segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ciência Aberta discute " Mulheres na Ciência"

Fonte: http://thanksgivingpics.blogspot.com
/2011/11/marie-curie-pictures.html

O Ciência Aberta é um programa de TV produzido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em parceria com o jornal Folha de S.Paulo. A próxima edição do programa terá como tema “Mulheres na Ciência”, onde abordará assuntos relacionados à maior presença e as contribuições das mulheres para o avanço da pesquisa científica e tecnológica e os problemas que elas ainda enfrentam para ingressar num mundo que, até recentemente, era eminentemente masculino.

Participarão dos debates a socióloga Alice Rangel de Paiva Abreu, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do GenderInSITE (Gender in science, innovation, technology and engineering); a física Márcia Barbosa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ganhadora do Prêmio L´Oreal e Unesco de Mulheres nas Ciências - Físicas e do Prêmio Claudia em ciência, ambos em 2013; e a química Vanderlan Bolzani, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e ganhadora do prêmio Distinguished Women in Science Chemistry and Chemical Engineering, American Chemical Society (USA) e International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC). A mediação será da jornalista Sabine Righeti.

O programa será exibido ao vivo no dia 1º de agosto, a partir das 15h, pelo site da FAPESP (www.fapesp.br), pela página da Agência FAPESP no Facebook (www.facebook.com/agfapesp) e no YouTube (www.youtube.com/user/fapespagencia) e pelo site da TV Folha (www1.folha.uol.com.br/tv). Durante o programa, perguntas do público externo poderão ser feitas por meio da página da Agência FAPESP no Facebook (www.facebook.com/agfapesp).


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Uma breve história do Big-Bang ao alvorecer da vida: Parte IV

Por Amanda Bendia

Sobre o alvorecer da vida: como eram os primeiros seres vivos?



Sabemos hoje que o primeiro ser vivo foi provavelmente muito semelhante aos micro-organismos procariontes modernos, como bactérias. Os procariontes são organismos unicelulares com estrutura celular relativamente simples: seu material genético está imerso no citoplasma, sem envoltório nuclear, e as organelas, como mitocôndrias e complexo de Golgi, não estão presentes. Apesar disso, eles são capazes de desempenhar diversas funções metabólicas e participam ativamente de todos os ciclos biogeoquímicos do planeta. São encontrados em praticamente todos os ambientes da Terra, inclusive naqueles que nunca imaginávamos existir vida, como no gelo, na alta atmosfera e em vulcões ativos - são chamados de organismos extremófilos.

Fontes hidrotermais de oceano 
profundo onde vivem 
atualmente os termófilos, 
micro-organismos adaptados 
à altas temperaturas. Fonte.
Muitos cientistas propõem que os primeiros organismos do planeta habitavam fontes hidrotermais no oceano profundo, e portanto, eram extremófilos adaptados a altas temperaturas, os termófilos. Estudos moleculares de termófilos modernos indicam que estes organismos apresentam ramificação profunda na árvore filogenética, evidenciando a hipótese de seu surgimento na Terra primitiva.


No registro fóssil encontramos evidências de organismos datadas de aproximadamente 3,5 bilhões de anos atrás. Estes microfósseis encontrados na Austrália apresentam uma estrutura celular muito semelhante aos procariontes modernos. É provável ainda que estes organismos respirassem enxofre ao invés de oxigênio, uma vez que os altos níveis de oxigênio na atmosfera só surgiriam mais tarde na história da Terra, há 2,4 bilhões de anos. Os responsáveis por este evento chamado de grande oxigenação foram os procariontes denominados cianobactérias, que realizavam fotossíntese e como produto, emitiam altas concentrações de oxigênio na atmosfera (quer saber mais?).



Estruturas fósseis que remontam os primeiros organismos da Terra, datadas de aproximadamente 3,5 bilhões de anos. Fonte.

O oxigênio é extremamente tóxico para as células, assim, os organismos que não possuíam a maquinaria necessária para metabolizá-lo foram extintos. Alguns procariontes que não conseguiam metabolizar o oxigênio adotaram uma estratégia que iria alterar o rumo de toda a diversidade de vida na Terra: eles englobaram para dentro de sua célula uma outra bactéria capaz de processar o oxigênio tóxico para eles. E em troca, ofereciam abrigo e proteção para a esta bactéria.

Este evento revolucionário na história evolutiva da vida, denominado endossimbiose, deu origem aos primeiros organismos eucariontes do planeta. Estes hospedeiros englobaram diferentes tipos de bactérias, dando origem às organelas eucarióticas denominadas cloroplastos e mitocôndrias. 

Esquema exemplificando o 
processo de endossimbiose, 
que teria dado origem 
às mitocondrias e cloroplastos 
das células eucarióticas. Fonte.
Os cloroplastos eram provavelmente cianobactérias primitivas que foram englobadas pelo hospedeiro, e as mitocôndrias, bactérias semelhantes ao que classificamos hoje como alfaproteobactérias. Existem muitas evidências que corroboram a teoria da endossimbiose como o fato dos cloroplastos e mitocôndrias possuirem material genético circular semelhante à estrutura encontrada em bactérias e arqueias.

Quando este material genético é analisado, apresenta muitas semelhanças com o genoma de cianobactérias e alfaproteobactérias, para cloroplastos e mitocôndrias, respectivamente. Além disso, sua divisão ocorre independente da célula e de forma semelhante aos organismos procariontes, por meio da fissão binária e tanto o cloroplasto quanto à mitocôndria apresentam duas membranas plasmáticas onde ocorrem os processos de produção de energia, exatamente igual às bactérias e arqueias.


O surgimento destas células eucarióticas permitiu uma maior complexidade genética e estrutural da célula, possibilitando a diversificação de todas as formas de vida que observamos hoje e ao longo de toda a história evolutiva da vida no planeta. Se não fosse por este evento revolucionário na história da vida há alguns bilhões de anos atrás, não estaríamos aqui para discutir essas questões.  






Perdeu ou gostaria de reler as partes anteriores? 
Clique para acessar:
Parte I, Parte II e Parte III!




quinta-feira, 19 de julho de 2018

A “mulher não tem aptidão para determinado campo científico” e outros seres mitológicos do imaginário popular acadêmico

Veronica Slobodian


Ilustração: Joana Ho

   A Academia tem o costume de se achar diferente do restante dos agrupamentos humanos. Os acadêmicos se consideram gozar de um alto grau de questionamento, de maneira que não sucumbiriam às crendices populares e quaisquer tipos de argumentos que não sejam respaldados somente em fatos, dados empíricos, experimentos regulados.

  Entretanto, o ambiente acadêmico apresenta crendices populares, como qualquer outro agrupamento humano. Inclusive crendices com personagens dignos de criptozoologia ou folclore, com espécies lendárias, mitológicas e hipotéticas, as quais teriam sido avistadas por diversos acadêmicos ao longo de suas carreiras. Personagens como a “mulher não gosta de exatas”, a “mulher não tem aptidão para determinado campo científico”, a “mulher não serve para assumir posição de liderança”, dentre outros tantos.

  Essas são figuras folclóricas do ambiente acadêmico as quais estão arraigadas há tanto tempo no imaginário popular de seus membros, que muitos juram terem visto tais espécimes, argumentam até ter registros concretos de suas existências, e acabam passando os contos referentes a esses personagens através das gerações. Mas é isso que elas são: figuras folclóricas. E cada vez mais temos dados empíricos para argumentar este posicionamento.

   Na Ictiologia não era diferente. O ser mitológico mais famoso da ictiologia era a “mulher não gosta de trabalhar com peixes”. Os argumentos do folclore para a existência de tal personagem eram geralmente referentes ao “fato” de que a maioria das pessoas que decide trabalhar com peixes tem esta vontade derivada de terem pescado muito quando crianças. Esse ser mitológico também foi aventado como uma condição madura da espécie “menina não gosta de pescar”, afinal, pescaria é algo que os pais fazem com seus filhos. Que pai leva sua filha para pescar, não é mesmo? “Meninas não gostam de lago, grama ou peixes". Argumentam que por termos menos meninas pescadoras, seria natural termos menos mulheres trabalhando com peixes e, portanto, menos mulheres sendo convidadas a palestrar em congressos de peixes.


   De maneira a sairmos do ambiente folclórico, e trabalharmos com dados concretos (afinal, cientista gosta de dados, não é mesmo?), iniciamos uma pesquisa sobre o perfil de gênero na ictiologia. Há um grande desbalanço de gênero na ictiologia brasileira? Se sim, quais fatores podem levar a tal?

 O estopim para tal pesquisa foi observar que nos últimos congressos ictiológicos brasileiros o número de palestrantes mulheres era muito inferior ao de homens, compreendendo de 21–32% (em média 25,8%) na última década. E para tal fato muitas hipóteses foram traçadas ao longo do tempo, que pudessem explicar e justificar tais números.


   Claro, se o ser mitológico de “mulher não gosta de trabalhar com peixes” realmente existisse, e devesse ser descrito pela ciência, provavelmente a porcentagem de mulheres na Sociedade Brasileira de Ictiologia (SBI) deveria ser semelhante à de mulheres palestrantes. Para a surpresa de muitos, encontramos que as mulheres compreendem 40% da SBI.

  Então aventamos que provavelmente o ser mitológico não era necessariamente a “mulher não gosta de trabalhar com peixes”, mas “mulher não gosta de trabalhar com sistemática e taxonomia de peixes”, de maneira que há muito menos mulheres formadas na área que homens. Para tal, levantamos os dados de mestrados e doutorados em sistemática e taxonomia de peixes nos últimos anos, e obtivemos que as mulheres são 43% de tais formações.

Posteriormente, a dúvida que surgiu é se o ser mitológico não seria “mulher publica menos, por isso é menos convidada a palestrar”. E num levantamento de 2003–2017 na revista Neotropical Ichthyology encontramos que as mulheres são primeiras autoras em 39% dos artigos, em média.

  Dessa forma, acabamos por executar algumas lendas do folclore acadêmico: “mulher não gosta de trabalhar com peixes”, “mulher não gosta de trabalhar com sistemática e taxonomia de peixes” e “mulher publica menos, por isso é menos convidada a palestrar”. Entretanto, matar as lendas não as tira do imaginário popular. E, muito menos, explica como elas vieram a existir.

 Talvez essa seja uma pergunta que nunca será respondida propriamente, ao menos não ao rigor que nós, acadêmicos e acadêmicas, gostaríamos que tivesse. Portanto, nossa intenção com tal trabalho não foi apenas de matar as lendas, mas de despertar a conscientização sobre o assunto da desigualdade de gênero na participação e representatividade das mulheres na ictiologia brasileira. Admitimos que tal desigualdade existe e ela é fruto de seres mitológicos que, apesar de muito arraigados na crendice popular, não têm dados empíricos para justificar sua descrição formal. Ao admitirmos, podemos pensar então em estratégias para enterrar propriamente esses personagens, e dar lugar às personagens reais, às mulheres fortes e grandes cientistas que compõem a ictiologia brasileira.

Veronica Slobodian é a autora deste texto, e coordenadora do projeto de levantamento da participação e representatividade de mulheres na ictiologia brasileira. Entretanto, todo o trabalho citado foi feito e/ou corroborado por mais de 50 pesquisadoras, de todo o Brasil, que assinam o projeto em andamento.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

IV ConMar - 4º Congresso de Conservação Marinha




Vem aí a quarta edição do ConMar - Congresso de Conservação Marinha - organizado pelo Projeto Cavalos do Mar em parceria com a Naturaulas Cursos Ambientais.

O evento será de 12 a 15 de setembro de 2018 na Vila do Abraão, Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ.

Mais informações em 4conmar.blogspot.com

Inscrições abertas e vagas limitadas.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

Salinidade (parte II)

Salinidade Parte II: origem e distribuição nos oceanos

Por Jana M. del Favero

Após ler a primeira parte (link aqui), você já deve ter se perguntando: de onde veio toda a quantidade de sais dissolvidos na água do mar?

Em grande parte, os íons salinos dissolvidos na água do mar têm sua origem no intemperismo e na erosão das rochas em terra. Outra fonte comum são as atividades vulcânicas.

É importante notar que, se os íons de sais estão sendo constantemente inseridos nos oceanos, então os oceanos precisam perder sais, ou ao contrário a água do mar estaria cada vez mais salina, certo? A remoção de sais ocorre por processos orgânicos e inorgânicos. Como exemplo de processos inorgânicos podemos citar a precipitação de minerais que formam depósitos sedimentares no assoalho marinho, e até mesmo o vento, que ao soprar vindo do mar, leva uma grande quantidade de spray marinho que ao evaporar deixa o sal na terra (ou até mesmo nos teus óculos escuros e pele quando você está na praia). Já como processo orgânico podemos citar alguns organismos planctônicos, como as diatomáceas e foraminíferos, que captam sílica (Si4+) e cálcio (Ca2+) da água do mar, respectivamente, para formar suas carapaças.

Variações de salinidade observadas em cada região do oceano são causadas, por sua vez,  pela adição ou remoção de moléculas de água. A remoção ocorre pela evaporação e pela formação de gelo. Já a adição ocorre pela precipitação (chuva, neve e granizo), escoamento dos rios e derretimento de gelo, reduzindo a salinidade. Como esses processos dependem, em grande parte, do clima, e o clima varia com a latitude, a salinidade superficial da água do mar varia diretamente com a latitude: os valores mais altos de salinidade ocorrem entre 20 e 30 graus norte e sul de latitude, e diminuem em direção ao equador e aos pólos. Os níveis máximos de salinidade nos oceanos subtropicais (entre 20 e 30 graus norte e sul de latitude) são produzidos quando temos muito mais evaporação do que precipitação (chuva). No equador, apesar das taxas elevadas de evaporação, as chuvas são ainda mais intensas, levando a uma salinidade superficial menor nessas águas. Já a salinidade superficial dos mares polares varia com a formação e derretimento do gelo ao longo das estações do ano. As águas costeiras e das plataformas continentais são menos salinas por causa da influência dos rios (veja o mapa abaixo). As águas profundas não estão em contato com a atmosfera e, portanto, não sofrem influência direta da precipitação e evaporação. Deste modo, a salinidade das águas profundas permanece relativamente estável (sem variação) ao longo do tempo.

Salinidade superficial média dos oceanos observada entre 25 de agosto e 11 de setembro de 2011. Cores quentes (vermelho, laranja e amarelo) representam maiores valores de salinidades, enquanto as cores frias (roxo, azul) representam valores de salinidade menores. Fonte


Fonte: Pinet, P.R. 2014. Invitation To Oceanography. 7a edição. Jones & Bartlett Learning. 662 p.