quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O oceano Pacífico está diminuindo?

Por Jana M. del Favero

Antes de responder essa pergunta, precisamos entender alguns conceitos e teorias. Então pegue um mapa-múndi e observe. Uma impressão que esse mapa nos passa é que os continentes estão ancorados de forma duradoura em um determinado ponto da superfície da Terra, certo? Mas, na verdade sabemos que eles estão “vagando” pelo mundo com o passar do tempo. No momento em que você lê esse post, o local no qual você se encontra está derivando lentamente e sem parar. 


Observando novamente o mapa-múndi nota-se um impressionante quebra-cabeça formado pelas linhas de costa de ambos os lados do Oceano Atlântico, principalmente  as bordas opostas da África e da América do Sul. Isso sugere que se você combinar cuidadosamente as bordas de todos os continentes eles podem ser reagrupados em uma única massa de terra, como se um quebra cabeça fosse resolvido.



Mapa publicado por Antonio Snider em 1858, mostrando o rearranjo do continente em uma grande massa de terra (Fonte: Pinet, P.R. 2014).

Foi então, baseando-se em informações geológicas e paleontológicas (em fósseis) que o meteorologista alemão, Alfred Wegener, apresentou ao mundo em 1915 uma nova hipótese de compreensão da história da Terra: a deriva continental.  Segundo Wegener, entre 100 e 150 milhões de anos atrás essa única massa de terra, a Pangeia, se partiu e os pedaços, ou melhor, os continentes, se afastaram, abrindo novas bacias oceânicas entre eles (aqui vale fazer um parênteses pois, se existia um único supercontinente, também existia um único oceano, o Panthalassa).

Porém, diversos pesquisadores contestaram a afirmação de Wegener de que a crosta de granito dos continentes poderia “arar” seu trajeto pela crosta basáltica, mais densa, dos oceanos e alguns geofísicos afirmaram, com base em cálculos, que a deriva continental não era possível de ocorrer. Além disso, o próprio Wegener não conseguia explicar porque  os continentes derivaram. Assim, a teoria da deriva continental de Wegener foi ignorada por mais de meio século. 

Com a posterior descoberta da cordilheira mesoceânica do Oceano Atlântico (Cordilheira Mesoatlântica), pôde-se notar a semelhança do seu recorte com o das bordas dos continentes às margens do Atlântico. Além disso, foi constatado que o assoalho do vale desta cordilheira é composto por basalto jovem recém-cristalizado. Assim, em meados dos anos 60, geólogos e geofísicos propuseram uma nova hipótese: o fundo oceânico novo e a crosta são criados continuamente! 

Eles surgem a partir da  intrusão e extrusão de basalto na crista de todas as cordilheiras mesoceânicas. A crosta recém-formada se move lateralmente liberando espaço na crista das cordilheiras mesoceânicas para a formação da nova crosta basáltica. Este processo, chamado de espalhamento do assoalho oceânico, provoca a expansão das bacias oceânicas e, assim, os continentes de cada lado da bacia são movidos junto com o assoalho oceânico, explicando a deriva continental!


O eixo das cordilheiras mesoceânicas é uma zona estreita e linear, em que a crosta basáltica se forma e, em seguida, se afasta da crista da cordilheira a uma taxa de vários centímetros por ano. Essa figura mostra o padrão global da idade da crosta oceânica: a crosta oceânica mais nova (em vermelho) está sempre associada ao eixo do espalhamento das cordilheiras mesoceânicas, enquanto a mais antiga (em azul) longe do mesmo (Adaptado de: Pinet, P.R. 2014).


A hipótese da deriva continental tornou-se parte de uma teoria maior, a teoria da tectônica de placas. Essa teoria foi formulada nos anos 60 e é baseada na ideia de que a superfície da Terra é dividida em uma série de placas com bordas definidas pela sismicidade, ou seja, frequência/número, magnitude/força e distribuição de terremotos. Essas placas, que também são conhecidas como  placas tectônicas ou placas litosféricas, são como finas panquecas, pois são de 10 a 50 vezes mais largas do que espessas. 


As margens das placas tectônicas estão indicadas por faixas de sismicidade. Os terremotos estão representados por pontos pretos e as setas indicam o movimento relativo das placas (Adaptado de: Pinet, P.R. 2014).


Em todas as bacias oceânicas, algumas placas estão se separando nas cordilheiras mesoceânicas e formando um novo assoalho (conforme visto anteriormente esse processo é chamado de espalhamento do assoalho oceânico). 

Já outros pares de placas, principalmente nas bordas do Oceano Pacífico, estão sofrendo um processo chamado subducção: quando pares de placas colidem ativamente e uma placa “obriga” a outra a mergulhar para a astenosfera (segunda camada da Terra, logo abaixo da litosfera), onde se derrete e produz lava. Quando os continentes de duas diferentes placas se encontram em uma zona de subducção, eles colidem e esmagam os sedimentos marinhos que ficam entre os dois, erguendo-os e criando os grandes dobramentos montanhosos, como ocorre nas elevações do Himalaia. 

Por fim, os limites das placas onde a litosfera não é criada e nem destruída são chamados falhas transformantes, e, neste casos, as placas apenas deslizam lateralmente uma pela outra.


Ilustrações de: a) espalhamento do assoalho oceânico, b) zona de subducção, c) falhas transformantes. Plate = placa, Asthenosphere = astenosfera (Fonte: Garrison, 2009).


Agora estamos prontos para responder a pergunta inicial: o Pacífico está diminuindo? E a resposta é sim! Como há pouquíssimas zonas de subducção nos Oceanos Atlântico, Índico e Ártico, essas bacias estão se expandindo com passar do tempo, por causa do espalhamento do assoalho oceânico a partir de suas cordilheiras mesoceânicas. Por outro lado, nas bordas do Oceano Pacífico encontramos a maioria das zonas de subducção. Como as taxas de subducção são muito maiores do que as taxas de produção do assoalho nas cordilheiras mesoceânicas, pois existem mais regiões de espalhamento do que zonas de subducção, o resultado é o encolhimento do Oceano Pacífico em tempo geológico.

Fonte: 

Garrison, T. Essentials of oceanography. 5a edição. Brooks/Cole, Cengage Learning, 464 p. 

Pinet, P.R. 2014. Invitation To Oceanography. 7a edição. Jones & Bartlett Learning. 662 p.





segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Semana de Ciências do Mar

IV EDIÇÃO

A semana de ciências do mar é um evento acadêmico anual promovido pelo corpo discente do curso de graduação “Bacharelado interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do mar” da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
O objetivo do evento é disseminar o conhecimento científico sobre as ciências do mar entre a comunidade acadêmica e a população, abrangendo as áreas do conhecimento científico. Ampliando assim, a divulgação do conjunto de atividades de ensino, pesquisa e extensão promovidas pela UNIFESP.
Nesta edição, o Bate-papo com Netuno participará de uma mesa redonda sobre divulgação científica.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Publicar ou morrer ou publicar sem sofrer? Eis a questão!

By Catarina Marcolin

Conversando com uma colega que estava há uma semana de defender o mestrado, eis que ela me diz “Nossa, não vejo a hora de entregar esse mestrado e começar a produzir alguma coisa, sinto que não tô produzindo nada!”. Ao mesmo tempo em que pensei “Como assim?”, eu também entendi perfeitamente o que ela estava sentindo. 


Ilustração: Caia Colla.

Na carreira acadêmica a gente aprende que produzir = publicar. Portanto, enquanto não sai a publicação do paper numa revista legal, a gente trabalha insanamente, mas não parece que aquele trabalho é útil. Então nosso corpo não processa a recompensa pelo nosso trabalho. E isso é um grande desestimulador para os pesquisadores. 

Todos nós precisamos de motivação para viver. E no trabalho isso não é diferente. O que nos faz levantar todos os dias, tomar banho, trocar de roupa, enfrentar o trânsito e se dirigir ao trabalho, em um laboratório ou em uma Universidade, é o amor à ciência. E para provar nosso amor à ciência, o que fazemos? A gente pensa numa pergunta interessante, coleta dados, analisa esses dados, rebolamos na estatística e finalmente reportamos para a comunidade científica. Essa é a grande prova de que fizemos algo em nome desse amor, a nossa tão sonhada publicação.

Colocando dessa maneira, parece tudo muito simples. Um cientista deve ser uma pessoa muito realizada em sua profissão, certo? Mas não é tão simples assim. Em muitos casos, eu diria que na maioria das vezes, a conquista desse prêmio é bem tortuosa e exigente emocionalmente. 

O processo de revisão por pares é exaustivo, o nosso trabalho é constantemente criticado (nem sempre de forma muito elegante), versão após versão, até conquistarmos uma versão publicável, que não está nem perto da perfeição, mas é o melhor que se pode fazer dentro de determinado contexto. Isso quando não somos rejeitados logo de cara porque nosso artigo não se encaixa no escopo da revista, ou não atende ao amplo público leitor daquela revista. E todo esse processo pode demorar muito mais do que um ano para se completar. Então imagine como você se sentiria se só conseguisse se sentir recompensado por determinada atividade um ano após o seu início? Ou ainda, que demore ainda mais tempo e que quando você pensa que finalmente estaria terminando uma etapa da sua vida, na verdade muitas outras estariam apenas começando... 

Está vendo onde quero chegar com esse falatório? Precisamos de mais “prêmios”! Não podemos depender apenas do sucesso na publicação para nos sentirmos úteis no mundo. Precisamos de prêmios a cada semana, ou até mesmo todos os dias. Cada conquista deve ser comemorada, para cada artigo que é lido e bem interpretado, comemore. Para cada parágrafo escrito, celebre. Para cada análise estatística conquistada, vibre! Cada pequeno passo deve ser visto como algo relevante, senão corremos o sério risco de travarmos e desistirmos no meio do caminho, ou pior, de ficarmos deprimidos pela ausência de senso de utilidade.

Além disso não podemos deixar de chamar atenção para o fato de que a maioria dos pesquisadores no Brasil são contratados como docentes em Universidades públicas. No exercício de nossos cargos, precisamos dar aulas, participar de reuniões e nos envolver em inúmeras atividades burocráticas e administrativas, além de desempenhar atividades de extensão, como a divulgação científica que fazemos aqui neste blog. Recentemente, uma publicação na Scientific American recomenda que os cientistas sejam premiados por atividades de divulgação científica também.

Motivação é o que conduz o ser humano. Portanto, não é para nos sentirmos seres felizes e encantados que precisamos nos sentir úteis. É para que a gente não esmoreça nesse longo e pedregoso caminho que é a publicação de um artigo, é para que o mundo possa ter acesso a toda a ciência produzida em um laboratório. Afinal de contas, quantos de nós conseguiu publicar tudo que foi produzido desde que começou a fazer ciência? Eu mesma, nunca consegui publicar a parte mais importante do meu mestrado porque travei psicologicamente e não consegui retomar depois de tê-lo submetido 7 vezes. Ainda não desisti... E você? Já passou por algo semelhante? Conta aí nos comentários!


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Curso: Meninas com Ciência - Edição USP 2018


Você é ou conhece alguma menina do Ensino Fundamental (5 ao 9o ano) que sonha em ser cientista, é curiosa e ama aprender coisas novas? 

O curso Meninas com Ciência é um evento gratuito que ocorrerá em 5 sábados (período integral) entre outubro e novembro de 2018. Será composto de palestras e/ou aulas práticas com a presença ilustre de professoras e pesquisadoras de diferentes temas muito interessantes da Ciência!

O público alvo é: meninas do 5 ao 9o ano do Ensino Fundamental matriculadas em Escolas públicas ou privadas.

O curso está em sua segunda edição no Estado de São Paulo, após seu grande sucesso na UFSCar em 2017, e duas edições no Museu Nacional, Rio de Janeiro. Será realizado este ano no Instituto Oceanográfico da USP.

Serão abordados diferentes assuntos da Ciência, como Oceanografia, Microbiologia, Paleontologia, Astronomia, Astrobiologia, Neurociência, Engenharia Elétrica, Farmacologia e Zoologia. 

As inscrições se iniciam dia 10 de setembro! 
Mais informações podem ser acessadas no site Meninas com Ciência Edição USP 2018.



quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Os efeitos da falta de comunicação da ciência com a sociedade

Por Jana del Favero



Com o corte de verba anunciado pela CAPES no último dia 3, muitos pesquisadores brasileiros começaram a usar as redes sociais para contar para a sociedade o que pesquisam utilizando as hashtags #MinhaPesquisaCapes e #ExistePesquisaNoBr. Nós mesmas, aqui do Bate-papo com Netuno, fizemos um levantamento de editoras e convidadas que tiveram bolsa CAPES em algum momento de sua carreira, e em menos de de duas horas já tínhamos mais de 20 pesquisas descritas.

Mas que culpa temos nós, pesquisadores, nesse corte do governo? Por que esperamos o anúncio de uma medida tão drástica, para só então começar a falar com a sociedade e divulgar a importância das nossas pesquisas? Por que esperamos que ideias absurdas, como o  movimento anti-vacina, o conceito de  terraplana, entre outros, comecem a pipocar para que a ciência venha a público? Falar com a sociedade não deveria ser algo rotineiro dos cientistas? Por que não falamos?

O primeiro motivo que me vem na mente seria a persistente falta de tempo, que caminha  lado a lado com a falta de incentivo (e/ou falta de reconhecimento). Nós, cientistas brasileiros, além de realizarmos nossa pesquisa, conciliamos: 1. Dar aula (para graduação e pós graduação; 2. Orientar (iniciação científica, mestrado e doutorado); 3. Propor e gerenciar projetos de pesquisa, ensino e extensão; 4. Comprar equipamento e demais materiais para pesquisa e ensino (isso inclui conseguir financiamento, fazer orçamentos, pechinchar preços e realizar a compra em si); 5. Organizar escala de trabalho em laboratório e de trabalhos de campo; 6. Participar de inúmeras reuniões e comitês (departamento, colegiado de curso, pós graduação, etc); 7. Participar de bancas de avaliação (concurso, TCCs, pós graduação). A falta de incentivo está no fato de que as agências de fomento, as avaliações para ascensão de carreira e os  concursos para a seleção de professor em universidades públicas não consideram (ou dão um peso muito baixo) se você divulgou sua pesquisa ou se você tem alguma atividade de extensão. Para pontuar, o mais importante é o número de  artigos publicados em revista científica, e essas revistas quase nunca alcançam o público geral (não estou falando que artigos revistos por pares não são importantes, mas não deveriam ser a única métrica). 

Então os cientistas não falam por falta de incentivo, a população não valoriza porque não sabe como a ciência pode afetar sua vida,  o governo não incentiva porque os cientistas não falam e a população não cobra, e assim entramos em um ciclo vicioso difícil de ser quebrado. Vale lembrar que a maior parte das pesquisas no Brasil vem de dentro das universidades, e são realizadas por pesquisadores, em sua maioria mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos que são pagos por agências de fomento à pesquisa, como a CAPES. Sem a comunicação, a sociedade jamais conseguirá enxergar que não existe um remédio, um peixe no mercado ou um meio de locomoção sem pesquisa! 

Um exemplo dessa desconexão entre ciência e sociedade foi a manchete divulgada por um jornal que anunciava que a CAPES não teria verba para pagar os auxílios aos pesquisadores a partir de agosto de 2019, mas gostaria de deixar claro que a CAPES não paga auxílio aos pesquisadores, e sim bolsas de dedicação exclusiva que são a única forma de sustento para a maioria desses pesquisadores. Essa remuneração pelo trabalho de pesquisa é assim chamada porque sobre ela não incidem encargos, como impostos, mas também não traz benefícios como férias, 13° salário, fundo de garantia e seguro desemprego. Em muitos casos, o bolsista não pode nem realizar outra atividade remunerada durante o tempo de recebimento da bolsa. Assim, as bolsas são na verdade "salários" e única fonte de renda da qual a maioria desses pesquisadores depende para viver.

Quem não trabalha melhor quando está bem remunerado? Quando não precisa se preocupar se sua bolsa vai ser cortada ou não? Quando não precisa, frequentemente, pedir extensões de prazo ou submeter novos projetos?

Então deixo aqui um desafio para todos os colegas pesquisadores: falem! Não deixem as hashtags #MinhaPesquisaCapes #ExistePesquisaNoBrasil serem algo provisório. E também desafio os não cientistas: apontem algo em sua vida que não foi criado pela ciência ou que não dependa dela. Valorizem tudo que vocês tiverem ao seu redor, pois desse jeito você estará valorizando a ciência!

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

XXIII Encontro Brasileiro de Ictiologia

Vamos aumentar o cardume do XXIII Encontro Brasileiro de Ictiologia (EBI)?


Em 2019 o EBI ocorrerá de 27 a 31 de janeiro em Belém, PA



Essa edição ainda contará com o I Simpósio Brasileiro de Ictioplâncton, organizado por duas editoras do Bate-papo com Netuno, a Cláudia e a Jana.



O que você está esperando para se inscrever?

Maiores informações: http://www.ebi2019.com.br/

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Correntes oceânicas de superfície (Parte I)

Arrasto do vento, gradiente de pressão e deflexão de Coriolis


As correntes oceânicas podem ser divididas em dois tipos: as de superfície, sendo a maioria delas movida pelo vento; e as correntes de subsuperfície, regidas pela densidade (já falamos sobre as correntes de subsuperfície em um outro post, relembre aqui).
As correntes de superfície forçadas pelo vento representam apenas 10% do volume do oceano, e seu padrão de circulação resulta da interação do arrasto do vento, do gradiente de pressão e da deflexão de Coriolis. Cada tópico será apresentado a seguir.


Arrasto do Vento

Sabemos que o vento é o ar em movimento. As moléculas de ar arrastadas pelo vento na superfície do mar colidem com as moléculas de água da superfície do oceano, transferindo energia pela fricção do arrasto: erguendo ondas e gerando correntes. Para visualizar o que foi dito acima, basta soprar uma bacia cheia de água e observar que a água parada foi posta em movimento pelo vento do teu sopro.
Os ventos na superfície terrestre sopram em um padrão regular, como uma resposta ao aquecimento desigual do ar na superfície da Terra e à deflexão de Coriolis (calma que a gente já explica isso também). Assim, em ambos os hemisférios os ventos de oeste produzem um cinturão de correntes de água que fluem para o leste nas latitudes médias, e nas  baixas latitudes (lá pertinho do Equador) os ventos alísios geram duas correntes de água que se movem para o oeste. Essas correntes são desviadas uma da outra pelos continentes, criando os giros de circulação (grandes circuitos de correntes). Vamos comparar o sentido do fluxo das correntes de água com os padrões de vento? Olha a Figura abaixo!




Circulação global do vento (primeira figura): note que os ventos fluem das zonas de alta pressão para as zonas de baixa pressão.  Correntes oceânicas superficiais (segunda figura): observe que o padrão de circulação oceânica global gerada pelo vento consiste em giros que rodam no sentido horário no Hemisfério Norte e no sentido anti-horário no Hemisfério Sul (Fonte: Pinet, 2014).


Antes de prosseguir, veja o vídeo a seguir para melhor entender o Sistema de Ventos Global:



Gradientes de Pressão

Um gradiente de pressão é uma mudança de pressão ao longo de uma distância. Gradientes de pressão surgem devido a variações horizontais na altura da superfície da água. Sim, eu não disse errado... Muitas pessoas imaginam que a superfície do mar, se não fosse perturbada pelas ondas, seria plana. Mas na verdade a superfície do mar é deformada em montes e depressões, revelando uma “topografia” sutil e definida.
Essa topografia de água é gerada, em parte, pela convergência e divergência das correntes: correntes convergentes causam um acúmulo de água, criando uma “colina”; já as correntes divergentes provocam um afastamento de água, criando um “vale” (a diferença de elevação entre o topo da “colina” e a parte inferior do “vale” é de cerca de 1 metro ou menos). Como a pressão varia diretamente com a altura da coluna d'água (lembre-se da fórmula para pressão: P = ρgh, em que ρ é a densidade, g a aceleração da gravidade e h a altura da massa), os gradientes de pressão causam um fluxo de água das “colinas” (zonas de alta pressão) para os “vales” (zonas de baixa pressão). Quanto maior for a diferença (gradiente) de pressão ao longo de determinada distância, maior será o fluxo de água (da mesma maneira que uma bola rola mais rápido em uma encosta íngreme do que em uma com um declive suave).

Deflexão de Coriolis

A rotação do planeta influencia fortemente o movimento dos fluidos de ar e de água, em um efeito chamado de deflexão de Coriolis. Para começar a entender esse efeito basta se imaginar sentado com um amigo em um carrossel em movimento. Ao jogar uma bola para seu amigo, que está sentado em um cavalo na borda do carrossel, a bola faz uma curva acentuada e seu amigo é incapaz de pegá-la. Na verdade, o caminho da bola foi realmente em linha reta, como notado por uma pessoa observando acima do carrossel, por exemplo. Porém, do seu ponto de vista e do seu amigo, que estavam no carrossel, a bola fez uma curva acentuada. Em outras palavras, a deflexão não foi real, mas sim aparente, criada porque o seu eixo de referência estava em movimento (veja a figura abaixo).



Trajetórias aparentes e reais de uma bola lançada entre duas pessoas
que estão sentadas em cavalos de um carrossel (Fonte: Pinet, 2014)


O ponto é esse: assim como aconteceu com o carrossel em movimento, por causa do movimento da Terra girando em torno do seu eixo (a rotação da Terra), as correntes de água e de ar são desviadas pelo efeito de Coriolis. Em outras palavras, as correntes de água e de ar não fluem diretamente na direção dos gradientes de pressão, mas em algum ângulo por causa do efeito de Coriolis. No Hemisfério Norte a deflexão de Coriolis é para a direita, e no Hemisfério Sul, para a esquerda. Isso é causado pela rotação no sentido horário no Hemisfério Sul em relação ao Polo Sul e pela rotação no sentido anti-horário no Hemisfério Norte em relação ao Polo Norte. Para facilitar, se imagine no Polo Norte e olhe para baixo na Terra, você verá o planeta girando no sentido anti-horário sobre seu eixo.
A quantidade de deflexão induzida pelo efeito de Coriolis depende da velocidade do objeto em movimento e de sua localização na Terra, ou seja, a deflexão de Coriolis aumenta com velocidade e com a distância do equador.
Para melhor visualizar o que é o efeito de Coriolis, assista o vídeo a seguir:  



Continuaremos falando de correntes de superfície em outros Descomplicando.


Fonte: Pinet, P.R. 2014. Invitation To Oceanography. 7a edição. Jones & Bartlett Learning. 662 p.