foco na sustentabilidade ativista pelos direitos dos animais.


Renata Maciel Ribeiro é cientista ambiental e mestre em sensoriamento remoto com foco em estudos de desmatamento e ocupações humanas na Amazônia brasileira.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2018


Duas palestras sobre a inserção das minorias em atividades científicas, voltadas para os alunos de instituições públicas:

- Primeiro dia: A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia contará com a Prof. Dra. Monica Lopes Ferreira CeTICS, discutindo sobre a ‘Presença e contribuição de mulheres para o avanço da ciência’, com a participação do Bate-papo com Netuno.

- Segundo dia: Haverá a participação do Prof. Dr. Kabengele Munanga CEA - USP, falando sobre a ‘Presença e contribuição de afrodescendentes para o avanço da ciência no Brasil’.

Quando? 17 e 18 de outubro.

Que horas? 12h - 13:30h

Local? Auditório István Jancsó (Biblioteca Brasiliana, USP)
Endereço: Complexo Brasiliana, R. da Biblioteca, 21 - Vila Universitaria, SP, 05508-065 

Entrada gratuita | Sujeito a lotação. 


Para saber mais: