Duas coisas que parecem não combinar muito, ou nada na verdade, doutorado e gravidez. Engana-se redondamente quem pensa assim…
Defendi meu doutorado com uma barrigona de 34 semanas e foi simplesmente maravilhoso!!! Não porque a banca pegou leve na arguição, até mesmo porque de leve não teve nada! Foram cinco horas de ‘sabatina’ e discussões, por vezes até acaloradas. Mas sim, porque a gravidez me trouxe a serenidade necessária para concluir o doutorado com êxito, mas sem arrancar os cabelos e com as unhas intactas. Mas deixa eu voltar um pouquinho...
Fazia um tempo que eu e meu marido queríamos ter um filho. Já estávamos casados há alguns anos, mas sempre adiávamos por causa do trabalho e pós-graduação. Estava no último ano do doutorado na USP, em Oceanografia Biológica, quando decidimos não esperar mais. Adiantei toda a parte de laboratório, pra ficar o mais longe o possível de formol e outros produtos químicos e, com os dados em mãos, começamos as tentativas, achando que demoraria pelo menos uns seis meses. Que nada... um mês depois, em setembro de 2012, estava gravidíssima e o primeiro sintoma já veio com tudo, sono, MUITO sono. Mas era um sono assim INCONTROLÁVEL, que vinha a qualquer hora do dia e eu era OBRIGADA a desmaiar na cama. Aí me desesperei... pensei em trancar o doutorado para terminá-lo depois que o Bernardo (até então sem nome e sem sexo) nascesse. Pedi conselho para vários professores e todos me disseram: ‘termina antes, depois é muito mais complicado’. Ainda bem que dei ouvido a esses sábios cientistas.
Depois dos três primeiros meses tudo mudou, o sono passou e conseguia trabalhar horas a fio em casa, no meu computador, trocando mensagens com meu orientador por e-mail e Skype, visto que já não morávamos mais em São Paulo, tínhamos voltado pra nossa terra, Florianópolis. Em fevereiro de 2013 a tese estava pronta, fui para São Paulo para imprimí-la e depositar as cópias e enquanto meus amigos comemoravam com muita cerveja eu brindava com meu singelo e adocicado suco de fruta.
Voltei para Floripa com o dever cumprido. Um mês e meio depois o Bernardo nasceu, de parto normal, em casa, à luz de velas, com sonzinho rolando, dentro de uma piscina plástica com meu marido ao nosso lado e minha irmã como enfermeira obstetra chefe da equipe de parto domiciliar (Hanami www.equipehanami.com.br). Já nas primeiras semanas tive a constatação de que teria sido loucura ou, no mínimo, muito mais complicado, deixar para terminar o doutorado com o Bernardo demandando todo o meu tempo. Era um ciclo contínuo de aproximadamente duas horas que incluía dar de mamar, colocar para arrotar, trocar a fralda, interagir e dormir; dar de mamar, colocar para arrotar, trocar a fralda, interagir e dormir e assim sucessivamente.
Mas a veia científica e as horas que passei com meu grande amigo computador não me deixavam abandoná-lo assim, tão subitamente. Me dediquei a uma última apresentação no power point, contendo 25 slides e 70 fotos, tudo bem formatado e explicado, na qual relatei aos meus grandes amigos de São Paulo tudo o que vivenciei durante a gravidez, trabalho de parto e duas primeiras semanas de existência do Bernardo. Merecia um prêmio de melhor apresentação rsrs.
Meu conselho às futuras mães cientistas: não adiem a gravidez, se o corpo e a mente pedem é porque está na hora e, se está na hora, a gente dá um jeito.
Sobre Andréa:
Fez graduação em Ciências Biológicas pela UFSC, mestrado e doutorado em Oceanografia Biológica pela USP, sempre trabalhando com ecologia de larvas de crustáceos decápodes. Se você quer saber mais sobre sua vida profissional acesse seu currículo lattes.
Lindo depoimento Dea! Inspirador para as medrosas como eu ;)
ResponderExcluirAssunto interessante, abordado com muita delicadeza.
ResponderExcluirParabéns pela organização para conciliar tudo e pela serenidade no momento da defesa.
Tomei a liberdade de compartilhar o teu texto na página do Facebook do PPG do qual faço parte, Educação em Ciências da UFRGS, para inspirar as minhas colegas pós-graduandas.
Gratidão! =)
Parabéns Deia! Que depoimento emocionante e inspirador. Com certeza o Bernardo hoje sente muito orgulho da mãe batalhadora que tem!
ResponderExcluirOi, Dea, adorei tua história....que força vc tem!...beijão
ResponderExcluirIsa
Depoimento muito bacana sobre um tema delicado! Certamente acalmou o coração de muitas mães e até mesmo pais. Gostaria também de achar uma boa defesa de quem resolveu não só adiar, mas optou por não ter essa experiência e é constantemente cobrado por sua escolha. Pelo direito de ter suas escolhas e formar suas famílias e carreiras como lhe for conveniente! Sara.
ResponderExcluirQuerida Sara, esse seu comentário é muito pertinente e já foi tema de discussão, informalmente, entre algumas de nós aqui do blog. Esse tema relacionado à liberdade de escolhas e pressões associadas à essas escolhas é super relevante e será abordado sim, o mais breve possível. Obrigada pela contribuição. Catarina
ExcluirObrigada pelos maravilhosos comentários!!! Com carinho, Déa (Andréa Green)
ResponderExcluirmuito lindo!
ResponderExcluirComo testemunha ocular, " acima de qualquer suspeita", penso que a tranquilidade a segurança e incrível facilidade em concentrar-se, mesmo sendo interrompida em eu trabalho, garantiram à Déa, não só tornar-se uma promissora e competente cientista, mas além de tudo, uma maravilhosa mãe ! com muito amor e orgulho.... Ana Elba
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa, Andréia. Eu tive meu primeiro filho no mestrado e realmente não aconselho...motivo? Fui fazer o doutorado seguidamente e está sendo um Deus nos acuda. Estou no último ano, o Danilo vai fazer 4 anos agora e eu estou muito, mas muito cansada mesmo!
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