No final de setembro de 2015 cientistas da NASA anunciaram a confirmação da existência de água salgada em Marte, o “Planeta Vermelho” (http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/09/cientista-da-usp-explica-descoberta-da-nasa-de-agua-salgada-em-marte.html). A notícia causou um certo alvoroço por causa da possibilidade de encontrarem vida por lá.
Landscape do misterioso planeta vermelho, no filme Perdido em Marte. (Fonte: http://www.empireonline.com/features/martian-trailer-breakdown) |
Sabemos que a vida depende de água: ela é o maior constituinte dos fluidos dos seres vivos (o corpo humano é constituído em média por 60% de água), é necessária para a realização da fotossíntese e é indispensável para diversas outras funções vitais. Entretanto, a frase recém dita esquece de citar um importantíssimo detalhe: a vida COMO NÓS CONHECEMOS depende de água!
Fonte: http://www.beatricebiologist.com |
Na hora lembrei-me de uma charge, feita em data bem anterior à descoberta de água em Marte. Na charge há dois vermes tubícolas gigantes conversando e um pergunta: “você acha que existe vida na superfície do oceano?”, e o outro responde: “Não! Não tem fonte hidrotermal lá em cima, o que eles usariam como energia?”.
Cheguei até a postar essa charge na minha página pessoal do Facebook, mas depois refleti: quantos dos meus amigos sabem o que são vermes tubícolas gigantes? E o que são fontes hidrotermais?
Bem, vermes tubícolas são animais invertebrados pertencentes ao filo Annelida (sim, o mesmo das minhocas) e da classe Polychaeta (vermes aquáticos), porém eles são sésseis, fixados em uma superfície subaquática. Eles possuem em torno de seu corpo um tubo, no qual podem guardar todo o corpo. As da charge são da espécie Riftia pachyptila, vermes tubícolas gigantes, que podem atingir um comprimento de 2,4 m em um tubo com 4 cm de diâmetro e vivem em grandes profundidades oceânicas (mais informações em: https://en.wikipedia.org/wiki/Giant_tube_worm).
Foto de uma concentração de Riftia pachyptila (tubos brancos com as plumas avermelhadas). Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Giant_tube_worm#/media/File:Riftia_tube_worm_colony_Galapagos_2011.jpg
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Já a fonte hidrotermal submarina é uma fissura na crosta terrestre a partir da qual emerge um fluido hidrotermal: a água que penetra na crosta em altas profundidades reage com os minerais presentes, sofrendo alterações físico-químicas no caminho. Junto dessas fontes parece haver um oásis de vida, graças à quimiossíntese, um processo no qual os microrganismos utilizam a energia química para produzir matéria orgânica, a partir do dióxido de carbono (Mais informações sobre as fontes hidrotermais em: . http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=47910&op=all).
Fonte:http://oceanexplorer.noaa.gov/explorations/05lostcity/background/chem/media/sully2.html |
Antes da descoberta das fontes hidrotermais submarinas na década de 70, a comunidade científica assumia que toda a vida no oceano dependia da produção fotossintética, produzida principalmente pelo fitoplâncton. Como a fotossíntese depende da luz solar, era como afirmar que toda a vida nos oceanos dependia unicamente do sol! Então, as fontes hidrotermais submarinas e a quantidade de organismos que vivem ao redor dela provaram o contrário.
E é esse o ponto que quero chegar com esse post, conhecemos tão pouco do oceano quanto conhecemos do espaço! Segundo a pesquisadora Lúcia Campos, conhecemos pouco mais de 1% dos oceanos e eles cobrem 80% do nosso planeta, sendo que a maior parte dos oceanos tem apenas 3 km de profundidade (http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/cientista-brasileira-conhecemos-pouco-mais-de-1-dos-oceanos,58d9a38790aea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html). Já Marte está a aproximadamente 60 milhões de quilômetros de distância da Terra! Não que estudar o que ocorre no espaço não tenha sua devida importância, mas gostaria que a quantidade de verba investida em estudos espaciais e a devida atenção na mídia fosse dada também aos oceanos, ainda tão desconhecidos e tão mais presentes em nossas vidas.
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