Por Deborah Apgaua
Recebi nesse ano de 2016 um prêmio internacional que mudou a minha vida e visão sobre muitos aspectos da ciência. Este prêmio destina-se a mulheres de países em desenvolvimento, para que realizem pesquisa nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, em universidades e instituições com excelência internacional. Objetiva, portanto, formar uma rede transformadora da sociedade onde homens e mulheres possuam oportunidades semelhantes no mercado de trabalho.
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Ilustração: Caia Colla |
É claro que a possibilidade de realizar uma pesquisa de pós-doutorado no exterior é uma parte importante da satisfação que sinto após a conquista deste prêmio. Porém, estar inserida em um grupo que busca uma nova direção para a ciência no mundo (esta “comunidade” tem o nome de “Faculty for the Future” e abre para novas propostas todos os anos, neste site), aumentou a minha autoconfiança para desenvolver pesquisa e me tornar um exemplo que inspire outras mulheres a seguir caminho semelhante. Portanto, muito antes de começar de fato minha pesquisa, tenho sentido uma grande diferença na forma com que exponho minhas ideias e guio estudantes em seus trabalhos.
Quando decidi tentar este programa, precisei relembrar e organizar toda a minha carreira acadêmica desde a graduação até o doutorado. Tive que buscar o valor de cada experiência e relacionar como isto pode me levar a um lugar que inspire outras mulheres. Então descobri uma nova força que estava dentro de mim, algo que não conhecia. Antes de submeter a proposta de trabalho fiz uma releitura e me senti realizada, independente do resultado da aplicação. Eu me pergunto quantas mulheres poderiam sentir esta satisfação se relembrassem cada passo de sua caminhada e colocassem valor em seu trabalho.
Por exemplo, percebi que eu possuo mais prática em ensinar do que havia me dado conta. Durante a minha graduação, desenvolvi trabalhos em comunidades tradicionais onde participei da devolução de resultados da pesquisa e ministração de minicursos. Além disso, durante a minha pós-graduação adquiri experiência através de estágios em docência, mesmo que assistida por meu orientador. Quando estive no exterior fazendo parte de meu doutorado, mantive contato com meus colegas de trabalho e auxiliei na correção de textos. Consegui, portanto, ver a relevância de todos estes momentos quando precisei convencer a Schlumberger foundation, criadora deste programa, que eu era uma candidata que merecia a premiação.
Para acreditar nesta realidade sem me diminuir, e sim encontrar merecimento em minhas escolhas acadêmicas, não me preocupei com o que eu poderia ter feito e não fiz. Quando fui submetida a uma entrevista em inglês que buscou confirmar o que eu tinha escrito, não me apresentei de forma séria e durona tentando demonstrar um estereótipo masculinizado para expressar poder. Ao contrário, fui simpática e feminina e encontrei confiança sendo eu mesma.
Ao receber o resultado positivo de minha proposta, a menina insegura que não consegue expressar suas ideias científicas por não acreditar que elas sejam relevantes, já não existia mais. Como concordo com a filosofia proposta pelo programa Faculty for the Future, resolvi encarar a missão de engajar e encorajar mais mulheres na ciência. Decidi incorporar a mulher forte que estava adormecida dentro de mim e me ver como uma cientista que busca cada vez mais vivências e que sabe que ainda tem muito a aprender.
A partir deste momento, com a autoconfiança revitalizada, converso com mulheres na minha universidade e em outras instituições e vejo o semblante se modificando à medida que aponto a possibilidade de um caminho simples para suas conquistas. A mudança está dentro de nós, porque muitas vezes nos boicotamos pela insegurança e baixa estima. Foco e autoconfiança são as palavras chave para nossa transformação.
Em conversas com alunas da pós-graduação, percebi que algumas mulheres possuem medo de se tornar apenas uma “sombra” de outros homens (talvez resultado de um ambiente de trabalho predominantemente masculino, onde de 31 professores apenas 3 são mulheres). Porém, o medo paralisa, e age no sentido contrário de ações que podem nos libertar da subordinação. Assim, quando superamos a insegurança e o medo de nos tornarmos menores que homens na ciência, nos autoafirmamos para agirmos no caminho do conhecimento que levará ao sucesso acadêmico.
O resultado dessas mudanças também é facilitado quando compreendemos que não fazemos ciência sozinhas e a colaboração é essencial. Assim, podemos transformar competição em colaboração e aceitar com mais facilidade que em nenhum passo acadêmico devemos estar sozinhas, pois precisamos lapidar o nosso trabalho. Sejam homens ou mulheres, acreditar que a ciência avança com colaboração diminui nosso ego e o peso da responsabilidade de deter um conhecimento que está constantemente sendo construído.
Links relevantes:
Obrigada pelo depoimento Deborah! Que você continue iluminando o caminho de muitas mulheres cientistas! E parabéns pelo prêmio e pela pesquisa!
ResponderExcluirGratidão pelo convite Jana! Foi e está sendo uma experência muito bonita!
ExcluirDeborah! Parabéns!!! as vezes precisamos de historias assim para saber que é possível! ... seria muito legal que a equipe realize a tradução do seu post, pois tenho muitas amigas que adorariam ler tua experiencia. Boa viagem!!
ResponderExcluirAgradecida Tulia! Estarei realizando a tradução em inglês do post, em breve estará disponível.
ExcluirDeborah, obrigada pelo excelente texto e pela disponibilidade em realizar a tradução! O BPCN agradece.
ExcluirAqui está a tradução do texto para o inglês :)
Excluirhttp://chatwithneptune.blogspot.com.br/2016/11/finding-self-confidence-as-woman-in.html
Aeee obrigada Deborah! ;)
ExcluirParabéns pelo texto, Déborah! Em pleno século XXI ainda precisamos reafirmar nosso papel na sociedade e sua experiência nos dá ânimo para a caminhada.
ResponderExcluirQue bom que se identificou Dôra! Estamos juntas no caminho para uma maior igualdade de gênero.
ExcluirLegal, Deborah! Sucesso pra você!
ResponderExcluirGrata Marcia, muito amor!
ExcluirMULHERES DA MATEMÁTICA E A QUESTÃO DE GÊNERO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA , https://www.dropbox.com/s/2n7i0pzrzjo0m9m/MULHERES%20DA%20MATEM%C3%81TICA%20E%20A%20QUEST%C3%83O%20DE%20G%C3%8ANERO%20EM%20C%26T.%20vers%C3%A3o.mar%C3%A7.16.pdf?dl=0
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