Mostrando postagens com marcador Microplástico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Microplástico. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 22 de março de 2018

Poluição marinha, microplásticos e ciência cidadã

Por Thaiane Santos


Sabia que tem plástico em todo lugar no mundo? Em praias, no meio dos oceanos, até nas regiões polares! O uso dos plásticos aumentou rapidamente durante o século 20 pelas suas características como baixo custo, alta durabilidade, flexibilidade, baixa densidade e por ser resistente ao calor. Essas características permitem várias formas de fabricação e usos. Pense em quantos tipos de plástico você conhece. Inúmeros né? Dê uma olhadinha no ambiente em que você está e veja quantos itens de plásticos tem por perto. Muitos! Quando um tipo de plástico não é reutilizado, e descartado de forma incorreta, ele pode chegar em praias e em mar aberto! Sabe aqueles pratinhos de isopor que a gente compra no supermercado? Assim, como todos os itens feitos de plástico, ele não some na natureza (https://goo.gl/9rT4JU)! Da mesma forma que o isopor, vários tipos de plástico têm baixo valor comercial para a reciclagem de cooperativas. Por isso são descartados junto com o lixo comum, de forma incorreta. 

Já se tem conhecimento de que o plástico presente nos oceanos pode ser resultado da falta de controle desses resíduos em terra (https://goo.gl/B1sShN). Quando o plástico está presente no meio marinho ele vai se quebrando em pedacinhos menores, dando origem aos microplásticos (http://batepapocomnetuno.blogspot.com.br/2017/05/pellets-e-microplastico-no-ambiente.html). Esses pedacinhos de plásticos nos oceanos representam um risco para os animais marinhos que podem ingerir ou aspirar essas partículas por engano. Estudos recentes comprovam que 73% dos peixes do oceano Atlântico ingerem microplásticos. Entre esses peixes são tipos comuns na nossa alimentação, como o atum (https://goo.gl/ddGax7). 

O fim dessa rota do plástico (casa >>  lixo >> oceano), quando não é a ingestão pelos animais marinhos, é o acúmulo em praias, e mais de 95% do lixo nas praias brasileiras é plástico (https://goo.gl/nHDKvx)! Saber para onde vai e de onde vem esses fragmentos plásticos é muito importante para avaliar o tamanho do impacto gerado no planeta por nós humanos, que coloca em risco o meio ambiente e a nossa própria saúde! Também ajuda na criação e implantação de políticas de monitoramento e soluções para o lixo marinho! O mais legal é que essa ajuda pode ser dada por qualquer pessoa disposta a pegar um pouquinho de areia em qualquer praia e enviar para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Esse tipo de pesquisa que conta com uma mãozinha da sociedade é chamado ciência cidadã. É uma forma nova de fazer ciência pelas universidades, envolvendo o meio acadêmico com pesquisadores e a participação popular. Esses estudos têm como ator importante o cidadão voluntário que pode ajudar a fazer ciência em qualquer lugar do mundo gastando bem pouquinho. Já pensou como seria difícil uma pessoa ficar viajando pelo país para pegar um pouquinho de areia nesse mundão de praias que existem? Com a ciência cidadã todo mundo pode colaborar, fazendo sua parte na coleta de dados colaborativos sobre lixo marinho no mundo e ainda ser um cidadão cientista! 

A gente aqui do LEGECE (Laboratório de Ecologia e Gerenciamento de Ecossistemas Costeiros e Estuarinos) na UFPE criou o projeto “Poluição marinha, microplásticos e ciência cidadã” para fazer esse estudo de monitoramento de lixo marinho. Quer saber como colaborar? É bem fácil! Dá para curtir uma praia e ainda dar uma mãozinha pra gente! Basicamente a gente precisa que você pegue 3 amostras de areia que são raspadas de forma bem superficial numa área específica. Antes de pegar a areia precisamos que você posicione o celular na altura do quadril (foto 1) e depois na altura dos joelhos (foto 2) para fotografar a área onde vai pegar a areia. Depois é só guardar a areia e enviar pra gente junto com as fotos. 

Aqui tem algumas instruções: 

A areia deve ser coletada na linha do deixa (aquela marquinha na areia onde ficam acumulados folhas, conchas, algas, galhos e todo tipo de lixo, inclusive vários tipos de plásticos!). Depois é só marcar na areia com uma régua um quadrado (30 x 30 cm). Aí tira foto da área marcada nas duas alturas (quadril e joelhos) com o seu celular mesmo. O único cuidado é não fazer sombra dentro do quadrado na hora da foto. Ah, e não tem hora e nenhuma maré específica para coletar a areia. Recomendamos fazer isso pela manhã para sair uma foto com luz boa, sem sombra, já que durante a tarde uma luz forte ou baixa do sol não ajuda a tirar uma foto legal da areia. 


Em seguida, com ajuda de uma pá ou espátula, raspe a areia e guarde em saquinhos com fechamento do tipo “ziplocks”. Não indicamos usar colher porque cava a areia e acaba pegando mais do que precisamos. Queremos aquela parte bem superficial, bem pouquinha areia, raspada de forma bem leve. Tudo o que tiver dentro do quadrado tem que ser guardado dentro do saquinho (folha, canudinho, tampinhas, isopor etc). Se não tiver esses saquinhos pode usar de outro tipo (o que tiver em casa), também pode usar embalagem de marmita de alumínio que é bem levinha pra carregar. 


Você vai repetir isso em 3 áreas. A distância entre os 3 pontos é variável, depende do tipo de praia (se é uma praia larga ou uma praia estreita), pode ser de 10 a 15 passos. As 3 áreas de coleta (3 quadrados) são 3 amostras diferentes que devem ser guardadas em embalagens separadas e identificadas (amostra 1, amostra 2, amostra 3). Só mais uma coisinha: observe se nos dias anteriores à sua ida à praia teve alguma chuva forte, que causa ondas mais fortes podendo deixar mais resíduos na praia. É importante notar se é uma praia limpa, se está suja, se tem alguma fonte de lixo visível, bares e restaurantes (praia turística), esgoto (praia urbana), ou é uma praia mais deserta, com natureza preservada. Depois da ajuda, quando tiver com os saquinhos de areia, entre em contato com a gente para combinar como vamos pegar as amostras e as informações que precisamos. 

Vamos ajudar a ciência e a natureza? Se torne um colaborador voluntário! 

Contato:
microplasticscience@gmail.com
thaay.santos@gmail.com
mfc@ufpe.br 
https://www.facebook.com/thaiane.santos.23
https://www.facebook.com/LegeceOceanografiaUFPE/?pnref=lhc
https://microplasticscience.wixsite.com/citizensciencemps

Sobre a autora:

Oceanógrafa pela Universidade Federal do Pará, atuou no Laboratório de Biologia Pesqueira e Manejo dos Recursos Aquáticos e tem experiência em estudos com biomarcadores bioquímicos por atuar no Laboratório de Toxicologia fazendo pesquisa de poluição aquática e estresse oxidativo em vertebrados e invertebrados estuarinos da Amazônia.  Atualmente é mestranda na Universidade Federal de Pernambuco, faz parte do grupo LEGECE (Lab. de Ecologia e Gerenciamento de Ecossistemas Estuarinos e Costeiros) onde trabalha com monitoramento de microplásticos em praias desenvolvendo metodologia de citizen science. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Pellets e microplástico no ambiente marinho

Por Gabrielle Souza


   Você já parou para pensar por que os pequenos pedaços de plástico são prejudiciais à vida no oceano? E como eles vão parar lá? Hoje vamos falar sobre pellets e microplástico no ambiente marinho. 

   Todos os dias os seres humanos geram toneladas de lixo. Boa parte vai para lixões ou aterros sanitários, porém pellets e microplásticos vão parar nos oceanos prejudicando a vida dos organismos marinhos. Mas, existe diferença entre pellets e microplástico? Sim! 

   Os pellets são “mini-bolinhas”, conhecidas também como pastilhas de resina plástica ou nurdles. Possuem aproximadamente 0,1 - 0,5 centímetros de diâmetro e são utilizadas como matéria-prima para a fabricação de novos produtos de plástico, não sendo originárias da divisão de itens maiores em pequenos pedaços. Uma comparação simples seria o trigo que é matéria-prima da farinha, que posteriormente será utilizada para fazer um bolo. Esses pellets são transportados para os locais que as moldam e remontam para criação de novos produtos. Contudo, durante a fabricação e transporte, os pellets podem ser liberados de forma acidental no ambiente, e por meio de escoamento e fluxo de águas, são direcionados para o oceano. 

   Devido à sua durabilidade, os pellets ficam presentes durante anos no oceano, sendo transportados por correntes de água que os distribuem em praias por todo o mundo. Especialistas afirmam que, uma vez na água dos oceanos, este material retém poluentes químicos que encontram-se em seu redor, prejudicando animais, como aves e organismos marinhos, visto que estes farão a ingestão acreditando que a “mini-bolinha” seja alimento, possivelmente absorvendo as toxinas liberadas posteriormente pelo pellet.



   A fim de avaliar a poluição marinha, estas pastilhas de resina estão sendo coletadas. O portal online para ao lixo marinho Litterbase realiza o monitoramento dos locais que possuem mais acúmulo e distribuição de lixo nos cursos d’água. O Litterbase conta com um mapa mundial de distribuição dos tipos de lixo em diferentes locais e publicações de artigos sobre o assunto (Link Mapa: http://litterbase.awi.de/litter). Possui também uma página que reúne a proporção de diferentes tipos de lixo que contribuem para a composição global, com dados calculados e distribuídos em gráficos (Link: http://litterbase.awi.de/litter_graph). Existe também a Fidra, uma instituição de caridade localizada em East Lothian na Escócia, que se envolve em questões ambientais, contribuindo para um diálogo amplo a nível nacional e internacional. Eles possuem um mapa, onde realizam a caçada por nurdles (Link Mapa: http://www.nurdlehunt.org.uk/take-part/nurdle-map.html), além de trabalharem em conjunto com a indústria do plástico, a fim de acabar com a poluição por pellets.

E o microplástico? Qual a diferença dele para o pellet? Microplástico são partículas cujo tamanho varia de 1 nanômetro a 5 milímetros. Ao contrário dos Pellets o microplástico é resultado de plásticos maiores que se dividiram em pedaços menores. Esta divisão pode ser consequência, por exemplo, de quando o plástico é fragmentado mecanicamente, por ação do vento e ondas do mar. Ou seja, microplástico é uma forma secundária da matéria-prima, as pastilhas de resina.

   As microesferas são um tipo de microplástico feito de polietileno. É muito utilizada para fabricação de produtos de beleza e saúde, como por exemplo o creme dental e glitter utilizado em maquiagens, que foi bastante usado no carnaval, e que já possuem alternativas biodegradáveis. Devido ao seu tamanho essas partículas acabam ultrapassando facilmente o sistema de água dos ralos chegando aos rios e oceanos. 

   Essas partículas são encontradas no estômago de peixes, baleias e espécies do plâncton. Similarmente aos pellets, os poluentes químicos aderem-se ao microplástico, contaminando os organismos que os ingerem. Pesquisas estão em andamento para saber realmente quais são os impactos que ambos podem causar nos organismos marinhos.

microplastics.jpg
Microplástico na praia de Northwestern Hawaiian Islands em 2014. Fonte: http://oceanservice.noaa.gov/facts/microplastics.html

microbead_750.jpg
Microplástico presente em cosmético para esfoliação facial. Fonte


Para saber mais:

Referências

VERGNAULT, Olivier. Nurdles pollution at record levels as 100,000 tiny plastic pellets found on one Cornish beach. 2017. Disponível em: <http://www.cornwalllive.com/nurdles-pollution-at-record-levels-as-100-000-tiny-plastic-pellets-found-on-one-cornish-beach/story-30143311-detail/story.html>. Acesso em: 29 abr. 2017.

Tiny plastic pellets found on 73% of UK beaches: Great Winter Nurdle Hunt finds thousands of pellets used in plastic production washed up on shorelines around country. 2017. The Guardian. Disponível em: <https://www.theguardian.com/environment/2017/feb/17/tiny-plastic-pellets-found-on-73-of-uk-beaches>. Acesso em: 29 abr. 2017.

MATO, Yukie et al. Plastic Resin Pellets as a Transport Medium for Toxic Chemicals in the Marine Environment. Environmental Science & Technology, [s.l.], v. 35, n. 2, p.318-324, jan. 2001. American Chemical Society (ACS). http://dx.doi.org/10.1021/es0010498.

HIRAI, Hisashi et al. Organic micropollutants in marine plastics debris from the open ocean and remote and urban beaches. Marine Pollution Bulletin, [s.l.], v. 62, n. 8, p.1683-1692, ago. 2011. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2011.06.004.

TANIGUCHI, Satie et al. Spatial variability in persistent organic pollutants and polycyclic aromatic hydrocarbons found in beach-stranded pellets along the coast of the state of São Paulo, southeastern Brazil. Marine Pollution Bulletin, [s.l.], v. 106, n. 1-2, p.87-94, maio 2016. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.marpolbul.2016.03.024.

What are microplastics?: Microplastics are small plastic pieces less than five millimeters long which can be harmful to our ocean and aquatic life.. NOAA- National Oceanic and Atmospheric Administration U.S Department of Commerce. Disponível em: <http://oceanservice.noaa.gov/facts/microplastics.html>. Acesso em: 29 abr. 2017.

Microplastic Marine Debris: What are microplastics?. NOAA- National Oceanic and Atmospheric Administration U.S Department of Commerce. Disponível em: <https://marinedebris.noaa.gov/sites/default/files/MicroplasticsOnePager_0.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2017.