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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE GOVERNO DOS PRESIDENCIÁVEIS BOLSONARO E HADDAD: CIÊNCIA E TECNOLOGIA





   A dois dias da eleição, o Bate-papo com Netuno publica uma nova comparação entre os planos de governo de Haddad e Bolsonaro, candidatos à presidência da república. Dessa vez, avaliamos as propostas dos candidatos em relação à ciência, tecnologia e inovação (CT&I). 

 Segundo o IBGE, CT&I compreende a pesquisa e o desenvolvimento, a produção do conhecimento, assim como as tecnologias, os recursos humanos e os financiamentos na área, além de outros serviços baseados no conhecimento. Esse post pode te ajudar a decidir seu voto ou, se você já está decidido, saber o que esperar do próximo presidenciável nesse campo. 

Ministério
Em 2016, o presidente Michel Temer fundiu o Ministério que era dedicado a CT&I ao Ministério das Comunicações. A ação foi duramente criticada pela comunidade científica na época (relembre lendo nosso post “Ciência Nada Básica”). 

Sobre a reconstrução do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o candidato Haddad expressa uma proposta que visa“garantir a prioridade estratégica da área no novo projeto nacional de desenvolvimento”. Além disso, Haddad promete atender a um pedido da comunidade científica que é a revogação da Emenda Constitucional 95, que estabelece um teto para os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos, o que diminui investimentos em CT&I. 


O candidato Bolsonaro não cita o Ministério em questão, afirmando apenas que vai reduzir o número de ministérios, sem especificar quais. Em entrevista dada à SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o candidato do PSL afirma que o provável ministro da pasta de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações será o engenheiro Marcos Pontes, “que também é astronauta, escolhido por meritocracia”, afirma o candidato. 

Investimento
O candidato do PT trata de CT&I especificamente na seção “Promover uma estratégia nacional de desenvolvimento”, no capítulo sobre “Estratégia de expansão produtiva” (página 45). A CT&I também permeia os capítulos que tratam de educação, meio ambiente e agricultura. O candidato do PSL aborda o assunto nas seções intituladas Saúde e Educação (slide 41) e Inovação, Ciência e Tecnologia (slides 48 e 49).

O candidato Haddad propõe fortalecer as instituições de pesquisa e ampliar os investimentos em CT&I através da liberação de recursos e parcerias entre as instituições de pesquisa públicas e privadas em biotecnologia, nanotecnologia, fármacos, energia e defesa nacional, áreas consideradas estratégicas pela equipe do candidato. No plano é destacado que investimentos na área promovem o desenvolvimento econômico através da geração de conhecimento que diminui as desigualdades no padrão tecnológico, Segundo o plano, a falta de investimento na área faz o país perder competitividade internacional (veja mais nas páginas 43 e 44).

O candidato do PSL tem a intenção de tornar o país um centro mundial de pesquisa e desenvolvimento em grafeno e nióbio, para gerar novas aplicações e produtos. O modelo atual de pesquisa e desenvolvimento no Brasil é criticado pelo candidato do PSL, que o classifica como esgotado. O candidato propõe criar hubs tecnológicos, para jovens pesquisadores e cientistas serem estimulados a buscar parcerias com empresas privadas para transformar ideias em produtos. O candidato refere-se ao destaque dado a cursos técnicos e à área de exatas em países asiáticos como exemplo. Ele destaca ainda que essa área não pode ser exclusivamente dependente de recursos públicos. 


O candidato Haddad indica associação entre universidades e centros de excelência em pesquisas públicas e privadas, “capazes de operar em redes colaborativas e em coordenação com a estruturação de ecossistemas de inovação”. Ele propõe implementar um plano (Plano Decenal de Ampliação dos Investimentos em CT&I) para o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento pelo governo e pela indústria chegar ao patamar de 2% do PIB até 2030. 

O plano do candidato do PT afirma que a estratégia nacional de expansão produtiva será orientada pelos critérios de “integração regional como base para inserção soberana do Brasil no mundo; redução da restrição externa; maior potencial de desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias; elevação do padrão de vida do conjunto da população; sustentabilidade ambiental e desconcentração regional e espacial; e integração social e geração de empregos de qualidade”. O plano afirma que quanto maior a quantidade de critérios preenchidos pelo setor, mais alta será a hierarquia dele. 


Cada região do Brasil deve buscar suas vantagens comparativas, segundo o candidato do PSL. Como exemplo, é citado o potencial da região Nordeste de desenvolver fontes de energia renováveis. Em seguida, é mencionado que “há espaço para trazer o conhecimento de Israel” para a agricultura. 


Universidades
Todos os cursos universitários devem “estimular e ensinar o empreendedorismo”, afirma o plano do candidato do PSL. De acordo com o candidato, o jovem tem que “deixar de ter uma visão passiva” sobre o futuro e sair da faculdade pensando em como transformar “o conhecimento obtido” em produtos, negócios riqueza e oportunidade. 

O candidato Haddad afirma que vai ampliar o empreendedorismo e o crédito cooperado para ampliar as oportunidades de “trabalho decente”, em especial para mulheres, trabalhadores de meia-idade e jovens, segmentos que são classificados como “as grandes vítimas do atual ciclo de desemprego” (mais explicações sobre o tema podem ser lidas nas páginas 44 e 45 do plano). O plano do candidato defende que a cultura empreendedora deve ser trabalhada desde o ensino fundamental, passando pelos cursos profissionalizantes e universidades para que “o ambiente das startups“ cresça no Brasil.


Na educação, o plano do candidato Bolsonaro cita que se deve ter “mais ciência”, sem maiores esclarecimentos, e que as universidades precisam gerar avanços técnicos para o Brasil, “através do desenvolvimento de novos produtos e pesquisa em parceria com a iniciativa privada”.

O candidato do PSL afirma que “a pesquisa mais aprofundada segue um caminho natural. Os melhores pesquisadores seguem suas pesquisas em mestrados e doutorados, sempre próximos das empresas”. O Bate-papo com Netuno pondera essa afirmativa no plano do candidato, já que temos em todo o mundo pesquisadores qualificados e premiados distante das empresas, próximos de grandes centros de pesquisa ligados às universidades, fazendo pesquisa básica, por exemplo. 


O candidato do PT promete remontar o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, classificado como “alavanca fundamental para o desenvolvimento do país”, De acordo com o plano, esse sistema está “na maior crise da sua história”. A crise, promete o candidato, será revertida através da conexão entre as políticas públicas e “o curso da expansão da fronteira de conhecimento aplicada em todas as áreas do sistema produtivo”. 


Sugestões de leitura:

A verdade sobre o nióbio (Revista Superinteressante) 

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

ANÁLISE DOS PROGRAMAS DE GOVERNO DOS PRESIDENCIÁVEIS BOLSONARO E HADDAD: MEIO AMBIENTE





Análise do programa de governo do candidato Jair Bolsonaro:

1) Não consta as palavras-chaves: ecologia, ecológico, sustentabilidade, conservação, preservação, sustentabilidade ambiental, desenvolvimento sustentável, direito dos animais, animais. Consta a palavra-chave: sustentável, uma única vez, na página 68;

2) Nada consta sobre o maior desafio do planeta: o desenvolvimento sustentável;

3) Nada consta sobre sustentabilidade ambiental, proteção e preservação da flora, fauna, água, ar, terra;

4) Nada consta sobre direitos dos animais;

5) Consta proposta de enfraquecer o licenciamento ambiental para que as hidrelétricas sejam instaladas, na página 71;




6) Consta proposta sobre uma "Nova Estrutura Federal Agropecuária" e é citado o termo Desenvolvimento Rural Sustentável, mas sem contextualizar ou detalhar.



7) Consta superficialmente sobre a segurança no campo e a reforma agrária (que são as questões mais emergentes na Amazônia em relação ao desmatamento e conflitos no campo). Aponta estas questões como “grandes demandas” mas não discute potenciais soluções (página 69);

8 ) Consta superficialmente sobre a geração de energias limpas (eólica e solar), na página 49;


9) Nada consta sobre as mudanças climáticas, emissão de gases de efeito estufa, intensificação da produção agropecuária, resgate de carbono, incentivo a agricultura familiar;

10) Nada consta sobre a regularização fundiária. E, visto que a expansão do arco do desmatamento se dá, majoritariamente, pela posse de terras ilegais, e ainda, que vale 200 vezes mais derrubar a floresta em uma área ilegal do que mantê-la em pé para incentivo à atividades extrativistas, esta é também uma questão de significativa importância para o desenvolvimento sustentável.

Conclusões:

- A proposta do candidato Bolsonaro vai na contramão do desenvolvimento sustentável e da conservação do meio ambiente, representando um retrocesso às conquistas ambientais;

- A proposta do candidato Bolsonaro enfatiza o desenvolvimento econômico sem harmonização com o ambiental, não podendo garantir a preservação do meio ambiente para a geração presente e futura;

- A proposta do candidato Bolsonaro ignora emergentes questões ambientais, apesar de tocar superficialmente em algumas delas - conflito no campo, reforma agrária e produção de energia limpa;

- Apesar de ausente no plano de governo, o discurso do candidato Bolsonaro corrobora com tais conclusões, pois defende a redução de terras indígenas, que são áreas protegidas por lei e contêm os maiores e mais preservados remanescentes florestais, abrindo espaço para a grilagem (posse de terras ilegalmente) e mais desmatamento.


Análise do programa de governo do candidato Fernando Haddad:

1) Consta as palavras-chaves: agroecologia, ecológica, sustentabilidade, preservação, desenvolvimento sustentável, direitos dos animais, proteção e defesa dos animais;

2) Apesar de tratar a questão ecológica como uma questão transversal (página 47), esta precisa ser discutida em suas particularidades. Voltado à valorização do capital natural como bandeira socioeconômica e ambiental do Brasil, no entanto, sem o caráter exploratório e degradante visto até hoje. A proposta é garantir o desenvolvimento econômico sustentável, valorizando nossas potencialidades (recursos naturais) de forma economicamente justa e ambientalmente responsável;

3) Consta uma mudança de estrutura produtiva (sustentabilidade) com uma economia de baixo impacto e alto valor agregado (página 48) - conforme discutido pela pesquisadora Bertha Becker desde a década de 70;



4) Consta produção de energias limpas como uma potencialidade econômica e propõe o incentivo à produção de novas capacidades produtivas para que a energia limpa seja economicamente competitiva (página 49);



5) Consta mobilização de recursos para políticas de financiamento a projetos ambientais de empresas em parceria com universidades e institutos de pesquisa (fomento à conservação ambiental e pesquisa) (página 48);




6) Consta projetos de transporte limpo - diversificação de modais de transporte de cargas e passageiros (construção de ferrovias e hidrovias) (página 49);




7) Consta sobre a água - revitalização de bacias, despoluição de rios retomada à Política de Saneamento Ambiental Integrado (página 50);



8 ) Quando trata de política ecológica no campo realça a diluição da dicotomia campo-cidade e a importância de estender ao campo as políticas de saneamento, saúde, educação, cultura (página 55);



9) Consta política de segurança alimentar - propõe a instituição de programa de redução de agrotóxicos redigido de acordo com as recomendações da FAO. Incentivo de produção integrada e minimização do uso de agrotóxicos e pesticidas (página 55);



10) Consta atualização e ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) com o objetivo de de fortalecer a agricultura familiar pela compra de alimentos de pequenos produtores para abastecimento de hospitais e escolas (página 56);



11) Consta sobre o agronegócio - reconhece sua importante participação na economia nacional e propõe a regulação da atividade para mitigar danos socioambientais e impedir o avanço do desmatamento a partir de correções de permissividades legais (página 56);



12) Consta sobre reforma agrária - propõe o fortalecimento da agricultura familiar visando estimular a ruralização voluntária, em contraposição à urbanização forçada que, por consequência, gera o aumento da violência nos centros urbanos. E ainda, a criação de novo imposto territorial rural com o objetivo de desestimular a acumulação de terras improdutivas para a especulação imobiliária (principal causa de desmatamento na Amazônia). Além disso, propõe a regularização fundiária dos territórios tradicionais e o reconhecimento e demarcação das terras indígenas como meio de preservação da biodiversidade cultural e ecológica (página 56);

13) Consta a proteção dos animais - discute que os aparatos legais não têm sido suficientes para garantir a proteção dos animais, com isso, propõe a construção de políticas públicas nacionais de proteção e defesa dos animais voltada principalmente a área da educação (página 58);

14) Consta a retomada da implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, incorporando princípios da economia circular, para promover o manejo adequado e a redução de resíduos.



Conclusões:

- A proposta do candidato Haddad discute importantes pontos de debates ambientais, apesar de não se aprofundar muito em vários destes pontos. Admite a educação ambiental como uma temática transversal (página 59) e, de modo geral, defende o fortalecimento dos órgãos de fiscalização e gestão de recursos, parcerias internacionais para redução de emissões, alianças para apoio em desastres naturais e aplicação mais rígida das legislações ambientais e políticas de comando e controle do desmatamento (página 58 e 59).

- Ciente da emergência das questões agrárias no Brasil, propõe o fortalecimento da agricultura familiar, regularização fundiária (página 56) e fortalecimento dos dispositivos legais e órgãos de fiscalização (página 58) para o combate do desmatamento na região do arco de desmatamento.

Fontes:

Plano de Governo do candidato Jair Bolsonaro: http://divulgacandcontas.tse.jus.br/…/proposta_153428463223…

Plano de Governo do candidato Fernando Haddad:
http://www.pt.org.br/…/plano-de-governo_haddad-13_capas-1.p…

Sobre os autores:

Rafael Van Erven Ludolf é advogado, pós-graduado em direito do consumidor e responsabilidade civil e mestrando em sistemas de gestão com foco na sustentabilidade ativista pelos direitos dos animais.


Renata Maciel Ribeiro é cientista ambiental e mestre em sensoriamento remoto com foco em estudos de desmatamento e ocupações humanas na Amazônia brasileira.