As praias podem parecer um ambiente sem vida, pois o que enxergamos facilmente é apenas a areia e o mar. Então, se prestarmos um pouco mais de atenção, lembramos dos caranguejos, dos tatuís, das bolachas da praia e nossa opinião começa a mudar. Daí vamos para um mergulho e, às vezes, mesmo estando bem no raso é possível avistar alguns peixes. A quantidade de peixe avistada é mínima se compararmos com o que é visto ao nadar perto de um recife de coral ou perto de um costão rochoso. Mesmo sem ter uma fenda na rocha, um buraco no coral ou uma raiz do manguezal para protegê-los, é possível notar alguns peixinhos “brigando” com aquele vai e vem das ondas.
E foi exatamente esse grupo de peixes que resolvi estudar durante o meu mestrado, os peixes da zona rasa de ambientes de praias. O principal objetivo do trabalho foi analisar a influência das variáveis ambientais (diferentes praias, marés, estações do ano, salinidade e temperatura) na composição e estruturação da ictiofauna (= fauna de peixes) de ambientes praiais. Para obter os dados do meu projeto, coletei, com a ajuda dos técnicos da base de pesquisa do IO-USP localizada em Cananéia (SP), os peixes de três praias situadas na Ilha Comprida e três na Ilha do Cardoso, sul do estado de São Paulo (ou seja, tive a oportunidade de viajar durante um ano para um cantinho especial, como dito no post “Internacionalizar é preciso”). Essas praias tinham diferentes graus de exposição em relação às águas do estuário (para definição de estuário clique aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estuário): duas mais voltadas para o interior do estuário, onde quase não se observavam ondas e havia influência das águas estuarinas, duas intermediárias e duas expostas, com ondas maiores e mais fortes e sem influência das águas estuarinas. Para essa coleta utilizamos uma rede chamada de “picaré”, que é arrastada manualmente por duas pessoas, uma em cada ponta.
Foto 1: Coletando com a rede “picaré” em uma praia “exposta” e em uma “abrigada” da Ilha Comprida (SP).
No total foram amostradas 57 espécies de peixes, a maioria em sua fase juvenil, com principal variação de tamanho de 0.4 a 6 cm. Foram também amostradas algumas larvas (ver post A vida "dura" de um peixe marinho bebê). Quanto mais protegida a praia, maior a quantidade de indivíduos amostrados e maior o número de espécies. Por outro lado, as praias mais expostas apresentaram alta dominância de poucas espécies, principalmente de pampos (gênero Trachinotus) e de tainhas e paratis (gênero Mugil).
Foto 2: Trachinotus carolinus (Pampo) do lado esquerdo e Mugil curema (Parati) do lado direito. As fotos superiores mostram os peixes jovens, enquanto as fotos inferiores mostram os indivíduos adultos (fonte das fotos inferiores: www. fishbase.org).
Foto 3. Menticirrhus littoralis, exemplo de uma espécie que utilizou a área estudada para o crescimento (até mesmo o maior indivíduo da foto ainda era jovem).
Outro fato interessante é que a maior quantidade de peixe e a maior diversidade é obtida durante o verão, estação na qual também ocorrem os maiores impactos nas praias por causa do turismo, como o aumento de lixo!
Se interessou pelo assunto? Minha dissertação pode ser obtida no seguinte link:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/21/21131/tde-27072011-151520/en.php
Boa praia a todos!
Parabéns pelo post!
ResponderExcluirObrigada Carol
ExcluirMais um post legal Jana! Parabéns!!!
ResponderExcluirObrigada Mari!
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