Por: Lilian Pavani
Quem faz (ou já fez) pesquisa científica sabe como é difícil explicar o que faz, uma vez que o seu trabalho não é um estágio ou emprego, você é bolsista de iniciação científica, mestrado ou doutorado, o que te coloca basicamente na posição de estudante. Quem nunca ouviu a frase “você trabalha ou só estuda?”. Ao contrário do senso comum, sim, você trabalha e muito!!
Engana-se quem pensa que trabalhar com pesquisa é moleza. Pesquisar vai muito além de ler artigos e livros, e envolve essencialmente a construção de conhecimento novo. Nesse ardoroso caminho, todo cientista é forçado a aprender muita coisa que é valorizada no “mundo real”.
Quando eu fazia pesquisa não tinha muita noção de todas as coisas que tinha aprendido, mas quando comecei a trabalhar no mundo empresarial percebi quantas habilidades eu possuía graças à minha iniciação científica e mestrado, ambos em ecologia marinha. Mas independentemente do assunto que você pesquisa, com certeza você concorda com o seguinte:
1. Você sabe usar Word e Excel
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Você pode precisar de uma série de softwares complicados para analisar algo específico do seu trabalho, mas jamais vai dispensar uma tabela de dados ou um gráfico feito no Excel, transformando de pizza para barras e trocando cores de séries de dados até achar o modelo que melhor representa seus resultados. E esteja você pleiteando uma bolsa, apresentando resultados ou formatando uma tese, com o perdão do trocadilho, você tira o Word de letra. Você insere tabelas, imagens e referências sem perder de vista a formatação de parágrafos, margens e rodapés.
2. Você sabe fazer belas apresentações em PowerPoint
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Quem nunca fez um pôster para apresentar em um congresso? E apresentações para uma disciplina da pós ou para sua banca examinadora? Com certeza você desenvolveu um bom senso estético e sabe como escolher a melhor cor de fundo, a melhor fonte, sabe distribuir os elementos do seu slide de forma simétrica e sabe que uma imagem vale mais que mil palavras, apresentando de forma maestral todas as informações importantes adequadas ao tempo disponível, seja 5, 20 ou 50 minutos.
3. Gerenciamento de projetos é algo natural
Provavelmente, tudo começou com uma pergunta que você gostaria de responder, uma necessidade que você identificou – etapa de Iniciação. Para responder a essa sua pergunta você precisou escrever um projeto de pesquisa, então teve que levantar informações, definir as atividades necessárias ao seu estudo, estimar os recursos necessários e prazos - etapa de Planejamento.
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Com sua bolsa aprovada, você desenvolveu as atividades pré-definidas - etapa de Execução – e enquanto o seu projeto estava sendo desenvolvido, de tempos em tempos algumas atividades e processos foram revistos, buscando um ajuste e melhorias - etapa de Monitoramento e Controle. Ao final das atividades você apresentou seus resultados em um relatório final e talvez até um artigo, que passou por rigorosa avaliação do seu orientador e outros pares (praticamente uma auditoria) - etapa de Finalização. Pronto, você pode nunca ter ouvido falar em PMBOK ou MS Project, mas sabe tudo de gerenciamento de projetos!
4. Qualidade é obrigação
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Os níveis de exigência na área acadêmica chegam a ser estratosféricos. Já vi gente sendo desligada da pós graduação porque suas notas não atingiam o desejado pelo programa, o qual tem uma reputação a zelar junto à CAPES e agências financiadoras. Da mesma forma, se seu resumo não estiver satisfatório você não pode apresentar seu trabalho em um congresso e se seu artigo não estiver bem estruturado não será publicado em nenhum periódico. Os pares avaliam tudo e varrem o seu trabalho em busca de um deslize, portanto, fazer bem feito sempre é a ordem.
5. Você se transforma em uma pessoa criteriosa
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Em vista da obrigação da qualidade, quanto mais criterioso você for no desenvolvimento do seu trabalho, maior a chance de que ele seja bem feito. Sem perceber você acaba adquirindo esse hábito.
6. Argumentar é mais que necessário
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Tanto para discutir seus resultados quanto para solicitar financiamento ou convencer seu orientador, você precisa saber embasar, defender e provar seus pontos de vista.
7. Você aprende a lidar com pessoas
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Durante a sua pesquisa você precisa lidar com pessoas diferentes em diversos níveis hierárquicos o tempo todo. No mínimo você tem um orientador, quando não há também co-orientadores. Se você está no mestrado ou doutorado, você terá colaboradores, os alunos de iniciação científica. E sempre haverá a necessidade de se relacionar com outros membros do departamento onde você trabalha, principalmente outros professores. Quem conhece minimamente a área acadêmica sabe que costuma haver uma guerra de egos, e você estará sob o fogo cruzado, fazendo o possível para manter as coisas caminhando sem prejudicar o andamento da sua pesquisa.
8. Você entende que prazos são importantes e os cumpre
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Se você possui uma bolsa, você estará sempre atento aos prazos de relatórios de acompanhamento, aos prazos de prestação de contas e liberação de verbas. Se você ainda não tem, você está acompanhando os prazos do programa, bem como os editais para saber quando submeter uma proposta. E se você quer apresentar seu trabalho em um congresso, você tem prazo para envio de resumos (em alguns casos os organizadores podem estender o prazo, mas em geral as pessoas aproveitam a extensão de prazo para revisar).
9. Gerenciamento financeiro faz parte
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Em geral as bolsas de pós-graduação e algumas de iniciação científica possuem uma reserva técnica, uma verba extra que não remunera o pesquisador, mas serve para a aquisição de equipamentos, livros, realização de saídas de campo, enfim, atividades necessárias ao desenvolvimento da sua pesquisa. Essa verba não é um valor alto e você aprende a gerenciar os recursos financeiros buscando o melhor custo-benefício. Em alguns casos, você aprende até a gerenciar verbas de projetos diferentes para a compra de materiais comuns a todos os envolvidos no laboratório.
10. Você sabe que o seu sucesso depende inteiramente de você
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O ambiente acadêmico acaba sendo muito hostil, exigindo muita dedicação. Por isso, em geral as pessoas buscam se qualificar o máximo possível e estão sempre em busca do aperfeiçoamento.
Portanto, se você tem a intenção de deixar a carreira acadêmica e seguir outra carreira, valorize-se! Você tem muito a oferecer! ;)
Bióloga, mestre em ecologia e especialista em engenharia ambiental pela Universidade Estadual de Campinas, amante de esponjas e outros invertebrados marinhos, principalmente os coloridos. Após navegar entre esponjas, algas, anfípodes e petróleo, as correntes e ventos a levaram literalmente a outras estradas, onde atuou no estudo de fauna atropelada, supervisão e gerenciamento ambiental de obras de rodovias. Nutre interesses muito diversos como educação, inovação e cozinha, toca flauta doce em um grupo amador de música antiga, escreve pensamentos e observa pássaros. Enfim, vive com os pés na areia e meio que assim, entre marés.
Lilian Pavani é também autora de outros posts em nosso blog. Clique aqui e leia mais.
Sensacional! Depois que me dei conta de algumas destas habilidades, muitas oportunidades apareceram! Recomendo explorá-las!
ResponderExcluirAdorei o texto, falaria ainda que aprendemos a lidar constantemente com o stress e frustrações, como aquele experimento que não deu certo, ou aquela coleta que precisava daquele organismo que não foi amostrado... Nessa hora temos que saber usar o jogo de cintura, respirar fundo, e lidar com esses desafios que a pesquisa nos impõe e correr pra fazer de novo ou eleborar um plano B ;)
ResponderExcluirBela reflexão! Gestão de projetos é uma qualidade muito importante que deve ser explorada sempre que pleitear um novo cargo na academia ou fora dela.
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